Comunidade Pentecostal Cristo para as Nações

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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013






GRANDE CAMPANHA DO FORTALECIMENTO
1RS.19.13-35

QUARTA FEIRA
PREPARAÇÃO 27/02/2013
1º ELO DIA 06 DE MARÇO DE 2013
TERMINO 17 DE ABRIL DE 2013
IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA
CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO
RUA JOÃO GOMES CARDOSO NR 83 BAIRRO ELDORADO CONTAGEM MG
FONES (031)- 3395.2392 / 8617.8267

O CORREDOR DOS MILAGRES COM O TAPETE DE FOGO, IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO


O CORREDOR DOS MILAGRES COM O TAPETE DE FOGO, IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA, CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO, CAMPANHA DE DOMINGO.



VOCÊ NÃO PODE PERDER A ABENÇOADA CAMPANHA
" O CORREDOR DOS MILAGRES COM O TAPETE DE FOGO" EM
ANDANDO COM JESUS .LC.24.13-35
COMEÇA NO DIA 03 DE MARÇO PREPARAÇÃO E TERMINA EM 28 DE ABRIL DE 2013
NA VARÕES DE GUERRA
CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO
SITUADA NA RUA JOÃO GOMES CARDOSO NR 83 BAIRRO ELDORADO CONTAGEM MG
CONTATOS.-(031)-3395.2392 / 8617.8267
PASTOR LOCAL CELSO SOARES NETO.

O CORREDOR DOS MILAGRES COM O TAPETE DE FOGO, IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO


O CORREDOR DOS MILAGRES COM O TAPETE DE FOGO, IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO


O CORREDOR DOS MILAGRES COM O TAPETE DE FOGO, IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

PERÍODO INTERBLICO l-ll, IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA, CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO




PERÍODO INTERBLICO l-ll

Dedicatória:

            A todos aqueles que são “nascidos de novo” (João 3), para que possam estar firmes na Palavra, conhecendo as profecias, crendo nelas, observando os sinais dos tempos, para que não sejam “confundidos por Ele na Sua vinda” (1 Jo 2:28), “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (1 Pe 2:12). Sabendo, principalmente, que: “... ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará” (Hb 10:37).
            Aos ainda não salvos, com a esperança de que se arrependam e creiam, o quanto antes (Lucas 12:20), no Senhor Jesus Cristo, ÚNICO caminho que leva ao Pai (João 14:6), sabendo que “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12).
             E, principalmente:

“... ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém”.
(1Tm 1:17)


SOBRE O AUTOR

Pastor Celso Soares Neto, filho de Pedro Maria Filho e Zilda Maria de Jesus, nascido em 15/01/1967, na cidade de Dores do Indaiá/MG a Avenida da Saudade 181 (conhecida com Beco do Cemitério),  onde vivi com meus pais e 14 (quatorze) irmãos, todos filhos de um mesmo casamento. Criado com muito amor e disciplina, também com grandes dificuldades financeiras.
Minha mãe padecia de diversas enfermidades, sendo assim fui praticamente criado por minhas duas irmãs Márcia e Aparecida.
Vim para Belo Horizonte aos 17(dezessete) anos para trabalhar no Banco Mercantil do Brasil, onde trabalhei por 11 (onze) anos, fui criado nesta época por minha irmã Branca e seu esposo Amadeu no qual foram meus segundo pais, de onde sai para casar em 1990.
Já casado passamos 06 (seis) anos sem Jesus em nosso casamento, mas faço menção ao meu cunhado Gerson Lopes Cançado, (in memoriam) esposo da minha irmã Maria José, que muito me falava sobre Jesus, dando-me um Novo Testamento cumprindo assim em minha vida a palavra do Senhor que a semente (palavra) lançada não voltará vazia, também a minha amada sogra Maria das Mercês de Souza (in memoriam) que tanto orou por mim e minha esposa.
Casamo-nos na Igreja Batista do Barreiro, casamento celebrado pelo Pastor Carlos (conhecido como Carlão).
No tempo determinado por Deus, aceitei Jesus na Igreja Pentecostal Jesus é Amor, liderada pela Missionária Nilza, minha mãe na fé. Fui muito auxiliado,  por minha cunhada Mercês Maria, que aliás tem me ajudado espiritualmente até nos dias de hoje. Ao aceitar Jesus fui  chamado para fazer parte do quadro de ceifeiros de sua obra, onde fui pastor por 04 (quatro) anos no Bairro Sol Nascente em Ibirité/MG.
Sendo direcionado pelo Senhor vim para Igreja Pentecostal Varões de Guerra, Congregação João Gomes Cardoso, onde permaneço até esta data, sendo pastor dirigente. Fui recebido pelo pastor presidente Ralph A. Assé, que me confiou a liderança desta igreja.



PERÍODO INTERBÓBLICO l

I. Desenvolvimento Político

A Expressão “400 anos de silêncio”, frequentemente empregada para escrever o período entre os últimos eventos do A.T. e o começo dos acontecimentos do N.T. não é correta nem apropriada. Embora nenhum profeta inspirado se tivesse erguido em Israel durante aquele período, e o A.T. já estivesse completo aos olhos dos judeus, certos acontecimentos ocorreram que deram ao judaísmo posterior sua ideologia própria e, providencialmente, prepararam o caminho para a vinda de Cristo e a proclamação do Seu evangelho.

Supremacia Persa

Por cerca de um século depois da época de Neemias, o império Persa exerceu controle sobre a Judéia. O período foi relativamente tranquilo, pois os persas permitiam aos judeus o livre exercício de suas instituições religiosas. A Judéia era dirigida pelo sumo sacerdotes, que prestavam contas ao governo persa, fato que, ao mesmo tempo, permitiu aos judeus uma boa medida de autonomia e rebaixou o sacerdócio a uma função política. Inveja, intriga e até mesmo assassinato tiveram seu papel nas disputas pela honra de ocupar o sumo sacerdócio. Joanã, filho de Joiada (Ne 12.22), é conhecido por ter assassinado o próprio irmão, Josué, no recinto do templo.

A Pérsia e o Egito envolveram-se em constantes conflitos durante este período, e a Judéia, situada entre os dois impérios não podiam escapar ao envolvimento. Durante o reino de Artaxerxes III muitos judeus engajaram-se numa rebelião contra a Pérsia, e foram deportados para Babilônia e para as margens do mar Cáspio.

Alexandre, o Grande.

Em seguida à derrota dos exércitos persas na Ásia Menor (333 AC), Alexandre marchou para a Síria e Palestina. Depois de ferrenha resistência, Tiro foi conquistada e Alexandre deslocou-se pra o sul, em direção ao Egito. Diz à lenda que quando Alexandre se aproximava de Jerusalém o sumo sacerdote Jadua foi ao seu encontro e lhe mostrou as profecias de Daniel, segundo as quais o exército grego seria vitorioso (Dn 8). Essa narrativa não é levada a sério pelos historiadores, mas é fato que Alexandre tratou singularmente bem aos judeus. Ele lhes permitiu observarem suas leis, isentou-os de impostos durante os anos sabáticos e, quando construiu Alexandria no Egito (331 AC), estimulou os judeus a se estabelecerem ali e deu-lhes privilégios comparáveis aos seus súditos gregos.

A Judéia sob os Ptolomeus

Depois da morte de Alexandre (323 AC), a Judéia, ficou sujeita, por algum tempo a Antígono, um dos generais de Alexandre que controlava parte da Ásia Menor. Subsequentemente, caiu sob o controle de outro general, Ptolomeu I (que havia então dominado o Egito), cognominado Soter, o Libertador, o qual capturou Jerusalém num dia de sábado em 320 AC Ptolomeu foi bondoso para com os judeus. Muitos deles se radicaram em Alexandria, que continuou a ser um importante centro da cultura e pensamento judaicos por vários séculos. No governo de Ptolomeu II (Filadelfo) os judeus de Alexandria começaram a traduzir a sua Lei, i.e., o Pentateuco, para o grego. Esta tradução seria posteriormente conhecida como a Septuaginta, a partir da lenda de que seus setenta (mais exatamente 72 - seis de cada tribo) tradutores foram sobrenaturalmente inspirados para produzir uma tradução infalível. Nos subsequentes todo o Antigo Testamento foi incluído na Septuaginta.

A Judéia sob os Selêucidas

Depois de aproximadamente um século de vida dos judeus sob o domínio dos
Ptolomeus, Antíoco III (o Grande) da Síria conquistou a Síria e a Palestina aos Ptomeus do Egito (198 AC). Os governantes sírios eram chamados selêucidas porque seu reino, construído sobre os escombros do império de Alexandre, fora fundado por Seleuco I (Nicator).

Durante os primeiros anos de domínio sírio, os selêucidas permitiram que o sumo sacerdote continuasse a governar os judeus de acordo com suas leis. Todavia, surgiram conflitos entre o partido helenista e os judeus ortodoxo. Antíoco IV (Epifânio) aliou-se ao partido helenista e indicou para o sacerdócio um homem que mudara seu nome de Josué para Jasom e que estimulava o culto a Hércules de Tiro. Jasom, todavia, foi substituído depois de dois anos por um rebelde chamado Menaém (cujo nome grego era Menelau). Quando partidários de Jasom entraram em luta com os de Menelau, Antíoco marchou contra Jerusalém, saqueou o templo e matou muitos judeus (170 AC). As liberdades civis e religiosas foram suspensas, os sacrifícios diários forma proibidos e um altar a Júpiter foi erigido sobre o altar do holocausto. Cópias das Escrituras foram queimadas e os judeus foram forçados a comer carne de porco, o que era proibido pela Lei. Uma porca foi oferecida sobre ao altar do holocausto para ofender ainda mais a consciência religiosa dos judeus.

Os Macabeus

Não demorou muito para que os judeus oprimidos encontrassem um líder para sua causa. Quando os emissários de Antíoco chegaram à vila de Modina, cerca de 24 quilômetros a oeste de Jerusalém, esperavam que o velho sacerdote, Matatias, desse bom exemplo perante o seu povo, oferecendo um sacrifício pagão. Ele, porém, além de recusar-se a fazê-lo, matou um judeu apóstata junto ao altar e o oficial sírio que presidia a cerimonia. Matatias fugiu para a região montanhosa da Judéia e, com a ajuda de seus filhos, empreendeu uma luta de guerrilhas contra os sírios. Embora o velho sacerdote não tenha vivido para ver seu povo liberto do jugo sírio, deixou a seus filhos o término da tarefa. Judas, cognominado “o Macabeu”, assumiu a liderança depois da morte do pai. Por volta de 164 AC Judas havia reconquistado Jerusalém, purificado o templo e reinstituído os sacrifícios diários. Pouco depois das vitórias de Judas, Antíoco morreu na Pérsia. Entretanto, as lutas entre os Macabeus e os reis selêucidas continuaram por quase vinte anos.

Aristóbulo I foi o primeiro dos governantes Macabeus a assumir o título de “Rei dos Judeus”. Depois de um breve reinado, foi substituído pelo tirânico Alexandre Janeu, que, por sua vez, deixou o reino para sua mãe, Alexandra. O reinado de Alexandra foi relativamente pacífico. Com a sua morte, um filho mais novo, Aristóbulo II, desapossou seu irmão mais velho. A essa altura, Antípater, governador da Iduméia, assumiu o partido de Hircano, e surgiu a ameaça de guerra civil. Consequentemente, Roma entrou em cena e Pompeu marchou sobre a Judéia com as suas legiões, buscando um acerto entre as partes e o melhor interesse de Roma. Aristóbulo II tentou defender Jerusalém do ataque de Pompeu, mas os romanos tomaram a cidade e penetraram até o Santo dos Santos. Pompeu, todavia, não tocou nos tesouros do templo.

Roma

Marco Antônio apoiou a causa de Hircano. Depois do assassinato de Júlio Cesar e da morte de Antípater (pai de Herodes), que por vinte anos fora o verdadeiro governante da Judéia, Antígono, o segundo filho de Aristóbulo, tentou apossar-se do trono. Por algum tempo chegou a reina em Jerusalém, mas Herodes, filho de Antípater, regressou de Roma e tornou-se rei dos judeus com apoio de Roma. Seu casamento com Mariamne, neta de Hircano, ofereceu um elo com os governantes Macabeus.

Herodes foi um dos mais cruéis governantes de todos os tempos. Assassinou o venerável Hircano (31 AC) e mandou matar sua própria esposa Mariamne e seus dois filhos. No seu leito de morte, ordenou a execução de Antípater, seu filho com outra esposa. Nas Escrituras, Herodes é conhecido como o rei que ordenou a morte dos meninos em Belém por temer o Rival que nascera para ser Rei dos Judeus.

II. Grupos Religiosos dos Judeus

Quando, seguindo-se à conquista de Alexandre, o helenismo mudou a mentalidade do Oriente Médio, alguns judeus se apegaram ainda mais tenazmente do que antes à fé de seus pais, ao passo que outros se dispuseram a adaptar seu pensamento às novas ideias que emanavam da Grécia. Por fim, o choque entre o helenismo e o judaísmo deu origem a diversas seitas judaicas.

Os Fariseus

Os fariseus eram os descendentes espirituais dos judeus piedosos que haviam lutado contra os helenistas no tempo dos Macabeus. O nome fariseu, “separatista”, foi provavelmente dado a eles por seus inimigos, para indicar que eram não conformistas. Pode, todavia, ter sido usado com escárnio porque sua severidade os separava de seus compatriotas judeus, tanto quanto de seus vizinhos pagãos. A lealdade à verdade às vezes produz orgulho e ate mesmo hipocrisia, e foram essas perversões do antigo ideal farisaico que Jesus denunciou. Paulo se considerava um membro deste grupo ortodoxo do judaísmo de sua época. (Fp 3.5).

Saduceus

O partido dos saduceus, provavelmente denominado assim por causa de Zadoque, o sumo sacerdote escolhido por Salomão (1Rs 2.35), negava autoridade à tradição e olhava com suspeita para qualquer revelação posterior à Lei de Moisés. Eles negavam a doutrina da ressurreição, e não criam na existência de anjos ou espíritos (At 23.3). Eram, em sua maioria, gente de posses e posição, e cooperavam de bom grado com os helenistas da época. Ao tempo do N.T. controlavam o sacerdócio e o ritual do templo. A sinagoga, por outro lado, era a cidadela dos fariseus.

Essênios

O essenismo foi uma reação ascética ao externalismo dos fariseus e ao mundanismo dos saduceus. Os essênios se retiravam da sociedade e viviam em ascetismo e celibato. Davam atenção à leitura e estudo das Escrituras, à oração e às lavagens cerimoniais. Suas posses eram comuns e eram conhecidos por sua laboriosidade e piedade. Tanto a guerra quanto a escravidão era contrárias a seus princípios. O mosteiro em Qumran, próximo às cavernas em que os Manuscrito do Mar Morto foram encontrados, é considerado por muitos estudiosos como um centro essênio de estudo no deserto da Judéia. Os rolos indicam que os membros da comunidade haviam, abandonado as influências corruptas das cidades judaicas para prepararem, no deserto, “o caminho do Senhor”. Tinham fé no Messias que viria e consideravam-se o verdadeiro Israel para quem Ele viria.

Escribas

Os escribas não eram, estritamente falando, uma seita, mas sim, membros de uma profissão. Eram, em primeiro lugar, copista da Lei. Vieram a ser considerados autoridades quanto às Escrituras, e por isso exerciam uma função de ensino. Sua linha de pensamento era semelhante à dos fariseus, com os quais aparecem frequentemente associados no N.T.

Herodianos

Os herodianos criam que os melhores interesses do judaísmo estavam na cooperação com os romanos. Seu nome foi tirado de Herodes, o Grande, que procurou romanizar a Palestina em sua época. Os herodianos eram mais um partido político que uma seita religiosa. A opressão política romana, simbolizada por Herodes, e as reações religiosas expressas nas reações sectárias dentro do judaísmo pré-cristão forneceram o referencial histórico no qual Jesus veio ao mundo. Frustrações e conflitos prepararam Israel para o advento do Messias de Deus, que veio na “plenitude do tempo” (Gl 4.4)



PERÍODO INTERBÍBLICO ll


INTRODUÇÃO

O escopo da disciplina Novo Testamento I abrangerá o estudo panorâmico dos Evangelhos e do livro de Atos, com enfoque nos aspectos histórico, literário e teológico. A contextualização histórica é de fundamental importância no estudo das Sagradas Escrituras. Tal preocupação se apresenta com frequência nas páginas bíblicas. Tomemos como exemplos os escritos proféticos, onde se nota constantemente a citação dos nomes dos reis, o ano do seu reinado, o local onde o profeta se encontrava e outros dados contextuais (Jr.1.1-3). Tais informações situam a vida do profeta e sua mensagem em um cenário real e historicamente conhecido. Da mesma forma, é mister que tenhamos o conhecimento do contexto histórico que emoldura os fatos narrados nos Evangelhos e em Atos. A localização histórica das origens cristãs evidencia seu caráter factual, o que não é possível demonstrar em relação a diversas religiões, cujas raízes estão amparadas em lendas, sonhos e visões.


Iniciaremos nossa contextualização pelo chamado "Período Interbíblico", a fim de traçarmos a ligação histórica entre o Velho e o Novo Testamento. Tal exame também possibilitará melhor compreensão dos fatores que construíram o cenário político, social e religioso encontrado por Cristo na Palestina. Ao lermos o Novo Testamento, deparamos com muitos problemas cujos motivos se encontram no período interbíblico.

O PERÍODO INTERBÍBLICO

Esse período teve a duração de aproximadamente 450 anos. Normalmente se faz referência a esse tempo como uma época em que Deus esteve em silêncio para com o seu povo. Nenhum profeta de Deus se manifestou ou, pelo menos, nenhum deixou escrito que tenham sido considerados canônicos.

Vamos examinar a situação da Palestina durante esse período, principalmente no que se refere aos impérios, governos, as relações de Israel com os povos vizinhos e as implicações religiosas e sociais destes elementos.

O IMPÉRIO PERSA - FINAL DO V.T.

O Velho Testamento termina com as palavras de Malaquias, o qual profetizou entre 450 e 425 a.C.. Nesse tempo, a Palestina estava sob o domínio do Império Persa, o qual se estendeu até o ano 331 a.C.. Embora o rei Ciro tenha autorizado os judeus a retornarem do exílio, o domínio Persa continuava sobre eles. De volta à Palestina, o povo judeu passou a ter um governo local exercido pelos sumo sacerdotes, embora não houvesse independência política. Eram comuns as disputas pelo poder.

O IMPÉRIO GREGO - 335 a 323 a.C.

Paralelamente ao Império Persa, crescia o poder de um rei macedônico, Felipe, o qual empreendeu diversas conquistas na Ásia menor e ilhas do mar Egeu, anexando a Grécia ao seu domínio. Desejando expandir seu território, entrou em confronto com a Pérsia, o que lhe custou a vida. Foi sucedido por seu filho, Alexandre Magno, que também ficou conhecido como Alexandre, o Grande, o qual havia estudado com Aristóteles. A mitologia grega, com seus deuses e heróis parece ter inspirado o novo conquistador. Alexandre tinha 20 anos quando começou a governar. Seu ímpeto imperialista lhe levou a conquistar a Síria, a Palestina (332 a.C.) e o Egito. Notemos então que o território israelense passou do domínio persa para o domínio grego.

 No Egito, Alexandre construiu uma cidade em sua própria homenagem, dando-lhe o nome de Alexandria, a qual se encontrava em local estratégico para o comércio entre o Mediterrâneo, a Índia e o extremo Oriente. Essa cidade se tornou também importante centro cultural, substituindo assim as cidades gregas. Entre suas construções destacaram-se o farol e a biblioteca.

Em 331, Alexandre se dedicou a libertar algumas cidades gregas do domínio da Pérsia. Seu sucesso militar foi tão grande que se considerou capaz de enfrentar a própria capital do império. E assim conquistou a Pérsia. Contudo, nessa batalha, que ficou conhecida como Arbela ou Gaugamela, as tropas gregas tiveram de enfrentar um exército de elefantes, os quais foram usados pelo rei da Pérsia. Alexandre venceu o combate, mas os elefantes foram motivo de grande desgaste para seus soldados. Alexandre se denominou então "Rei da Ásia" e passou a exigir para si o culto dos seus subordinados, de conformidade com as práticas babilônicas.

 Em 327 a.C., em suas batalhas de conquista rumo ao Oriente, Alexandre encontra outro exército de elefantes, o que fez com que seus soldados se amotinassem, recusando-se a prosseguir. Terminaram-se assim as conquistas de Alexandre Magno. Em 323 a.C., foi acometido pela malária, a qual lhe encontrou com o organismo debilitado pela bebida .Não resistiu à doença e morreu naquele mesmo ano. Não deixou filhos, embora sua esposa, Roxane, estivesse grávida. Quanto aos judeus, Alexandre os tratou bem e teve muitos deles em seu exército. Após a sua morte, o Império Grego foi divido entre os seus generais, dentre os quais nos interessam Ptolomeu, a quem coube o governo do Egito, e Seleuco, que passou a governar a Síria.

O GOVERNO DOS PTOLOMEUS

A Palestina ficou sob o domínio do Egito. Os descendentes de Ptolomeu foram chamados Ptolomeus. Eis os nomes que se sucederam enquanto a Palestina esteve sob o seu governo (323 a 204 a.C.):

Ptolomeu I (Sóter) - 323 a 285 a.C.

Ptolomeu II (Filadelfo) - 285 a 246 a.C. – Durante o seu governo foi elaborada, em Alexandria, a Septuaginta, tradução do Antigo Testamento para o grego. Filadelfo foi amável com os judeus.

Ptolomeu III (Evergetes) – 246 a 221 a.C.

Ptolomeu IV (Filópater) - 221 a 203 a.C. - Ao voltar de uma batalha contra a Síria, Filópater visitou Jerusalém e tentou entrar no Santo dos Santos. Contudo, foi acometido de um pavor repentino que o fez desistir do seu propósito. Foi um grande perseguidor dos judeus.

Ptolomeu Epifânio – 203 a 181 a.C. – Tinha 5 anos de idade quando seu pai, Filópater morreu. Aproveitando a situação, Antíoco - o Grande, rei da Síria, toma o poder sobre a Palestina no ano 204.

O GOVERNO DOS SELÊUCIDAS

Os reis da Síria, descendentes do general Seleuco, foram chamados Selêucidas. De 204 a 166 a.C., a Palestina esteve sob o domínio da Síria. Eis a relação dos selêucidas do período:

Antíoco III - O Grande – 223 a 187 a.C.

Seleuco IV (Filópater) – 187 a 175 a.C.

Antíoco IV (Epifânio) - 175 a 163 a.C. - Em Israel, o governo local era exercido por Onias, o sumo sacerdote. Contudo, Epifânio comercializou o cargo sacerdotal, vendendo-o a Jasão por 360 talentos. Epifânio se esforçou para impor a cultura e a religião grega em Israel, atraindo sobre si a inimizade dos judeus. Tendo ido ao Egito, divulgou-se o boato da morte de Epifânio, motivo pelo qual os judeus realizaram uma grande festa. Ao tomar conhecimento do fato, o rei da Síria promoveu um grande massacre, matando 40 mil judeus.

Em 168 a.C., Antíoco Epifânio sacrifica uma porca sobre o altar em Jerusalém e entra no Santo dos Santos. Ordena que o templo dos judeus seja dedicado a Zeus, o principal deus da mitologia grega, ao mesmo tempo em que proíbe os sacrifícios judaicos, os cultos, a circuncisão e a observância da lei mosaica.

Segue-se então um período em que não houve sumo sacerdote em atividade em Jerusalém (159 a 152 a.C.). Realiza-se então um processo de helenização radical na Palestina.

Vendo todos os seus valores nacionais sendo destruídos e profanados, os judeus reagiram contra Epifânio.


O GOVERNO DOS MACABEUS - 167 a 37 a.C.

Surge no cenário judaico uma importante família da tribo de Levi: os Macabeus. Em 167, o macabeu Matatias se recusa a oferecer sacrifício a Zeus. Outro homem se ofereceu para sacrificar, mas foi morto por Matatias, o qual organiza um grupo de judeus para oferecer resistência contra os selêucidas. Tal movimento ficou conhecido como a Revolta dos Macabeus. A Palestina continuou sob o domínio da Síria. Contudo, a Judéia voltou a possuir um governo local, exercido pelos Macabeus. Ainda não se tratava de independência, mas já havia alguma autonomia. A seguir, apresentamos os nomes dos governantes macabeus e alguns de seus atos em destaque.

Matatias (167-166 a.C.)

Judas (filho de Matatias) (166-160 a.C.) - Purifica o templo, conquista liberdade religiosa, restabelece o culto.

Jônatas (filho de Matatias) (160-142 a.C.) – Reinicia a atividade de sumo sacerdote.

Simão (filho de Matatias) (142-135 a.C.) - Reforça o exército e consegue isenção de impostos. Nesse momento a Síria se encontrava fraca, e a Judéia se torna independente. A independência durou entre 142 e 63 a.C.. Simão foi sumo sacerdote e rei da Judéia. Pediu apoio de Roma contra a Síria.

João Hircano (filho de Simão) (135-104 a.C.) – Tinha tendência imperialista. Conquistou a Iduméia e Samaria. Destruiu o templo samaritano e sofreu oposição dos "hassidim", seita dos "santos".

Aristóbulo I – (104-103 a.C.) – prendeu a mãe e matou o irmão.

Alexandre Janeu (103-76 a.C.) - conquistou costas da Palestina – O território de Israel chegou a ter extensão semelhante à que tinha nos dias do rei Davi. Janeu sofreu a oposição dos fariseus.

Alexandra Salomé (esposa de Alexandre) (76-67 a.C.) – foi uma governante pacífica.

Aristóbulo II - (67-63 a.C.) briga pelo poder com seu irmão, Hircano II. Em 63 a.C., Aristóbulo provoca Roma. Pompeu invade Jerusalém, deporta Aristóbulo e coloca Hircano II no poder.

Hircano II (63-40 a.C.)

Em Roma, o governo é exercido por Pompeu, Crasso e Júlio César, formando o primeiro Triunvirato. Os três brigam entre si pelo poder. Júlio César vence e torna-se Imperador Romano. Em seguida, nomeia Antípatro, idumeu, como procurador sob as ordens de Hircano. Faselo e Herodes, filhos de Antípatro, são nomeados governadores da Judéia e Galiléia. Um ano depois, Antípatro morre envenenado. Passados 3 anos, o Imperador Júlio César morre assassinado. Institui-se um novo triunvirato, formado por Otávio, sobrinho de César, Marco Antônio e Lépido. Marco Antônio e Herodes eram amigos.

Herodes casa-se então com Mariana, neta de Hircano, vinculando-se assim à família dos Macabeus.

Na tentativa de tomar o poder, Antígono, filho de Aristóbulo II, corta as orelhas de Hircano II, impossibilitando-o de continuar a exercer o sumo sacerdócio.

Antígono (40-37 a.C.) - Uma de suas ações foi perseguir Herodes, o qual dirigiu-se a Roma, denunciou a desordem e foi nomeado rei da Judéia (37 d.C.). Antígono foi morto pelos romanos.

Termina assim, a saga dos Macabeus, cujo princípio foi brilhante nas lutas contra a Síria. Entretanto, foram muitas as disputas pelo poder dentro da própria família. Perderam então a grande oportunidade que os judeus tiveram de se tornarem uma nação livre e forte. Acabaram caindo sob o jugo de Roma.

O IMPÉRIO ROMANO

Sendo nomeado por Roma como rei da Judéia, Herodes passou a governar um grande território. Contudo, sua insegurança e medo de perder o poder o levaram a matar Aristóbulo, irmão de Mariana, por afogamento. Depois, matou a própria esposa e estrangulou os filhos.

A violência de Herodes provocou a revolta dos judeus. Para apaziguá-los, o rei iniciou uma série de obras públicas, entre as quais a construção (reforma) do templo, que passou a ser conhecido como Templo de Herodes.

O domínio direto do Império Romano sobre a Palestina iniciou-se no ano 37 a.C., estendendo-se por todo o período do Novo Testamento.

Quadro histórico social do Novo Testamento

Política 37 a.C. a 70 d.C.

Esquema parcial da hierarquia no Império Romano


O esquema acima apresenta alguns elementos da hierarquia do Império. Nosso objetivo é visualizar principalmente os modelos administrativos estabelecidos sobre os povos conquistados.

No tempo do nascimento de Cristo, o Imperador era Augusto, o qual instituiu o culto a si mesmo por parte dos seus súditos. Em algumas regiões havia a figura do rei. Naquele mesmo período o rei da Palestina era
Herodes. Esta região teve sua divisão política alterada diversas vezes, sendo até governada por mais de um rei em determinados momentos. Além do rei, havia em algumas épocas e lugares a figura do procurador, ou governador. Quando Jesus nasceu, o procurador se chamava Copônio. Na sequência aparecem os publicanos, os quais não possuíam poder administrativo mas tinham a função de coletar impostos. Eram necessariamente nativos da província. Seu conhecimento da terra, do povo, dos costumes e da língua tornava-os mais eficientes na coletoria do que poderia ter sido um cidadão romano que fosse enviado para esse fim. Os publicanos eram considerados por seus compatriotas como traidores, já que cobravam impostos dos seus irmãos para entregar ao dominador inimigo. A palavra publicano se tornou sinônimo de pecador.

Sob esse domínio se encontrava a província. Assim era chamada qualquer região conquistada pelos romanos fora da Itália. As províncias que se encontravam dentro desse modelo eram administradas mais diretamente pelo Imperador. Tratava-se de regiões ainda não pacificadas, recém conquistadas, cuja população ainda não se acomodara sob o jugo de Roma. Nessas terras havia a presença constante das tropas romanas, as quais se dividiam principalmente em legiões (com 6000 homens), coortes (com 1000 homens) e centúrias (com 100 homens). Na província da Judéia havia uma instituição local chamada Sinédrio, o qual era formado por 71 membros e presidido pelo sumo sacerdote. O Sinédrio era o supremo tribunal local e tinha poderes para julgar questões civis e religiosas, uma vez que as duas coisas eram tratadas pela mesma lei. Tais autoridades tinham até mesmo a prerrogativa de aplicar a pena de morte contra crimes cometidos na comunidade local. A polícia recebia ordens do Sinédrio.

Essa estrutura pode ser claramente observada nas páginas dos evangelhos, principalmente nos relatos que tratam da prisão, julgamento e crucificação de Cristo, o qual foi preso pela polícia do Sinédrio, e levado diante desse tribunal local. Os integrantes do Sinédrio, embora tivessem poder

para matá-lo, parecem ter vacilado diante de tamanha responsabilidade. Levaram-no diante do Procurador da Judéia, Pilatos, o qual o encaminhou para a presença de Herodes, o rei da Galiléia. Ninguém queria assumir a responsabilidade pela crucificação. Contudo, Cristo é devolvido a Pilatos, que considerou o lavar da mãos como ato suficiente para isentá-lo da culpa de matar o Filho de Deus. (Mt.26.44,57,59; 27.2; Lc.23.7) Vemos aí a hierarquia governamental em evidência. O imperador também foi lembrado naquelas circunstâncias, mas apenas para uma menção rápida em João 19.12 para pressionar o Procurador.

Havia ainda outro tipo de província. Eram aquelas conquistadas há mais tempo e já pacificadas. Os habitantes desses lugares tinham cidadania romana. Era o caso do apóstolo Paulo, que nasceu em Tarso, e tinha o direito de ser considerado cidadão romano. Tal prerrogativa proporcionava diversos direitos, principalmente tratamento respeitoso e especial nas questões jurídicas. Um cidadão romano não podia, por exemplo, ser açoitado. Paulo foi submetido a açoites, mas seus algozes ficaram atemorizados quando souberam que tinham espancado um cidadão romano (Atos 16.37-38). Com base no mesmo direito, Paulo apelou para César quando quis se defender das acusações que lhe eram feitas (Atos 25.10-12).

CULTURA E INFRA-ESTRUTURA

Nos dias de Cristo, embora o império fosse romano, a cultura predominante continuava sendo grega. O extinto império de Alexandre Magno deixou um grande legado: o helenismo, que significa a influência cultural grega entre os povos conquistados. Helenismo é derivado de Helas, outro nome da Grécia. Helenização é o processo de propagação dessa cultura. Devido a essa difusão, a língua grega se tornou de uso comum. Daí vem a expressão "grego koiné" (= comum). As cidades gregas eram bem estruturadas. Contavam com teatros, banhos públicos, ginásios, foros, amplas praças, hipódromos e academias. Assim, por onde quer que o helenismo se expandisse iam surgindo cidades desse tipo. Algumas cidades antigas se adaptavam e chegavam até a mudar de nome, adotando nomes gregos.

É por causa desse contexto que o Novo Testamento foi escrito em grego, com exceção do evangelho de Mateus.

Além dos elementos helênicos, o cenário contava com estradas calçadas construídas pelos romanos. Elas facilitavam a circulação das milícias entre as províncias e a capital. Por essas vias transitavam também mensageiros, comerciantes e viajantes em geral. Outro destaque da engenharia romana eram os aquedutos: canais para levar água das montanhas para as cidades.

ATIVIDADES ECONÔMICAS

Com toda a importância das cidades, as construções eram constantes. Além das casas, estradas e aquedutos, as muralhas também faziam parte dos projetos. Em Jerusalém havia uma grande obra em andamento nos dias de Jesus: o templo de Herodes, cuja construção ocorreu do ano 20 a.C. até 64 d.C..

Outras atividades importantes eram: transporte, agricultura, comércio, pesca, metalurgia, cerâmica, perfumaria, couro, tecidos e armas. Em Israel, a pecuária, além de atividade econômica, possuía status religioso por causa dos sacrifícios.


POPULAÇÃO E RELIGIÃO A DIÁSPORA

Nos dias do Novo Testamento, a população judaica encontrava-se dispersa por vários lugares. Além da própria Palestina, havia inúmeros judeus em Roma, Egito, Ásia Menor, etc. (Atos 2.9-11; Tiago 1.1; I Pedro 1.1). Tal dispersão, que recebe o nome de Diáspora, tem razões diversas, começando pelos exílios para a Assíria e Babilônia, e se completando por interesses comerciais dos judeus, e até mesmo em função das dificuldades que se verificavam em sua terra natal. Esse quadro se apresenta como cumprimento claro dos avisos divinos acerca da dispersão que viria como consequência do pecado de Israel (Dt.28.64). Assim, o judaísmo acabou se dividindo em função da distribuição geográfica. Havia o judaísmo de Jerusalém, mais ligado à ortodoxia, e o judaísmo da Diáspora, ou seja, praticado pelos judeus residentes fora da Palestina. Estes últimos encontravam-se distantes de suas origens. Se até na Palestina, os costumes gregos se impunham, muito mais isso ocorria na vida dos judeus em outras regiões. Estavam profundamente helenizados, embora não tivessem abandonado o judaísmo. Isto fez com que eles se preocupassem com o futuro de suas tradições e sua religião. Tomaram então providências para que o judaísmo não sucumbisse diante do helenismo. Uma delas foi a tradução do Velho Testamento do hebraico para o grego, chamada Septuaginta. Já que este idioma estava se tornando universal, havia o risco de que, no futuro, as escrituras não pudessem mais ser lidas, devido à possível extinção do hebraico. Outras obras literárias foram produzidas, incluindo narrativas históricas, propaganda e apologia judaica, tudo escrito em grego e com influências gregas. Destacaram-se nessa época os escritores: Fílon de Alexandria e Flávio Josefo. Tais escritos não foram aceitos pela comunidade de Jerusalém. Até a tradução bíblica foi rejeitada, uma vez que, para eles, toda escritura sagrada devia ser produzida necessariamente em hebraico. Essa obra no idioma grego foi vista pelos ortodoxos como uma descaracterização do judaísmo.

Para muitos judeus conservadores, o judaísmo era propriedade nacional e não devia ser propagado entre outros povos. Já os judeus da Diáspora se dedicaram a conquistar gentios para a religião judaica. Tal fenômeno recebe o nome de proselitismo. Os novos convertidos eram chamados prosélitos (Mateus 23.15 Atos 2.9-11; 6.5; 13.43). Essa prática difusora da religião também foi adotada por judeus de Jerusalém, mas em escala bem menor.

Os judeus da diáspora cresciam em número e em poder econômico. Isso se tornou incômodo para muitos cidadãos dos lugares onde residiam. A guarda do sábado e a recusa em participar do culto ao Imperador tornaram-se também elementos que atraíram a perseguição. Tendo, muitos deles, fugido da opressão na Palestina, encontraram problemas semelhantes em outras terras.

AS SINAGOGAS, OS RABIS E OS ESCRITOS RELIGIOSOS.

O surgimento das sinagogas é normalmente atribuído ao período do exílio babilônico, quando os judeus deixaram de ter um templo para adorar e sacrificar. O fato indiscutível é que nos dias do Novo Testamento, tais locais de oração, ensino e administração civil eram muito valorizados. Em qualquer localidade onde houvesse 10 judeus, podia ser aberta uma sinagoga. Em cidades grandes poderia haver várias, como era o caso de Jerusalém. A liderança da sinagora era exercida pelo rabi (mestre), o qual era eleito pelos membros daquela comunidade. Essa autonomia de eleição do rabi favoreceu o
surgimento de muitos mestres com ideias religiosas distintas. Todos estudavam a lei e elaboravam seus ensinamentos com interpretações e comentários acerca da Torá.


Assim surgiram as midrashs e as mishnas. Midrash era o comentário da lei. A primeira surgiu no ano 4 a.C.. As mishnas eram os ensinamentos rabínicos. A primeira surgiu em 5 a.C.. Tudo isso compunha a tradição, que passou a ser mais utilizada do que a própria lei. A interpretação da lei era tão desenvolvida que chegava ao extremo de contradizer o código original (Mt.15.1-6). Assim, os escribas e fariseus, doutores da lei, ocupavam o lugar de Moisés (Mt.23.2). Devido a essa posição dos rabis (mestres), Jesus orientou seus discípulos a não utilizarem esse mesmo título (Mt.23.8).

JUDAÍSMO DIVIDIDO

Nos dias de Cristo, a religião judaica encontrava-se dividida em seitas: fariseus, saduceus, essênios, e outras. Cada facção se considerava o remanescente fiel a Deus e via os demais como relaxados. Entre os fatores que contribuíram para essa divisão, podemos citar:

- Diáspora – A dispersão geográfica dificultou a manutenção de uma religiosidade padronizada.

- Sinagogas – Significaram a descentralização da orientação religiosa. Muitos rabis representaram muitas linhas de pensamento e prática divergentes.

- Linhagem - As misturas étnicas ocorridas no norte de Israel contribuíram para a discriminação religiosa contra os samaritanos.

- Interpretação – Diferentes interpretações da lei conduziam a diferentes crenças.

- Tradição – Esta era o resultado de muitos elementos: interpretação, comentário da lei, influências estrangeiras (gregas romanas e babilônicas).

- Política – Alguns judeus apoiavam Herodes e os romanos. Outros eram radicalmente contra tais dominadores.

- Helenismo – Os judeus se dividiam também quanto ao apoio ou combate à cultura grega que se expandia em todo o mundo. Tais costumes eram vistos como os que hoje chamamos de "mundanismo". Muitos judeus se deixavam levar, admirados com o pensamento grego e o sucesso de sua cultura.

DINASTIA HERODIANA (parcial)

As setas indicam filiação. O posicionamento dos quadros inferiores demonstra a sucessão no governo da Palestina.


Apresentamos apenas parcialmente a dinastia herodiana porque nos limitamos aos nomes mais próximos aos fatos do Novo Testamento. Nosso maior interesse é apresentar a sucessão política na Palestina, principalmente na Judéia. Herodes Magno, também conhecido com Herodes, o Grande, governava a Judéia quando Jesus nasceu. Herodes teve 10 mulheres e 15 filhos, ou mais. Citamos 7 deles: Antípatro II, Aristóbulo I, Alexandre, Filipe I, Filipe II, Arquelau e Antipas II. Herodes matou seus filhos Alexandre, Aristóbulo I e Antípatro II. Deserdou Filipe I, que era casado com Herodias, a qual veio a adulterar com Antipas II (Mc.6.17). Após a morte de Herodes Magno, seu reino foi dividido entre três de seus filhos: Arquelau recebeu a Judéia, Samaria e Iduméia. Antipas II passou a governar a Galiléia e a Peréia. Filipe II recebeu os territórios do nordeste: Ituréia, Tracomites, Gaulanites, Auranites e Batanéia.

Arquelau foi deposto pelos Romanos no ano 6 d.C.. A Judéia passou então a ser governada por procuradores romanos. Um desses procuradores foi Pôncio Pilatos (de 26 a 36 d.C.). Antipas II governou a Galiléia durante todo o ministério de Cristo. Foi ele quem mandou degolar João Batista. À sua presença Jesus foi encaminhado por Pilatos, já que este era procurador sobre a Judéia e foi-lhe dito que Cristo era galileu, sendo portanto da jurisdição de Antipas.

Agripa I, filho de Aristóbulo e, portanto, neto de Herodes Magno, foi o sucessor de Filipe II. Aos poucos foi herdando também os territórios dos outros tios. Recebeu de volta dos romanos a administração da Judéia e Samaria, tornando-se então rei de quase toda a Palestina. Foi ele quem mandou matar o apóstolo Tiago e morreu comido por vermes (At.12). Seu filho, Agripa II, foi seu sucessor. Seu território foi então ampliado por determinação do Imperador Cláudio e ainda mais por Nero. Foi perante Agripa II que Paulo se apresentou (At.25.23). Com a destruição de Jerusalém no ano 70, Agripa II mudou-se para Roma e lá esteve até o ano de sua morte (100 d.C.). Os membros da dinastia herodiana são muitas vezes mencionados no Novo Testamento. Todos eles possuíam o título de Herodes. Por esta razão, muitas vezes pode-se imaginar que as diversas passagens se referem à mesma pessoa, o que não é verdade. Pela observação dos quadros anteriores, pode-se identificar cada "Herodes" nas passagens bíblicas em que são citados.

IMPERADORES ROMANOS NO PERÍODO DO NOVO TESTAMENTO

César Augusto Otaviano - ano 27 a.C. a 14 d.C. - Nascimento de Jesus - Início do culto ao Imperador. (Lc.2.1)

Tibério Júlio César Augusto - 14 a 27 - Ministério e Morte de Jesus. (Lc.3.1).

Gaio Júlio César Germânico Calígula - 37 a 41 - Quis sua estátua no templo em Jerusalém. Morreu antes que sua ordem fosse cumprida.

Tibério Cláudio César Augusto Germânico - 41 a 54 - Expulsou os judeus de Roma. (At.18.2).

Nero Cláudio César Augusto Germânico - 54 a 68 - Começa perseguição de Roma contra os cristãos. Paulo e Pedro morrem (At. 25.10; 28.19).

Sérvio Galba César Augusto 68 - Cerco a Jerusalém.

Marcos Oto César Augusto - 69 – mantém o cerco a Jerusalém.

Aulus Vitélio Germânico Augusto - 69 - mantém o cerco a Jerusalém.

César Vespasiano Augusto - 69 a 79 – Tinha sido general de Nero. Coloca seu filho Tito como general. No ano 70, determina a destruição de Jerusalém.

Tito César Vespasiano Augusto - 79-81.

César Domiciano Augusto Germânico - 81 a 96 - Exigia ser chamado Senhor e Deus. Grande perseguição. O apóstolo João ainda vivia durante o governo de Domiciano.

VI - BIBLIOGRAFIA

SÁNCHEZ, Tomás Parra, Os Tempos de Jesus - Ed. Paulinas.
GONZÁLEZ, Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo - Volume 1 - Ed. Vida Nova.
TURNER, Donald D., Exposição de Os Atos dos Apóstolos - Imprensa Batista Regular.
PACKER, J.I., TENNEY, Merril C., WHITE JR., William, O Mundo do Novo
Testamento - Ed. Vida.
MORACHO, Félix, Como Ler os Evangelhos - Ed. Paulus.
PEARLMAN, Myer, Mateus - O Evangelho do Grande Rei - CPAD.
TURNER, Donald D., Introdução do Novo Testamento - Imprensa Batista Regular.
THOMAS, W. H. Griffith, Como Estudar os Quatro Evangelhos - Casa Editora
Presbiteriana.
SOUZA, Itamir Neves, Atos dos Apóstolos - Uma História Singular - Ed. Descoberta.
CULLMANN, Oscar, A Formação do Novo Testamento - Ed. Sinodal.
GIBERT, Pierre, Como a Bíblia Foi Escrita - Ed. Paulinas.
ELWELL, Walter A. , Manual Bíblico do Estudante - CPAD.
HOUSE, H. Wayne, O Novo Testamento em Quadros - Ed. Vida
JOSEFO, Flávio, A História dos Judeus - CPAD
DOUGLAS, J.D., O Novo Dicionário da Bíblia – Ed. Vida Nova
Apostila do SEBEMGE – Pastor Delmo Gonçalves
Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão
Contemporânea - Ed. Vida
Elaborado em março e abril do ano 2000
Em caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o nome do autor:
Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.

MANUAL BÁSICO DAS DOUTRINAS DA VARÕES DE GUERRA,IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA, CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO.


MANUAL BÁSICO
DAS DOUTRINAS DA
VARÕES DE GUERRA

Sumário

PALAVRA DO PASTOR...................................................................................................PAG-03
1. SOBRE DEUS................................................................................................................PAG-04
2. SOBRE A BÍBLIA..........................................................................................................PAG-08
3. SOBRE O NASCIMENTO DE JESUS..........................................................................PAG-11
4. SOBRE O PECADO......................................................................................................PAG-13
5. SOBRE A SALVAÇÃO.................................................................................................PAG-16
6. SOBRE O BATISMO EM ÁGUAS...............................................................................PAG-19
7. SOBRE O ESPÍRITO SANTO.......................................................................................PAG-21
8. SOBRE A SEGUNDA VINDA DE CRISTO.................................................................PAG-26
9. SOBRE O JUÍZO VINDORO........................................................................................PAG-28
10. SOBRE A VIDA ETERNA...........................................................................................PAG-30
11. BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................PAG-33




PALAVRA DO PASTOR

A grande maioria dos cristãos está vivendo ao sabor de experiências místicas supersticiosas. Pior: nem sequer pro­curam investigar se o que estão expe­rimentando consubstancia a verdade plena das Escrituras Sagradas. Destarte, tornam-se divulgadores de opiniões que nem mesmo sabem se são verda­deiras ou falsas. Tudo isso está ocor­rendo — este é o meu entendimento — pelo fato de termos nos acostumado a escutar, a gravar e a repetir sem ler ou com­parar o conteúdo doutrinário de todas as in­formações bíblicas que nos são passadas. Por essa e por outras razões muito mais fortes é que precisamos tomar a iniciativa de reler, reinvestigar, reanalisar e reinterpretar, ponto a ponto, todas as dou­trinas bíblicas esposadas pelas Varões de Guerra no Brasil, a fim de termos uma visão mais comprome­tida com a coerência e com a autenticidade das Sagra­das Escrituras.
Embora saiba, por observação, que ousadia, cora­gem, espírito pioneiro, iniciativas novas e especialmen­te muita prudência são virtudes especiais do evangéli­co tradicional das Varões de Guerras, tenho a absoluta certeza de que necessitamos redescobrir a Palavra de Deus que, infelizmente, vem sendo substituída em alguns de nossos púlpitos.
Acredito piamente que o problema fundamental para a proliferação da subcultura pentecostal, na forma de um astigmatismo teológico, está na falta de prioridade. A Palavra de Deus está ficando em segundo plano em nossas reuniões.
Estranhamente, alguns líderes evangélicos fecham-se numa alienação intolerável, quase medieval. Fazem ouvidos moucos (Adj. e subst. m.: que não ouve, ouve pouco ou mal; surdo.), evitam confrontos, preferem não saber, não ouvir, não ler e não aprender a fazer o que é certo. Afora isso, existe ainda uma constelação enorme de evangélicos que estão muito aquém dos limites permitidos em termos de conhecimento bíblico. Daí crescerem, em algumas culturas evangélicas e num ritmo alucinante, tantos absurdos, distorções e discrepâncias que comprometem comportamentos e deformam padrões cristãos.
Tendo em vista fortalecer as nossas posições doutrinárias, uma vez que estamos sendo ameaçados pela presença de novos pensamentos, modismos e ideias comprovadamente heréticas, desejamos neste manual analisar o nosso credo, objetivando munir o nosso povo da verdade para poder enfrentar as heresias hodiernas.
Assentado isso, termino aqui fazendo minhas as palavras do profeta Oséias:
O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento.

1
SOBRE DEUS

Cremos em um só Deus, que é Santo, Criador de todas as coisas, soberano, eterno, subsistente em três, Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29).
Em nenhuma parte da Bíblia Sagrada os escritores bíblicos se empenham para provar a existência de Deus. Eles partem do pressuposto básico de que Deus existe e ocupam-se em descrever tão-somente as ações de Deus e o seu caráter (Gn 1.1; Hb 11.3).
Mas a Bíblia dá testemunho de Deus em ação no mundo físico, na história e na vida particular dos indivíduos. Esses testemunhos despertam, aperfeiçoam e fortalecem a fé na Pessoa de Deus.
Embora a Bíblia fale de homens que dizem em seus corações que "não há Deus", a presença divina no mundo é fato real e insofismável.
Os ateus praticantes que tentam banir a Deus de seus pensamentos fazem-no pelo fato de o terem retirado primeiramente de suas vidas. Mas é de um escritor alemão a desconcertante frase sobre o ateísmo: "Cada ateu abriga um crente no coração".   "
Existência de Deus
De acordo com alguns biblistas, a existência de Deus é uma verdade primária e fundamental. Uma verdade é primária ou fundamental quando se caracteriza pela universalidade, necessidade e auto-evidência. Ou seja: uma verdade que é aceita universalmente, que se impõe como necessária para que se possa explicar as demais realidades e que se mostre por si mesma, sem depender de uma prova preliminar, dada pelo homem, para ser aceita.
São concebidos como verdades primárias o tempo, o espaço, o número, causa e efeito, idéia do bem e do mal. As noções dessas verdades são intuitivas no homem e desenvolvem-se pela experiência. Assim é também Deus para o ser humano: uma verdade fundamental, primá¬ria, que é aceita e vivida na experiência da vida.
A idéia de que Deus existe é universal. Em qualquer cultura, povo ou época encontra-se esta crença. A existência de Deus é necessária para que o homem tenha resposta adequada para as questões fundamentais levantadas pelo pensamento humano. Ela é auto-evidente: mostra-se por si só [sic]. Independe de ser aprovada pelo homem para que seja aceita por verdade. É como uma flor que, exalando seu perfume, prova sua existência e presença aos circunstantes que têm a capacidade de sentir o cheiro. *
*Severa, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: AD Santos, s.d.
O livro Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal, de Stanley Horton, publicado pela CPAD, tem uma visão bem contemporânea dos temas dogmáticos.
Acerca de Deus disse Jó: "[...] faz grandes coisas que nós não compreendemos" (Jó 37.5,6, grifo nosso).
Não é porque não compreendemos uma coisa que ela deixa de existir. Mesmo que Deus não seja alcançado pela compreensão humana, Ele continua reinando soberano sobre tudo e sobre todas as coisas: "Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e o meu servo, a quem escolhi; para que o saibas, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá" (Is 43.10).
A natureza de Deus
Deus é apresentado na Bíblia como infinitamente perfeito (Dt 18.13; Mt 5.48). Logo, a sua obra é perfeita (Dt 32.4), e também os seus caminhos (SI 18.30). Todas as características de sua Pessoa e de sua natureza não são apenas expressões de alguma atitude que demonstra ou possui, mas constituem a própria substância de sua divindade.
Não se pode explicar a natureza de Deus, mas somente crer nEle. Podemos basear a nossa doutrina sobre Deus nas pressuposições já citadas e nas evidências demonstradas nas Escrituras. Alguns textos bíblicos atribuem à pessoa de Deus qualidades que os seres humanos não possuem, ao passo que outros textos o descrevem em termos de atributos morais compartilhados pelos seres humanos, ainda que de forma limitada. Por exemplo, Deus é santo por natureza, e o homem, por participação (Rm 1.4; 2 Co 7.1; 1 Ts 3.13).
O Antigo Testamento usa o termo "santo" em sentido absoluto apenas quando se refere à majestade incriada e inteiramente inacessível de Deus, sendo que tudo o mais, em comparação a Ele, é o absolutamente não-santo (Êx 15.11).
Em comparação a Deus, ninguém e nada é santo ou puro, e homem nenhum pode se atrever a chamar-se santo ao lado de Deus (Jó 4.17; 15.4; 25.4-6). Só Deus santifica, i. é, só Ele faz o homem participar de sua santidade; é de Deus que vem a santidade de Israel.
A esse princípio segue imediatamente o seu aspecto ético, que é realçado, sobretudo pelo contraste com a pecaminosidade do homem.
A natureza de Deus é identificada com mais freqüência por aqueles atributos que não possuem analogia com o ser humano. Deus existe por si mesmo, sem depender de outro ser. Ele é a fonte originária da vida, tanto ao criá-la quanto ao sustentá-la. Deus é espírito; Ele não está confinado à existência material e é imperceptível ao olho físico. Sua natureza é imutável, já mais se altera. Posto que o próprio Deus é o fundamento do tempo, Ele não pode ser limitado pelo tempo. Ele é eterno, sem começo nem fim. Deus é totalmente consistente dentro de si mesmo. O espaço não pode limitá-lo, pois Ele é onipresente. Deus também é onipotente, pois é poderoso para fazer tudo que esteja de acordo com a sua natureza e segundo os seus propósitos. Além disso, é onisciente; conhece efetivamente todas as coisas — passadas, presentes e futuras. Em todos esses atributos o cristão pode achar o consolo e a confirmação da fé, ao passo que o incrédulo é advertido e motivado a crer.
De acordo com Cari Braaten, Deus tanto é contínuo como tem um ser contínuo, tudo o mais é temporário.
É preciso ressaltar ainda que não existe contradição entre a natureza perfeita de Deus e o seu poder ilimitado. Porque Deus jamais fará coisa alguma incompatível com a sua perfeita santidade. Ele, que tudo pode (Jó 42.2), só faz o que lhe apraz (SI 115.3). Porém, existem coisas que o Onipotente não pode fazer: Ele não pode mentir (Nm 23.19; Tt 1.2; Hb 6.18), não pode negar-se a si mesmo (2 Tm 2,13) e não pode fazer injustiça (Jó 8.3; 34.12). Ele é sempre santo em todas as suas obras (SI 145.17). Deus também não faz acepção de pessoas (2 Cr 19.7; Rm 2.11).
Os atributos de Deus
Atributo é aquilo que qualifica um ser. Ao conhecer os atributos de um objeto, buscamos a essência de sua natureza. Quando conhecemos a Deus, descobrimos os seus atributos e o reconhecemos como um ser infinito.
Encontramos nas Escrituras os atributos de Deus. Elas declaram o que Ele é e o que Ele faz. É verdade que, como criatura, desvendá-los ou relacioná-los no seu todo é tarefa difícil, se não de todo impossível para nós.
O apóstolo, escrevendo sobre a glória de Deus, declara: "Aquele que tem, ele só, a imortalidade e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno" (1 Tm 6.16).
Encontramos nas Escrituras os atributos absolutos de Deus: vida, personalidade, imutabilidade, unidade, verdade, amor, santidade, bondade, misericórdia e justiça.
Os atributos naturais de Deus são: onipresença, onisciência e onipotência.
Onipresença. Deus relaciona-se com tudo e todos ao mesmo tempo. Está presente em toda a sua personalidade. Não há como fugir da presença de Deus. "Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá" (SI 139.7-10).
Onisciência. Deus é onisciente porque conhece todas as coisas. Nada há que se esconda de sua onisciência. "E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (Mt 10.30). Na onisciência de Deus, o futuro também está presente: "Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio e, desde a antiguida¬de, as coisas que ainda não sucederam" (Is 46.9,10). A onisciência de Deus garante-nos que todos os futuros julgamentos serão de acordo com a verdade.
Onipotência. O apóstolo João, na ilha de Patmos, assim descreve parte de sua visão apocalíptica: "Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz, que como de trombeta ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer. E logo fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono" (Ap 4.1,2).
Quando Deus apareceu a Abrão, em Gênesis 17.1, disse-lhe: "Eu sou o Deus Todo-poderoso [...]". Entendemos que o mundo físico ou material e o mundo espiritual dependem de seu poder e por ele são controlados. Ê do trono que emana toda ordem para o mun¬do visível e para o invisível. Deus não está sujeito a nenhuma força exterior ou contrária à sua vontade. É soberano em todo o Universo: "Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar" (Is 40.22; cf. vv. 12-15).
A Trindade
Ainda que não se encontre nas Escrituras a palavra "Trindade", é bíblico, no entanto, o fundamento dessa doutrina, presente nos ensinos proferidos por Jesus Cristo e seus apóstolos.
Encontramos no Antigo Testamento a doutrina da Trindade: a) na criação e formação do homem (Gn 1.1,26); b) na dispersão dos rebeldes de Babel (Gn 11.1-7); c) na chamada do profeta Isaías (Is 6.3) e em tan¬tas outras passagens.
Mas é no Novo Testamento que encontramos de forma mais explícita essa doutrina. No início do ministério de Jesus, por ocasião do seu batismo em águas, o Espírito Santo desce sobre Ele e o Pai lhe diz: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.17). Observa-se nesse episódio a Trindade em cena, ratificando assim a sua realidade no Novo Testamento. Vemos também, em João 14.16, que Jesus roga ao Pai para que envie aos discípulos o Espírito Santo.
Findando o seu ministério, Jesus ordena aos discípulos que preguem e ensinem o Evangelho a todas as nações, "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Essa é mais uma clara referência à Trindade.
Nos ensinos de Paulo, há referências cabais sobre a Trindade. Aos irmãos da Igreja em Corinto ele diz: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos. Amém!" (2 Co 13.13).
Diante do exposto, é impossível que se negue a doutrina da Trindade nas Escrituras, visto que a encontramos não somente nos textos considerados por alguns como simples inferências, mas também, e principalmente, nos textos que são referências reais, e não somente verbais.
Concluindo, Paulo cita, em Efésios 1.3, a obra da Trindade na salvação dos homens, referindo-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo".

2
SOBRE A BÍBLIA

Cremos na inspiração divina e plenária da Bíblia, bem como na sua infalibilidade e Inerrância, como única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristãos (2 Tm 3.14-17).

Desde os primórdios da civilização o homem, para viver em grupo, necessitou de normas que regulassem os seus direitos e deveres. Surge assim, após laboriosas experiências, a Constituição, que, transgredida, priva o cidadão dos bens maiores: a vida, a liberdade etc. Semelhantemente, no mundo espiritual, Deus estabeleceu a Bíblia Sagrada como fonte de vida. A Palavra de Deus liberta da escravidão do pecado os que vivem na mentira. Horace Greeley assim define a importância da Bíblia: "É impossível escravizar mental ou socialmente um povo que lê a Bíblia". Os princípios bíblicos são os fundamentos da liberdade humana: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.32). A Bíblia lida, crida e vivida liberta o homem da escravidão do pecado, pois quem comete pecado é escravo do pecado. Necessitamos da Bíblia, pois é alimento para a alma: "Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome me chamo, ó Senhor, Deus dos Exércitos" (Jr 15.16).
A Escritura Sagrada é a segurança para caminharmos no mundo de trevas: "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o meu caminho" (SI 119.105). Muitos andam em trevas por não conhecerem a luz gloriosa de Deus.
A Bíblia é a maravilhosa biblioteca de Deus com seus sessenta e seis livros. É acima de tudo a verdade para o fatigado peregrino; é hábil, eficaz e vigoroso cajado. Para os sobrecarregados e oprimidos pelos fardos da vida, ela é suave descanso; para os que foram feridos pelos delitos e pecados, é um bálsamo consolador. Aos aflitos e desesperados, sussurra uma alegre mensagem de esperança. Para os desamparados e arrastados pelas tormentas da vida, é uma âncora segura; para a solidão, é uma mão repousante [sic] que acalma e tranqüiliza suas mentes. **
** Eleanor, L. Doan.

A autenticidade da Bíblia
A autenticidade da Bíblia baseia-se na sua infalibilidade e inerrância. Os atributos da divindade são por ela revelados. Ela é autêntica em tudo, pelo fato de o próprio Deus ser o seu Autor, e o Espírito Santo, o seu Inspirador. Nela são autênticas e inerrantes as revelações e os fatos narrados.
Nestes últimos dias, o racionalismo tem se oposto vorazmente contra a autenticidade, a infalibilidade e a autoridade da Bíblia. Mas o ateísmo jamais poderá ofuscar a autenticidade das Escrituras. O problema do ateu em não querer aceitar a Bíblia como Palavra de Deus está na forma como ele se comporta ao ler as Escrituras, pelo fato de não querer observar o que ela realmente está dizendo. Uma das principais afirmações da autenticidade da Bíblia é sustentada por Jesus, quando diz aos judeus que as Escrituras dão testemunho dEle (Jo 5.39). Ora, se Jesus já existia antes da fundação do mundo e as Escrituras falam a respeito dEle, isso de fato prova a autenticidade da Bíblia Sagrada.
Outra passagem das Escrituras que revela a sua autenticidade é a menção de Jesus ao profeta Jonas, cujo livro foi escrito aproximadamente 790 anos antes de Cristo. Nessa passagem Jesus afirma que Jonas esteve no ventre do grande peixe por três dias e três noites e que o profeta pregou aos ninivitas. Diante disso, chega a ser grotesco tentar obscurecer ou mesmo contestar a inerrância das Escrituras, visto que o próprio Jesus Cristo confirmou a sua veracidade: "Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17).
A inspiração da Bíblia
A alta crítica, oriunda do liberalismo teológico que varreu a Europa nos séculos XIX e XX, recrudesceu a batalha entre a fé e a ciência. Baruch Spinoza, um dos ícones do modernismo histórico, foi o mais voraz crítico da inspiração bíblica, ao asseverar que não foi Moisés o autor do Pentateuco. Por isso foi excomungado da comunidade judaica, morrendo em total isolamento.
Daí para a frente, as Escrituras tornaram-se o grande alvo dos ataques de filósofos e teólogos liberais como Harnack, Bultimann, Renan, Schweitzer, Reimarus, Dibelius, Bultman, Straus e tantos outros que tentaram ridicularizar a Bíblia como livro inspirado por Deus.
Em face dos mais densos ataques da Escola Alemã desferidos contra as Escrituras, o fundamentalismo, movimento antiliberal do século XIX, saiu em defesa da inspiração plenária das Escrituras.
Conquanto devamos ter cuidado para não pensar a inspiração como psicografia — que, aliás, é de origem maligna —, não podemos negar o fato inextirpável de que só o sopro criativo e inteligente de Deus (graphê theopneustos, 2 Tm 3.16), pôde preservar a estrutura, a lógica e a coerência que a Bíblia possui.
As Escrituras tanto falam da inspiração do escritor quanto da inspiração do escrito: um é o agente, o outro é o efeito. Por exemplo, o texto de 2 Timóteo 3.16 ("Toda a Escritura é divinamente inspirada") faz referência ao escrito como inspirado. Já 2 Pedro 1.21 ("Homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo") fala do escritor.
A inspiração plenária da Bíblia é fato incontestável porque assuntos vitais como expiação, salvação, ressurreição, recompensa e castigo futuros requerem a direção de um Espírito infalível a fim de se evitarem informações que levem ao erro.
Dentro do mesmo assunto, destacam-se ainda duas posições que os modernistas não conseguem negar, embora não concordem com elas: a) a inspiração plenária e verbal da Bíblia e b) a inspiração e inerrância das Escrituras.
Inspiração plenária e verbal. Inspiração plenária significa que toda a Bíblia é inspirada em todas as suas partes. Cristo nunca faz distinção entre os livros da Bíblia quanto à sua origem divina e autenticidade, mas aplica a expressão "Palavra de Deus" a todo o cânon do Antigo Testamento. O mesmo fizeram os apóstolos (2 Tm 3.16).
Inspiração verbal significa que, na preparação das Santas Escrituras, a superintendência do Espírito Santo se estende às próprias palavras empregadas. As Escrituras constantemente afirmam que as suas palavras foram dadas ou dirigidas pelo Espírito Santo (At 28.25; 1 Co 2.13; 2 Pe 1.21).
Inerrância da Bíblia. Inerrância não significa que os escritores eram infalíveis, mas que seus escritos foram preservados de erros. Inerrância significa que a verdade é transmitida em palavras que, entendidas no sentido em que foram empregadas, não expressava erro algum.


Verificação
O Antigo Testamento declara-se escrito sob inspiração especial de Deus. A expressão "Deus disse" — ou "disse Deus" —, como forte indicador da chancela divina nos escritos sagrados, é usada mais de 2.600 vezes na Bíblia.
A Lei, os Salmos, os Profetas, os Evangelhos, as Epístolas, o Apocalipse — enfim, todo o Antigo Testamento e todo o Novo Testamento —, recebem de Deus um cuidado especial na sua inspiração. O Novo Testamento cita as leis antigas e faz menção delas com harmonia. Por isso há uma diferença insondável entre a Bíblia e qualquer outro livro. Essa diferença deve-se à origem, à forma e à organização da Bíblia.
Contendo 66 livros escritos por uns quarenta autores, num período de mais ou menos 1.600 anos, abrangendo uma variedade de tópicos, a Bíblia demonstra uma unidade de tema e propósito que só se explica como tendo ela uma mente diretriz.
Quantos livros suportam sucessivas leituras? Quantos conseguem ser lidos todos os dias da vida? A Bíblia pode ser lida não só muitas vezes, mas todos os dias e em todas as horas da vida. A Bíblia tem o seu lugar reservado em todas as bibliotecas do mundo, em cada casa e no coração do homem. Ela pode ser lida centenas de vezes, sem que se possam sondar as suas profundezas e sem que se perca o interesse pela sua leitura.
A Bíblia está traduzida em milhares de idiomas e dialetos e é lida em todos os países do mundo. O tempo não a afeta. É um dos livros mais antigos do mundo e ao mesmo tempo o mais moderno.
As defesas intelectuais da Bíblia têm o seu lugar, mas, afinal de contas, o melhor argumento é o prático. A Bíblia tem produzido resultados práticos indiscutíveis: tem influenciado civilizações, transformado vidas e trazido luz, inspiração e conforto a milhões de pessoas. E, nesse e em muitos outros sentidos, a sua obra ainda continua.
3
SOBRE O NASCIMENTO DE JESUS

Cremos, como dizem as Escrituras, na concepção virginal de Jesus, como obra exclusiva do Espírito Santo (Is 7.14; At 1.9; Rm 8.34).

Em nosso credo, confessamos que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo. Desde o iluminismo essa doutrina tornou-se uma das mais disputadas. Na teologia contemporânea, Emil Brunner nega a concepção virginal de Cristo em seu livro The Mediator. Ele o chama de "curiosidade biológica" e vê uma possível conexão com o docetismo porque essa doutrina fazia com que o Espírito Santo usurpasse a função do pai humano. Como poderia Jesus ser como nós em todos os sentidos se realmente não tinha um pai humano? Karl Barth, teólogo contemporâneo de linha ortodoxa, rejeita os argumentos de Brunner, chamando-os de "um mau negócio". Wolfhart Pannenberg toma o partido de Brunner, perguntando se os argumentos de Barth a favor da concepção virginal não o colocam "na trilha da mariolatria romana". Para Pannenberg, "a história da concepção virginal traz todas as marcas de uma lenda". Ele conclui: "A teologia não pode manter a idéia da concepção virginal de Jesus como fato miraculoso a ser postulado na origem de sua vida terrena".
De acordo com a teologia modernista, a verdade da concepção pelo Espírito Santo consiste em que Deus foi o autor da salvação realizada através de Cristo desde o início, e não apenas em sua ressurreição, nem na cruz, nem no batismo. Ou seja, desde o momento de sua concepção por Maria. Segundo a linha teológica liberal, a história da concepção virginal de Jesus é vista como um símbolo.
Como fica evidente, o interesse primário da teologia liberal é demolir e esvaziar o sobrenatural da concepção de Jesus. A concepção virginal é por eles chamada de "uma extravagante intervenção no curso da natureza".
Nascimento sobrenatural
Quando o Manifesto do Círculo de Viena (1929), com sua ideologia puramente científica, começou a defender o conteúdo e o método das ciências da natureza como única ferramenta capaz de subministrar uma cosmovisão rigorosa, exata e científica, asseverando que não há mistérios, e sim problemas que podem ser claramente formulados, investigados e resolvidos, acabou por subtrair o sobrenatural, estreitando totalmente o espaço para a fé e para a teologia.
Mas a redução do conhecimento ao campo experimental, que, por sua vez, se baseia no imediatamente dado, elimina da fé a verdadeira natureza do conhece-mento. Contra isso manifestou-se L. Wittgenstein, no seu Tratado lógico de filosofia: "O que se pode em geral dizer, pode-se dizer claramente; e sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar".
É absolutamente impossível falar da concepção virginal de Jesus com a exclusão do sobrenatural. Até porque a Bíblia é um livro que acentua o tempo todo as intervenções sobrenaturais de Deus na história humana. Visto pelo âmbito do sobrenatural, a concepção virginal de Jesus é um dos maiores milagres efetuados por Deus no Novo Testamento.
Lucas, por exemplo, fala do nascimento de João Batista como resultante do sobrenatural e desemboca a sua narrativa no nascimento inusitado de Jesus Cristo: "E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lc 1.35).
A concepção virginal de Jesus, como ação sobrenatural pujante, avilta os círculos da ciência, mexe com os brios dos ateus, desafia a teologia liberal e confunde os agnósticos. Conquanto a Bíblia não se preocupe em descer a detalhes racionais formais, não se exclui de contar o nascimento de Jesus como fato decorrente da intervenção sobrenatural e direta de Deus. De fato, o milagre da concepção virginal de Jesus quebra todas as leis científicas, como também transcende as ciências sociais e humanas, pelo fato de mostrar-se como algo absolutamente inexplicável.
Embora nos últimos dois séculos os teólogos liberais e filósofos modernistas tenham desenvolvido um preconceito contra o sobrenatural, a concepção virginal de Jesus é fato indiscutível no Novo Testamento.
Paulo declara que Jesus é "nascido de mulher" (Gl 4.4). E continua: "[...] grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne [...]" (1 Tm 3.16, grifo nosso). Diz ainda: "[...] sendo em forma de Deus [...] tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp 2.6,7). Desse modo, Paulo ensina a encarnação. As expressões "nascido de mulher" e "gran¬de é o mistério da piedade", por absoluta unanimidade dos biblistas, referem-se à concepção virginal de Jesus.
Prova da concepção virginal
A prova escriturística da concepção virginal de Jesus pode ser vista em alguns dos fatos narrados pelos evangelistas Mateus e Lucas. O primeiro mostra os escrúpulos de José, sua perplexidade e temores, bem como os seus planos de fuga diante da revelação intrigante do anjo. O segundo, Lucas, apresenta o comportamento de Maria, sua fala, suas perguntas, bem como a perplexidade em face da paradoxal revelação.
Do exposto, concluímos que ambos os evangelistas:
a) concordam que a concepção de Jesus foi milagrosa;
b) declaram também que foi predita pelos anjos e c) mostram que nesse nascimento cumpriram-se as profecias: "Portanto, o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel" (Is 7.14).
O dogma da Virgem Maria
O dogma católico da Virgem Maria declara que Maria, mesmo após o nascimento de Jesus, permaneceu virgem. É de Atanásioo distorcido dogma de Maria "Mãe de Deus". Todavia, a Bíblia rebate essa idéia estapafúrdia com uma passagem clássica do Novo Testamento, que mostra claramente que Maria teve filhos e filhas:
Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio, pois, tudo isso? (Mt 13.55,56).
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SOBRE O PECADO

Cremos que o pecado degenerou o homem e, como consequência, destituiu-o da glória de Deus e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo o podem restaurar a Deus (Rm 3.23; At 3.19).
Não há necessidade de se discutir a realidade do pecado. A história e o próprio conhecimento ín¬timo do homem oferecem abundantes testemunho do fato. Muitas teorias, porém, apareceram para negar, desculpar ou diminuir a natureza do pecado. As Escrituras, porém, asseveram: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17.9); "Não há quem faça o bem, não há sequer um" (SI 14.3); "Todos nós andamos desgarrados como ovelhas" (Is 53.6); "Pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos [gentios], todos estão debaixo do pecado" (Rm 3.9); "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós" (1 Jo 1.8).
A pura verdade é que o pecado é uma realidade incontestável, pois está presente tanto na história como na consciência de cada ser humano. Os que tentam relativizar a existência do pecado, exorcizá-la, bani-la, ou até mesmo negá-la, devem atentar para a declaração do velho teólogo Berkroft: "O pecado é uma coisa que existe na realidade, seja latente nos vulcões adormecidos da natureza humana, seja patente na devastadora paixão ardente do homem".
Obviamente, não é preciso dizer que este mundo não é perfeito e nem as coisas são como deveriam ser. As injustiças sociais, as economias iníquas e desequilibradas, as dominações imperialistas, que matam e destroem para impor o seu poder, estão aí para provar a degeneração do ser humano. Além disso, temos a imoralidade, os enganos, o orgulho desmedido, os furtos, a violência rural e urbana, os assassinatos, o abuso de menores, os estupros, as mentiras torpes e premeditadas, as ações maquiavélicas da mais profunda crueldade, levadas a efeito todos os dias na morte dos meninos de rua, nas guerras (derramamento inútil de sangue) com fins políticos e econômicos. Se isso ainda não for suficiente para provar a realidade do pecado aos que o negam, temos ainda o testemunho incontestável das religiões falsas e pagãs que, com seus sacrifícios cruentos, evidenciam o sentimento de culpa pelo pecado que impulsiona os homens a oferecer holocaustos.
E o que dizer da literatura mundial, repleta de ponderações ou citações que exprimem a realidade fatídica do pecado, como um fato triste e reconhecido em toda parte?
Sou uma criatura caída [...] uma base iníqua existia em minha vontade antes de determinado ato (Coleridge).
Todos temos pecado, uns mais, outros menos (Lúcio Aneu Séneca ).
Não vejo em outros qualquer falta que eu mesmo não possa ter cometido (Goethe).
Não penses que tens feito qualquer progresso em direção à perfeição até que sintas que és o menor de todos os seres humanos (Thomas à Kempis).
Cada pessoa tem de condenar-se a si mesma, com jus¬tiça, por ser o maior pecador que conhece (Law).
Depois de todas essas provas exaustivas da pecaminosa condição de todo o gênero humano, não há o que desmentir ou negar: o pecado é uma realidade presente no mundo que "jaz no maligno".
A origem do pecado
Uma vez que é difícil para a mente humana compreender o problema da origem do pecado, podemos dizer que, biblicamente, a primeira demonstração de pecado ocorreu quando Satanás, por causa da soberba, foi expulso da presença de Deus. "E tu dizias no teu coração; Eu subirei ao céu, e, acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu trono, e, no monte da congregação, me assentarei, da banda dos lados do Norte" (Is 14.13). Essa passagem não se refere apenas ao rei de Tiro, mas também, no seu sensus plenior, a Satanás (Lc 10.18).
A soberba e a prepotência foram os elementos que provocaram o primeiro pecado. A essência do pecado é, portanto, arrogância, desejo de ser igual a Deus, a asserção da independência humana contra Deus, a constituição da razão, moralidade e cultura autônomas. "Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?" (Gn 3.1).
O pecado, portanto, originou-se da livre escolha do homem em querer tornar-se como divindade. Pois, disse a serpente à mulher, "sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela" (Gn 3.5,6).
A conseqüência do pecado
Quando Adão, deixando de obedecer a Deus, caiu em transgressão, ele não só prejudicou a si mesmo como também a toda a raça humana, a quem ele representava (Rm 5.12). O primeiro efeito da desobediência de Adão foi à morte, na expressão redundante do hebraico: "morrendo morrerás" (Gn 2.17). Não se tratava tão-somente da morte física, porém, porque fisicamente Adão continuou vivendo, mas da morte espiritual, a separação de Deus (Ef 2.1-5). Por isso quando se dá ã conversão do pecador a Deus, ele (o pecador) recebe vida espiritual, que antes não existia nele em conseqüência da transgressão de Adão (Rm 5.12-14). Á pior conseqüência do pecado é a morte, tanto a espiritual e física quanto a eterna (Gn 3.19; Ap 20.14; 21.8). A morte, na linguagem bíblica, será o último inimigo a ser vencido (1 Co 15.26).
O pecado, portanto, trouxe várias e terríveis conseqüências aos homens, entre as quais a morte eterna, que significa uma existência de sofrimento resultante da separação eterna de Deus numa existência má e degradante.
A natureza do pecado
O caráter santo de Deus é norma absoluta, única e final para o julgamento dos valores morais. Não há, portanto, norma moral à parte de Deus. Logo, pode-se declarar, sem medo de estar errando, que o pecado é mau porque é diferente de Deus.
O pecado, visto por essa ótica, é descrito como transgressão de qualquer das leis de Deus, as quais foram dadas como norma para a criatura racional. O pecado c um ato e um estado da vontade pessoal contra Deus e sua vontade. Origina-se da totalidade da pessoa arraigada e relacionada com aquilo que transcende a mesma pessoa, expressa-se na complexidade da força e da fraqueza da pessoa e resulta na distorção de todas as relações pessoais.
Conforme o ensino das Escrituras Sagradas, todo homem está afastado de Deus pela corrupção do pecado. Essa natureza consiste na perda da justiça original que o homem tinha antes de pecar. Por conseguinte, todo homem está corrompido, e essa corrupção manifesta-se em uma aversão a todo o espiritual, uma inimizade com Deus e uma inclinação positiva para o mal. Portanto, o pecado, em sua natureza, envolve tanto a culpabilidade quanto a corrupção. O estado de pecado em que o homem caiu consiste no crime do primeiro pecado de Adão, na falta de retidão original, na corrupção de toda sua natureza, o que ordinariamente é chamado de pecado original.
Agora, para sustentarmos a doutrina bíblica do pecado original, temos que estabelecer três pontos, a saber:
1. Todos os homens, descendentes de Adão por geração ordinária, estão destituídos da justiça original e sujeitos à corrupção da natureza.
2. A corrupção original afeta todos os homens, não somente no corpo, mas também as faculdades da alma.
3. Sua natureza é tal que antes da regeneração os homens estão completamente indispostos e espiritualmente incapazes e contrários a tudo que é bom (Ef 2.1).
Encerramos citando Karl Barth, teólogo contemporâneo, que define o pecado como uma oposição ao modus vivendi cristocêntrico:
Pecado é tudo aquilo que, visto em Cristo, se caracteriza essencialmente como oposto de sua conduta.


5
SOBRE A SALVAÇÃO

Cremos na salvação presente, imediata, completa e perfeita e na justificação do homem recebidas gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo (At 10.43; Rm 3.24-26; 10.13; Hb 5.9; 7.25).
A doutrina da salvação é uma das mais ricas em toda a Bíblia Sagrada. Ela é o grande dom de Deus aos homens: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8,9). A salvação não é uma conquista humana, e sim um dom de Deus. Nenhum ser humano deve imaginar que os seus méritos possam conquistar a salvação. Primeiramente, porque "todos pecaram"; segundo, porque só através de Jesus Cristo o homem pode ser salvo. É a salvação, como manifestação concreta da graça de Deus, que nos traz a regeneração, a justificação, a santificação, a libertação, a cura e tantas outras bênçãos. Na Epístola aos Romanos, encontramos a grandiosa catedral teológica levantada à salvação. Ali o Espírito Santo, o grande escultor divino, inspira o apóstolo
Paulo a esculpir uma das suas obras-primas acerca do plano presciente de Deus para salvar o homem de seus pecados.
Etimologicamente, a palavra salvação significa "ser tirado de um perigo", "livrar", "curar", "dar escape". A Bíblia fala da salvação como a libertação do tremendo perigo de uma vida sem Deus.
A salvação tem sua origem em Deus, que estabeleceu o seu plano antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Quando o homem (Adão), no jardim do Éden, desobedeceu a Deus, o seu pecado trouxe graves conseqüências aos seus descendentes (Rm 5.12,17-19). Porém Deus não foi apanhado de surpresa. Ele já tinha, no princípio, estabelecido o meio eficaz para salvar o homem. No livro de Gênesis, aparece a promessa de um Redentor: a "semente da mulher" (Gn 3.15; comp. com Gl 4.4 e Is 7.14). Na "plenitude dos tempos", cumprindo-se o que fora prometido, nasce o Salvador em Belém de Judá, e, conforme orientação recebida do anjo Gabriel, enviado da parte de Deus, deram-lhe o nome de Jesus, cuja missão se acha destacada no significado do seu nome (Mt 1.21; Lc 2.11).
Nos dias de seu ministério, quando procurado por Nicodemos (Jo 3.1,2, 16), Jesus revela a razão de sua vinda ao mundo, dentro do que já havia sido estabelecido (Ef 1.4; Ap 13.8). Pela resposta de Jesus a Nicodemos — "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê [...] tenha a vida eterna" —, entendemos que só Ele, Jesus Cristo, pode salvar (At 4.12). No plano de Deus para salvar o homem, estava incluída a morte de Cristo na cruz (Is 53.4-6; Jo 10.17,18; Hb 10.7-14). Paulo acentua a morte de Cristo, destacando que é o único meio pelo qual o homem pode ser resgatado da maldição da Lei (Gl 3.13,14).
Os três aspectos da salvação
1 Justificação. Um dos assuntos mais gloriosos da Bíblia é a justificação. Trata-se de um termo forense e significa "declarar alguém justo", no sentido de absolvição. A justificação descreve a nova condição do homem pecador diante de Deus. O homem, antes culpado e condenado à morte eterna, recebe o perdão dos pecados e simultaneamente é declarado justo por Deus (Rm 8.33). Aos olhos de Deus, o nosso pecado não existe mais (SI 103.12; Mq 7.18,19; Rm 3.23-26). Na justificação, recebemos algo que ultrapassa o perdão, por¬que com o perdão recebemos a quitação dos nossos pecados; com a justificação, porém, Deus nos torna san¬tos, como se nunca houvéssemos pecado (Rm 5.1).
2. Regeneração. A salvação não advém de uma soma de ritos a serem praticados. Ela ocorre instantaneamente na vida de quem sinceramente crê no Senhor Jesus Cristo, e o recebe como Salvador e Senhor. Entretanto, há uma seqüência lógica a ser observada. Jesus disse: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6.44). Ele também declarou: "Quando ele [o Espírito Santo] vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado" (Jo 16.8-11). O instrumento usado pelo Espírito Santo para realizar essa obra é a Palavra de Deus: "De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm 10.17). Vemos, portanto, que na salvação dos pecados há participação efetiva do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Todavia não está restringida a liberdade de escolha do homem: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Esse é o convite feito por Jesus. Cabem ao pecador duas opções: aceitar ou rejeitar (Jo 12.47,48).
As Escrituras falam de muitos apelos feitos ao homem para que ele retorne a Deus (Pv 1.23; Mt 18.3; Jo 7.37). A conversão é a resposta do pecador convicto à chamada de Deus feita pelo Espírito Santo. Há, no arrependimento dos pecados, dois pontos a serem considerados: o lado negativo, que é o sentimento de culpa pela transgressão das leis de Deus e que leva o homem ao arrependimento, e o positivo, a fé.
O arrependimento (methanóia, no grego), que significa "dar meia-volta", "mudança de mente", trata-se de uma mudança de atitude em relação ao pecado, que é abandonado e recusado. O pecador arrependido reconhece a sua culpa diante de Deus, a qual é acompanhada de um sentimento de tristeza pelo pecado cometido (SI 51.1-3,12; 2 Co 7.10).
O lado positivo do arrependimento está no fato de o pecador não somente virar as costas para algo, mas também voltar-se para Deus. É uma atitude de fé, que permite ao ser humano arrependido entrar numa relação positiva com Deus. Isso enfatiza a importância da fé, que é fundamental no relacionamento com Cristo (Hb 11.6).
Concluímos que a regeneração é descrita como o abandono das coisas opostas à vontade de Deus e a entrega total em obediência a Ele. Assim sendo, é um fato que se dá simultâneo à salvação.
3. Santificação. Uma coisa é tornar-se cristão. Outra é viver a vida cristã. Tudo que recebemos na salvação, na justificação e na regeneração se manifesta na santificação. Isso significa vida cristã na prática (1 Ts 4.3; 2 Co 7.1; Hb 12.14). A santificação apresenta três aspectos:
a) Santificação posicional — Nesse sentido, ela é imediata. "Na qual vontade [Deus] que temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo feita uma vez" (Hb 10.10). Esse fato se dá na conversão do pecador: É imediato, total, e coloca o homem na posição de filho de Deus (1 Pe 1.3,4), ou seja, posicionalmente santo (Rm 1.7; Hb 3.1).
b) Santificação progressiva — "Quem é santo seja santificado ainda" (Ap 22.11). Essa santificação acontece no decorrer da vida cristã. Enquanto a santificação posicional é imediata, a progressiva é dinâmica e paulatina. Quanto mais o crente se consagra para Deus, mais santificado se torna (1 Co 7.1). A santificação progressiva aperfeiçoa-se no temor de Deus. Ela é aperfeiçoada com oração, estudo da Palavra de Deus, jejum, e através de uma vida dedicada à obra de Deus (Rm 6.12,13, 22).
c) Santificação completa (absoluta) — Acontecerá por ocasião da redenção do corpo, na ressurreição (Rm 8.22,23) ou no arrebatamento, quando formos transformados.
O novo nascimento
Quando Nicodemos, cujo nome significa "conquistador do povo", foi ter com Jesus à noite, deixou transparecer no seu argumento o próprio significado do seu nome. Ele tentou impressionar Jesus às custas de elogio: "Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele" (Jo 3.2). Toda essa menção elogiosa não impressionou Jesus, que em contrapartida lhe respondeu sobre a necessidade do "novo nascimento", o que nada tinha a ver com os elogios de Nicodemos.
Nicodemos deixa transparecer em suas palavras que não entendia nada a respeito do novo nascimento, apesar de ser ele mestre em Israel. Foi então que Jesus passou a ensiná-lo sobre o significado e como acontece o novo nascimento: "Aquele que não nascer da água e do Espírito..." (Jo 3.5).
Há quem confunda novo nascimento com batismo em água. Só que esse argumento não tem consistência por falta de embasamento bíblico. Ninguém é batizado em água para nascer de novo, porque só se batiza quem já é nascido de novo.
A palavra "água", citada no texto, refere-se à Palavra de Deus, como o confirmam as próprias Escrituras. Paulo, em Efésios 5.26, apresenta a Palavra como água que santifica a Igreja ("[...] para a santificar pela lavagem da água, pela palavra de Deus"). Jesus também declara, em João 15.3: "Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado". Vemos então que a Palavra de Deus é um dos elementos fundamentais para que se possa nascer de novo.
Jesus acrescenta ainda à água a expressão "Espírito". Isso quer dizer que o novo nascimento não resulta apenas da ação da Palavra, mas também da do Espírito Santo, concordando com o que está escrito em João 16.8: "Quando ele [o Espírito Santo] vier, convencerá o mundo do pecado [...]". Assim, entendemos que, aplicando o Espírito Santo a Palavra de Deus à consciência e ao coração do pecador e recebendo este com sinceridade a verdade de Deus, acontece de imediato e de forma sobrenatural o que chamamos de novo nascimento: "Ele nos gerou de novo pela palavra da verdade [...] em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma" (Tg 1.18,21).
É do homem também uma parcela de responsabilidade no novo nascimento. Quando Tiago escreve que devemos receber "com mansidão a palavra em vós enxertada" e o escritor aos hebreus que "a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram", concluímos que o homem tem a responsabilidade de aceitar a Palavra.
Com a operação da água — a Palavra de Deus — e do Espírito Santo, qualquer criatura humana pode nascer de novo. Aliás, isso continua acontecendo, quan¬do os mensageiros de Cristo anunciam o Evangelho, levando a Palavra, sob a unção do Espírito Santo, aos que ainda não foram alcançados para a salvação.
O novo nascimento contrasta com o nascimento natural. Jesus foi enfático ao responder a Nicodemos (Jo 3.6) que o novo nascimento nada tem a ver com a dou¬trina da reencarnação. Isso também está claro em João 1.13, que nos mostra a grande diferença entre nascer da vontade da carne, da vontade do varão, e nascer da vontade de Deus. Por ser o novo nascimento uma obra exclusiva do Espírito Santo e do poder da Palavra de Deus, não basta nascer num lar evangélico para alcançá-lo, porque "filho de crente não é crente".
Deus tem uma família na terra (Ef 2.20; 3.14,15) composta por aqueles que nasceram de novo conforme a recomendação de Jesus a Nicodemos: "Necessário vos é nascer de novo..."

6
SOBRE O BATISMO EM ÁGUAS

Cremos no batismo bíblico efetuado por imersão do Corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12).  
O batismo em águas (do grego baptzõ, "mergulhar", "submergir") é uma das duas ordenanças que Cristo deixou à Igreja (Mt 28.19). Através do batismo, o novo convertido, que já faz parte do Corpo de Cristo pelo novo nascimento, dá o seu testemunho público do que lhe aconteceu. Trata-se, portanto, de uma confissão pública de fé em Cristo, por intermédio de atos e palavras, onde o batizando mostra ter aceitado plenamente as verdades da Bíblia Sagrada.
No ato do batismo em águas, o convertido mostra ter morrido para o mundo e renascido para Cristo, para viver agora em "novidade de vida" (Rm 6.4).
As águas do batismo não visam limpar os nossos pecados. O Novo Testamento mostra claramente ser o sangue de Jesus, e não as águas do batismo, o que nos purifica e perdoa. Mediante o sangue de Jesus somos justificados, nossa consciência é purificada e somos redimidos (Rm 5.9; Hb 9.14; 1 Pe 1.18,19).
Embora a igreja católica e algumas denominações evangélicas pratiquem o batismo por aspersão ou efusão, a história e a etimologia do verbo grego baptzõ mostram ser a imersão a forma bíblica.
Pedro, ao falar sobre o batismo para "perdão dos pecados" (At 2.38), usou a mesma expressão grega utilizada por João Batista, quando este afirmou: "E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento" (Mt 3.11). O batismo de João Batista não produzia o arrependimento, mas apontava para ele. Assim também a expressão petrina. "Para perdão dos pecados" significa "por causa do perdão dos pecados" ou "como testemunho de que os vossos pecados foram perdoados". Nesse caso, o batismo tornou-se não somente um testemunho, mas um compromisso de viver uma nova vida no poder do Cristo ressuscitado.


O batismo em águas é só para os convertidos
De acordo com a Bíblia o batismo em águas é somente para os que já se converteram a Cristo. Jesus ordenou a seus discípulos: "Portanto, ide, ensinai [fazei discípulos em] todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".
Observe que a ordem do texto é fazer primeiro discípulos e depois batizar. Em Marcos 16.16, o crer vem antes do batismo. Quando Filipe pregava e em nome de Deus realizava milagres, as pessoas criam e então eram batizadas (At 8.12). Essas pessoas foram batizadas sempre depois de terem crido. Em alguns casos, pessoas receberam o batismo com Espírito Santo antes de serem batizadas em águas, mas está bem claro que o batismo em águas é somente para aqueles que confessam Cristo como Salvador.
Considerando todos esses exemplos, chegamos a conclusão de que não devemos, em hipótese alguma, batizar crianças, pois elas, não tendo ainda chegado à idade da razão, não têm nenhuma capacidade de confessar a Cristo como Salvador.
A Bíblia é contra o rebatismo
O batismo em águas deve ser ministrado uma só vez. É nesse sentido que Paulo escreve aos Efésios: "[...] uma só fé; um só batismo" (Ef 4.5).
O batismo
O modo. A palavra "batizar", usada na fórmula de Mateus 28.19,20, significa literalmente, como já foi explicado, "mergulhar" ou "imergir, submergir". Alguns, mesmo pertencendo a igrejas que batizam por aspersão, admitem que a imersão é o modo primitivo de batizar.
A fórmula. "[...] batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Há quem confunda a declaração de Pedro em Atos 2.38 com a fórmula citada em Mateus 28.19. As palavras proferidas por Pedro não representam uma fórmula batismal, e sim uma declaração de que as pessoas que reconheci¬am Jesus como Senhor e Cristo recebiam batismo.
A Didaquê, um documento escrito aproximadamente no ano 100 d.C, fala do batismo cristão celebrado em nome do Senhor Jesus Cristo. Mas o mesmo documento, ao descrever o rito detalhadamente, usa a fórmula trinitária. Por ser essa a determinação de Jesus, os que nele crêem e o recebem como Senhor jamais deveriam mudar a fórmula por Ele estabelecida.
Quem deve se batizado. Todos os que sinceramente se arrependem de seus pecados e recebem a Cristo como Salvador e Senhor são elegíveis para o batismo (At 2.4). O batismo em águas é uma confissão pública de fé em Cristo, por intermédio de atos e palavras, na qual o batizando mostra ter aceitado plenamente as verdades concernentes à encarnação, à morte e à ressurreição de Cristo.
No ato do batismo, o convertido mostra ter morrido para o mundo e renascido para Cristo, vivendo agora em novidade de vida. Concluindo, o batismo em águas, em si, não tem nenhum poder de salvar uma pessoa. Mesmo porque não se batiza alguém para ele ser salvo, e sim porque já é salvo.

7
SOBRE O ESPÍRITO SANTO

Cremos no Espírito Santo como a terceira Pessoa da Trindade, genuíno Deus, eterno, onipotente, onipresente e onisciente (Jo 16.13,14).
Sobre a doutrina acerca do Espírito Santo, urge prevenirmos os mal-entendidos. Isso porque o tipo de relacionamento que a maioria dos cristãos vem tendo com o Espírito Santo, a terceira Pessoa da Trindade, é absolutamente estranho e ao mesmo tempo paradoxal, quando analisado à luz da nossa declaração de fé, que diz: "Cremos [...] em um só Deus eternamente subsistente em três Pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo".
Esse relacionamento resulta, ao que tudo indica, da má compreensão das metáforas que a Bíblia usa para caracterizar algumas das manifestações do Espírito Santo, aliada ao uso exaustivo, sistemático, repetitivo e exagerado de simbologia em algumas culturas pentecostais. Isso fica provado quando ouvimos e analisamos as orações feitas ao Espírito Santo, quando lhe atribuímos apenas poder energético. Já parou para observar como nós oramos: "Ó Deus, manda a força do Espírito, o poder do Espírito, a unção do Espírito e nos enche de sua virtude..."?
De fato o Espírito Santo é força, poder, mas é sobre tudo a terceira Pessoa da Trindade, a) Ele pode entristecesse (Ef 4.30); b) Ele é capaz de sentir ciúmes (Tg 4.5); c) Ele é capaz de sentir conosco as agonias da nossa existência (Rm 8.26,27); d) Ele é capaz de ensinar (1 Co 2.11,13); e) Ele tem vontade (1 Co 12.11); f) Ele ama (Rm 15.30).
A razão principal de muitos cristãos não viverem em íntimo e profundo relacionamento com o Espírito Santo como Pessoa e como Deus está no hábito mental adquirido de imaginá-lo sempre como algo, e não como Alguém. Toda essa dificuldade que a maioria tem de se relacionar com o Espírito Santo, de vê-lo como uma Pessoa que fala, sente, ouve, ama, é em razão do uso exagerado da simbologia a Ele referente.
Quem está acostumado a só ouvir que o Espírito Santo é como fogo, vento, chuva, orvalho, pomba etc., jamais conseguirá enxergá-lo como uma Pessoa, imaginá-lo-á sempre de forma impessoal. Por essa percepção distorcida em relação a terceira Pessoa da Trindade, um escritor norte-americano denominou o Espírito Santo de "fulano", no seu livro Pai, Filho e Fulano. Até hoje o Espírito Santo é tratado de forma impessoal, sem que lhe demos a honra, o louvor e a adoração devidos. Não podemos esquecer que o Espírito Santo é o Deus presente entre nós.
A teologia de Jesus acerca do Espírito Santo é bastante clara no Evangelho de João (cf. Jo 16.13,14). A palavra de ordem nesse evangelho é que o Espírito Santo seria enviado em lugar de Jesus para ajudar os homens em todas as suas carências (Jo 14—16). O termo grego aqui traduzido por "outro" é ãllõn, e não hëteron, significando que o Espírito Santo é outro ajudador, separado e distinto de Cristo, embora da mesma "espécie", e não uma forma distinta ou separada de ajudador. Ele é a continuação do Senhor Jesus entre nós, embora sob uma manifestação ou presença de categoria diferente. Jesus procurou consolar os seus discípulos mostrando-lhes que, embora fosse ocorrer em breve alguma modalidade de separação entre Ele e os seus seguidores, em outro sentido bem real Ele haveria de permanecer com eles para todo o sempre, porque o Espírito Santo haveria de descer para estar no meio deles e com eles.
João 16.13,14, deixa claro que o relacionamento do Espírito Santo com Jesus seria na mesma base do relacionamento que este mantinha com o Pai. Jesus dizia que nada do que falava era de si mesmo, mas do Pai. Da mesma forma o versículo acima declara que o Espírito Santo tem o mesmo tipo de comportamento para com Jesus. Isso quer dizer que a única maneira de se conhecer o Filho de Deus é por meio da comunhão com o Espírito Santo.
Observe que é exatamente isso o que Jesus revela nas suas clássicas palavras registradas em João 14.7,10: "Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis e o tendes visto. [...] As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras".
Comparando esses versículos com os versículos 13 e 14 do capítulo 16 do mesmo evangelho, chegamos às seguintes conclusões:
a) Assim como Jesus veio ao mundo para glorificar o Pai, o Espírito Santo está entre os homens para glorificar Jesus com as suas obras.
b) Assim como Jesus é o Mediador entre Deus e os homens, o Espírito Santo é o Mediador entre Jesus e a sua Igreja.
c) Assim como Jesus não falava de si mesmo, mas do Pai, o Espírito Santo também não fala de si mesmo, mas nos revela tudo o que tem ouvido de Jesus.
d) Assim como Jesus veio ao mundo para revelar o Pai, o Espírito Santo está no mundo para revelar Jesus aos homens.
e) Assim como Jesus nos revela as profundezas de Deus, só o Espírito Santo pode revelar-nos profundamente a Pessoa de Jesus.
f) Assim como Jesus glorificou o Pai em toda a expressão de sua vida e não deixou de ser adorado, louvado, exaltado, o Espírito Santo glorifica a Jesus em todas as suas manifestações, mas isso não impede que Ele receba as nossas orações, adorações, louvores, exaltações, pois Ele é Deus.
g) Assim como Jesus é o único caminho para Deus, o Espírito Santo cumpre o papel de convencer o pecador de que Jesus é o único caminho para Deus.
O batismo com o Espírito Santo
O batismo com o Espírito Santo é uma bênção distinta da salvação. Conquanto a terceira Pessoa da Trindade tenha papel relevante na conversão e passe, desde então, a habitar no novo crente, o Novo Testamento deixa claro que há um momento específico da vida cristã em que o salvo recebe esse batismo, também chamado de revestimento. Essa experiência, toda vez que é mencionada no livro de Atos dos Apóstolos, aparece como algo distinto do novo nascimento (At 2.38; At 11.12-17).
Com o surgimento do neopetencostalismo, vieram também à tona várias teorias diferentes sobre a evidência inicial do batismo no Espírito Santo. Há quem afirme ser essa evidência uma explosão de alegria, outros inserem no ato de ungir com óleo a garantia do batismo e alguns preferem deixar a questão em aberto, sem determinar uma fórmula específica.
Mas a Bíblia continua sendo o nosso padrão nessa área, identificando o falar em línguas como a evidência inicial do batismo no Espírito. Foi assim no dia de Pentescoste (At 2.1-31). A experiência repetiu-se por ocasião da conversão de Cornélio e de sua família (At 10.45,46), bem como com a chegada do apóstolo Paulo em Éfeso, em sua primeira viagem missionária (At 19.1-6). Nesses casos, o fenômeno que indicava o batismo era o falar em línguas. Mesmo no episódio da evangelização de Samaria, quando os apóstolos impuseram as mãos para que os crentes recebessem o Espírito Santo, fica implícita a idéia de um fenômeno físico, visível, que levou o mágico Simão a ambicionar a possibilidade de exercer o mesmo milagre (At 8.14-24). Pelo contexto de Atos, o que poderia ser senão o falar em línguas? Assim as línguas identificam o crente quando este é batizado no Espírito Santo.
O batismo no Espírito Santo tem como finalidade capacitar o crente para a vida cristã vitoriosa e, sobre tudo, para testemunhar com ousadia sobre a sua fé em Cristo, mesmo nas circunstâncias adversas, em que as convicções espirituais podem até ser provadas pelo martírio. Nessas horas, é o poder advindo do batismo no Espírito Santo que dará força ao crente para suportar a dura prova da perseguição (At 13.44-52).
Por isso, vale a pena estimular os crentes buscar o batismo no Espírito Santo.
Os dons espirituais
O Brasil e o mundo têm vivenciado, nos últimos setenta anos, uma efervescência de dons espirituais, em razão da redescoberta do poder do Espírito Santo. Evidentemente, muitas coisas nos meios pentecostais e neopentecostais são expressões de excessos e de imaturidade, todavia, conquanto precisem de alguns ajustes bíblicos, os movimentos pentecostal e neopentecostal refletem uma ação efetiva, nova e revolucionária do Espírito Santo na vida da igreja atual.
Assuntos tais como milagres, línguas estranhas, profecias, considerados anacrônicos, obsoletos ou verdadeiros apêndices por algumas denominações tradicionais foram redescobertos e liberados das algemas dos dogmas e das sistemáticas denominacionais. O Espírito Santo deixou de ser teoria para ser Alguém real — Deus presente e adorado pela igreja, causando extre¬mo impacto aos denominacionalistas históricos.
Faz-se necessário dizer que esses movimentos divinos vêm sempre como contraponto a uma situação de morbidez, frieza e indiferença na área da devoção, da missão e dos objetivos, razão por que a proposta essencial dos grandes avivamentos da história foi consertar erros de percurso tomados pela Igreja. Assim foi entre o catolicismo e o protestantismo; depois, entre o protestantismo e movimento evangélico; depois, entre o movimento evangélico e o pentecostal. Todas essas mudanças fazem parte do mover de Deus na história, mudando o status quo da Igreja, principalmente quando este já não atende aos apelos do Reino de Deus.
Acerca dos dons espirituais temos cinco considerações a fazer:
1. Não se pode restringir nem absolutizar o número de dons. O Novo Testamento não traz uma lista exaustiva e específica de dons, isso porque cada lista acrescenta algo à outra. Enquanto Romanos 12.6-8, por exemplo, apresenta uma lista característica de dons, 1Coríntios 7.7 exibe outra; já os capítulos 12 e 14 de 1
Coríntios apresentam outros dons, que não encontramos nas duas primeiras listas. Efésios 4.11-13 apresenta uma quarta lista, e, finalmente, 1 Pedro 4.10,11 compõe uma quinta. Ou seja, as listas são diversas — umas com mais, outras com menos dons; umas nas quais faltam dons, outras em que eles são acrescentados. Logo, não devemos dogmatizar a respeito do assunto, afirmando que os dons existentes são aqueles acerca dos quais o Novo Testamento fala. Primeiro, porque o Novo Testamento não nos oferece uma lista exaustiva de dons. Segundo, porque cada escritor deixou de citar uma série, que outros mencionam o que significa que na mente deles não havia a sistematização que encontramos em alguns livros atuais.
2. Os dons são mais numerosos do que aqueles que o Novo Testamento apresenta. A indicar pelo estudo do Novo Testamento, concluímos que os dons podem ser mais numerosos do que aqueles que comumente aceitamos. De qualquer maneira, porém, todos os dons têm que, fundamentalmente, fazer sentido com o espírito geral das Escrituras. Ou seja, Deus é soberano para prover novas formas de manifestar a sua graça através da vida humana.
3. Dons espirituais são diferentes de talentos naturais e de habilidades adquiridas. Talentos e habilidades podem ser também usados na obra de Deus. No entanto quem os usa apenas de forma natural ficará muito aquém das suas reais possibilidades como homem ou mulher de Deus. Estará também desprezando algo que, afinal de contas, foi providenciado por Deus "a cada um para o que for útil” (1 Co 12.7). E não devemos nos contentar com menos do que aquilo que Deus tem para nós.
4. Dons espirituais não são para transformar pessoas em seres superespirituais nem para tomar alguém melhor ou superior a outros crentes. O batismo no Corpo de Cristo, que é diferente do batismo com o Espírito, coloca-nos em situação de igualdade com os demais membros do Corpo, criando entre nós uma união essencial.
5. Todos os dons são importantes, até os menos aclamados pela teologia sistemática. Temos um problema sério aqui, porque muitos pentecostais tendem a classificar alguns dons como mais importantes que outros. Mas a verdade é que todos obedecem a uma ordem de utilidade comunitária. Apresentamos, a seguir, alguns desses dons não tão proclamados nos meios pentecostais.
a) O dom de serviço (no grego, diakonia, Rm 12.6-8) — Desse vocábulo deriva a palavra "diácono". Geralmente o termo significa o cuidado das necessidades físicas (At 6.1,2). A pessoa que serve a outrem guiada pelo dom do Espírito faz, por vezes, o mesmo que outros fariam simplesmente por motivos humanitários. Mas há, sem dúvida, duas diferenças notáveis: o dom espiritual resulta numa maior efetividade, graças ao poder sobrenatural, e o motivo será certamente o que Pedro indicou: "[...] para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo [...]".
b) O dom do ensino (no grego, didakson, Rm 12.6) — Esse dom tem por finalidade instruir e consolidar os outros na verdade do Evangelho. Os dons descritos na lista da Primeira Carta aos Coríntios como "palavra da sabedoria" e a "palavra da ciência [ou do conhecimento]" estão estreitamente relacionados com o dom de ensinar. O ensino não se limita às palavras, é também produzido através do exemplo e da influência sutil do caráter daquele que ministra o ensino.
c) O dom de exortar (Rm 12.6-8) — O termo grego para "exortar" éparakleto, que significa "ajudador" — literalmente, "ir em socorro de alguém" em qualquer necessidade. É uma espécie de "estimulador da fé". Encorajamento ou conforto é a aplicação desse dom, "pondo um coração novo" naqueles que tenham sofrido derrotas ou perdas ou que estejam sob provações.
d) O dom de contribuir — Significa mais do que dar no sentido filantrópico. Significa dar com o coração cheio do amor de Deus. Isso significa que esse dom vai além da mordomia cristã.
e) O dom de presidir (ou governo, Rm 12.8). Literalmente, significa "tomar o comando ou diretivas de qualquer grupo". Duas palavras são utilizadas no Novo Testamento com respeito a esse dom: proístemi (Rm 12.8) e kybérnesis (1 Co 12.28). A primeira significa "estar à frente, comandar", e a segunda, "administrar", conceitos que se entrelaçam. A palavra adjetivamente relacionada ao dom de presidir é "diligentemente", isto é, com sinceridade, zelo, e de forma metódica. O governo exige visão, paciência, consistência quanto a objetivos e força de von¬tade para continuar quando outros desistem. Quem governa deve governar em cima de cada situação, ser interessado, não afrouxar nos padrões de controle, estar sempre à frente, tocando as coisas com garra. É também quem planeja e induz os outros a se empenharem na realização dos planos. É uma espécie de organizador de programas.
f) O dom da compaixão (Rm 12.8) — O portador desse dom sente alegria, tem empatia, se compadece da dor do próximo, é misericordioso para com os irmãos, ajuda quem não tem condições de ajudar-se a si mesmo. O dom da compaixão move as ações sociais mais sublimes.
g) O dom do socorro (1 Co 12.28) — Os que possuem tal dom geralmente investem a sua vida na perspectiva de serviço aos cristãos em dificuldades. São aquelas pessoas que receberam do Espírito Santo a sensibilidade para detectar problemas sérios, pressentir onde estão os verdadeiros carentes, experimentando prazer em permanecer junto deles.
A segunda lista paulina de dons espirituais encontra-se em 1 Coríntios 12.7-11. Algumas diferenças apreciáveis são evidentes quando a comparamos com a lista da Carta aos Romanos. O único dom comum às duas listas é o da profecia, o qual Paulo considera, em 1 Coríntios 14, superior aos demais. Sugeriu-se que os dons mencionados na Carta aos Romanos são parte da vida cotidiana da comunidade cristã, sendo que a esse grupo de dons pertenceriam os mais extraordinários, os mais transitórios e os menos universais. O fato de as listas serem tão diferentes mostra-nos que os dons espirituais abarcam um número de capacidades para muito além do que aquilo que geralmente pensamos. É possível que a diferença existente entre as duas listas sugira a situação de cada uma das igrejas a que Paulo escreveu. A igreja em Roma parece ter sido uma comunidade bem mais estável e espiritual. Não estava envolvida em lutas internas nem sob o ataque de doutrinas heréticas. A igreja em Corinto, ao contrário, era a que dava mais problemas na época. Estava dividida em facções (1 Co 1.10—3.23), revoltada contra a autoridade de Paulo (4.1-21), maculada pela imoralidade (5.1-13) e por litígios (6.1-8). As suas ceias haviam-se convertido em glutonarias e bebedices (11.8-34). Doutrinas heréticas eram toleradas até o ponto de uma negação geral da ressurreição (15.1-8). Nota-se uma melhoria no intervalo entre a primeira e a segunda epístola, mas ainda estava muito longe de ser uma igreja estável (2 Co 13.1-10).



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SOBRE A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

Cremos na segunda vinda premilenial de Cristo, em duas fases distintas. A primeira, invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja da terra, antes da grande tribulação; a segunda, visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (Zc 14.5; 1 Ts 4.16, 17; 1 Co 15.51-54; Jd 14; Ap 20.4).

Há alguns aspectos a destacar sobre a vinda de Jesus Cristo que formam o alicerce da doutrina escatológica exarada nas Escrituras Sagradas, das quais não podemos nos afastar, pelo fato de serem o cerne da doutrina sobre as últimas coisas. Se não, vejamos:
O fato de sua vinda
O fato da vinda de Jesus é mencionado mais de trezentas vezes no Novo Testamento. O apóstolo Paulo refere-se ao evento umas cinqüenta vezes. A vinda de Jesus é uma das mais importantes doutrinas do Novo Testamento. Assim disse o apóstolo dos gentios: "Se esperarmos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens" (1 Co 15.19).
Á maneira de sua vinda
Será de maneira pessoal (Jo 14.3; At 1.10,11; 1 Ts 4.16; Hb 9.28; Ap 22.7). Há quem discorde da opinião de que a vinda de Jesus seja literal e pessoal. Outros há que ensinam que a morte é a segunda vinda de Jesus. A Bíblia mostra, porém, que a segunda vinda de Jesus não tem nada a ver com a morte, pois os mortos em Cristo ressuscitarão nessa ocasião. Quando o crente parte para a eternidade, ele vai para a presença de Deus, mas na vinda de Jesus é Ele que vem para nos buscar (Fp 3.20,21). Alguns sustentam que a vinda de Jesus foi a descida do Espírito Santo no dia de Pentecoste. Outros, no entanto, ensinam que Cristo veio no tempo da destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C.
Nenhuma dessas afirmações tem base bíblica. Na vinda de Jesus, haverá duas coisas importantíssimas: a ressurreição dentre os mortos e a transformação dos crentes que estiverem vivos. Esses dois fatos não ocorreram ainda, mas acontecerão no dia da vinda de Jesus. (1 Ts 4.16-18).
A vinda de Jesus, ainda que oculta aos olhos do mundo será literal e pessoal. Isso é possível porque, após a sua ressurreição, Jesus foi visto diversas vezes pelos discípulos. Porém, o mundo não o viu sequer uma vez. Enquanto a vinda de Jesus será motivo de glória para aqueles que o esperam, será de sofrimento e agonia para os ímpios.
O tempo de sua vinda
Muitos já tentaram determinar a data da vinda de Jesus, mas em nenhuma delas "o Senhor veio na hora marcada" pelos homens. Antes, os que tentaram estabelecer datas ficaram envergonhados pelo fato de Jesus não ter vindo segundo suas previsões. "Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder" (At 1.7).
O dia da vinda de Jesus não foi revelado a ninguém. É um mistério oculto em Deus que será revelado somente quando Jesus vier. Nós sabemos como será, mas não sabemos quando será (Mt 24.36). Segundo o que diz a Escritura, o arrebatamento da Igreja terá lugar no céu e nas nuvens (1 Co 15.51,52; 1 Ts 4.16). A palavra de Deus revela-nos que será de forma repentina.
Os destaques da vinda de Jesus
Há uma diferença entre o arrebatamento e a vinda de Jesus em glória. Primeiro Ele vem para os seus (Jo 14.3). Depois, Ele vem com os seus (Mt 24.30; Ap 1.7).
O Tribunal de Cristo
Após o encontro da Igreja com o Senhor Jesus nos ares, por ocasião do arrebatamento (1 Ts 4.17), o povo de Deus que foi arrebatado, já com o corpo glorificado, comparecerá perante o Tribunal de Cristo (2 Co 5.10), para que as suas obras realizadas na terra, atra¬vés do corpo, em prol da causa do Evangelho, sejam aprovadas (1 Co 3.12-15), a fim de que recebam (ou não) galardão.
Em Apocalipse 22.12 está escrito: "E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra". Paulo faz referência a isso em 2 Timóteo 4.8, quando diz que a "coroa da justiça" lhe será entregue. Pedro diz que "quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória" (1 Pe 5.4).
No Tribunal de Cristo todos os que foram arrebatados — ressuscitados e transformados —, irão receber galardão "segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal" (2 Co 5.10).
O que será julgado
Não se trata de julgamento dos pecados, pelo fato de terem sido eles julgados em Cristo por ocasião de sua morte (1 Jo 1.7; 1 Pe 2.24), pois Jesus não recorda jamais aquilo que perdoou (Hb 8.12). No Tribunal de Cristo, o julgamento não será de condenação (Rm 8.1; Jo 5.24), mas da qualidade do trabalho prestado na obra de Deus (1 Co 3.12,13). Por outro lado, se o ser-viço prestado foi tão-somente para a glória pessoal, haverá detrimento (1 Co 3.13-15), mas não estará em jogo a salvação, somente o prejuízo de não se receber galardão (Mt 6.2,5,16).


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SOBRE O JUÍZO VINDOURO

Cremos no juízo vindouro que recompensarei os fiéis e condenará os infiéis (Ap 20.11-15).
A segunda vinda de Jesus, na sua segunda fase, também resultará no grande julgamento final. Para muitos, essa é uma das perspectivas mais assustadoras com respeito ao futuro. Mas, enquanto os ímpios entram em perplexidade por causa da esmagadora realidade do Juízo Final, os cristãos fiéis, ao contrário, aguardam o fato com alegria e efusivo júbilo.
Os objetivos do Juízo Final
Ao estudarmos sobre o Juízo Final na Bíblia Sagrada, devemos ter em mente que seu objetivo não é verificar nossa condição ou estado espiritual, pois Deus já o conhece. Antes, seu objetivo é manifestar publicamente a nossa condição.
Interpretações
Alguns interpretam o Juízo Final de forma cíclica, como se os eventos que ocorrem dentro da história fossem, na realidade, um julgamento sobre o mundo. É de Friedrich Schelling a idéia de que a história do mundo é o julgamento do mundo.
Contra essa opinião, a Bíblia tem a dizer o seguinte:
O Juízo Final é um evento definido que ocorrerá no futuro. Jesus aludiu a ele em Mateus 11.24: "Porém eu vos digo que haverá menos rigor para os de Sodoma, no Dia do Juízo, do que para ti".
As Escrituras especificam que o julgamento ocorrerá após a segunda vinda de Cristo. Jesus disse: "Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras" (Mt 16.27). Essa idéia também é encontrada em Mateus 13.37-43, 24.29-35, 25.31-46 e 1 Coríntios 4.5.
Quando ocorrerá o Juízo Final
De acordo com a Palavra de Deus, o juízo do trono branco (Ap 20.11,12) acontecerá no "fim" (1 Co 15.24), após o Milênio, quando a última revolta de Satanás tiver sido esmagada (Ap 20.10,11).
Deus é juiz (Rm 2.16), mas deu ao Filho o direito de julgar (Jo 5.22,27; At 10.42). Jesus, que esteve na terra, enviado por Deus como Salvador e com autoridade para perdoar pecados, agora aparece no Apocalip¬se como Juiz para julgar (1 Pe 4.5). No julgamento final, a Igreja glorificada terá a sua participação (1 Co 6.2,3).
Haverá ressurreição dos mortos (Jo 5.28,29). Essa ressurreição é distinta daquela que se dará no dia do arrebatamento (1 Ts 4.16), pois se trata da ressurreição de todos os mortos, desde Adão.
Quem comparecerá diante do trono branco
Todos os que morreram do princípio da criação até o fim do Milênio, ressuscitarão naquele dia e comparecerão diante do trono branco (Ap 20.11,15) para serem julgados.
O Juiz do trono branco
Embora se fale em Deus como o Juiz (Hb 12.23), fica evidente, por algumas referências, que Ele delegará essa autoridade ao Filho. Jesus mesmo disse: "O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo. E deu-lhe o poder de exercer juízo, porque é o Filho do Homem" (Jo 5.22,27; cf. At 10.42). Paulo afirma que Cristo julgará os vivos e os mortos: "Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino" (2 Tm 4.1).
Conquanto não saibamos os detalhes, há referênci¬as claras na Bíblia de que a Igreja tomará parte do julgamento final. Em Mateus 19.28 e Lucas 22.28-30, Jesus dá a entender que os discípulos julgarão as 12 tribos de Israel. Também lemos que os crentes se assentarão em tronos e julgarão o mundo (1 Co 6.2,3; Ap 3.21; 20.4).
Todos os anjos malignos serão julgados
Assim como todos os ímpios serão julgados (Mt 25.32; 2 Co 5.10; Hb 9.27), todos os anjos malignos serão julgados nessa ocasião. Pedro escreve que "Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas,havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadei¬as da escuridão, ficando reservados para o Juízo" (2 Pe 2.4). Judas 6 traz uma declaração quase idêntica. Os anjos bons, por outro lado, participarão do julga-mento, tendo a responsabilidade de reunir todos os que serão julgados (Mt 13.41; 24.31).
O julgamento do trono branco é irreversível
Uma vez concluído, o julgamento será permanente e irrevogável. Os justos e os ímpios serão enviados para as suas respectivas habitações, que serão definitivas. Não há indício de que o veredicto possa ser mudado. Ao concluir seu ensino sobre o julgamento final, Jesus disse que os que estiverem à sua esquerda irão "para o tormento [castigo] eterno", mas os justos ingressarão na "vida eterna" (Mt 25.46).


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SOBRE A VIDA ETERNA

Cremos na vida eterna de gozo, de justiça e felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento para os infiéis (Ap 20.11-15).

Novo Testamento acentua mais a ressurreição do corpo do que aquilo que acontece imediatamente depois da morte. A morte continua sendo uma inimiga cruel, mas já não é para ser temida (1 Co 15.55-57; Hb 2.15). Para o crente, o viver é Cristo e o morrer é lucro. Isso significa que morrer é receber mais de Cristo (Fp 1.21). Logo, morrer e estar com Cristo é muito melhor que permanecer no corpo presente, embora devamos ficar aqui enquanto Deus considera que isso seja necessário (Fp 1.23,24). Depois disso, a morte nos trará o repouso ou cessação das nossas labutas e sofrimentos terrestres e a entrada na glória (2 Co 4.17; cf. 2 Pe 1.10,11; Ap 14.13). ***
A descrição que Jesus faz em Lucas 16 sobre o pós-morte é reveladora e de extremo impacto. Em primeiro lugar, mostra que os destinos tanto dos ímpios quanto dos justos não poderão ser mudados depois da morte. E, em segundo lugar, que depois da morte se segue o juízo (Hb 9.27).
O inferno como lugar de tormento eterno
Embora o homem moderno tenha dificuldades para entender a doutrina bíblica sobre o inferno, as Escrituras afirmam-lhe uma existência real. Não se trata apenas de um estado subjetivo da pessoa sem Cristo no além, e sim de um lugar. Muitas passagens bíblicas dão conta de sua existência como um lugar para onde os ímpios irão (Mt 25.41,46; Mc 9.45,46; Lc 16.19-31; 2 Ts 1.7-9; Ap 20.10; 21.8).
Conforme Zacarias de Aguiar, o termo mais usado para designar o destino final dos ímpios sugere uma localidade. A idéia de punição eterna é derivada da palavra hebraica ge hinnon ("vale de Hinom") e do seu correspondente grego gehenna, termo que é tra¬duzido por "inferno" e que originalmente indicava um vale próximo de Jerusalém, o vale de Hinom, onde os pagãos sacrificavam os seus filhos ao ídolo Moloque. Depois passou a ser um vale onde as impurezas da cidade eram queimadas diuturnamente, com fogo que nunca se apagava. Assim, gehenna ("inferno") passou a ser um lugar de imundícies e de destruição, transformando-se num símbolo do juízo divino. ****
No Novo Testamento, gehenna é visto como uma "fornalha de fogo" onde "haverá pranto e ranger de dentes" (Mt 13.42,50), lugar "onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga" (Mc 9.48). O inferno é lugar de castigo escatológico de eterna duração (Mt 25.46). É o lugar de castigo para os ímpios bem como para satanás e os demônios (Mt 25.41), a besta e o falso profeta (Ap 19.20; 20.10) e também a morte (Ap 20.14). Outras expressões equivalentes são "fogo eterno", "lago de fogo", "lago ardente de fogo e enxofre". Inferno, portanto, é um lugar real.
Destinações diferentes
Em Daniel 12.2 lemos: "E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno" (grifo nosso).
Esse versículo, como tantos outros pronunciados por Jesus Cristo, no Novo Testamento, revela que após o julgamento final o destino dos justos será um, e o dos ímpios, outro. Os justos irão para o descanso eterno, e os injustos, para o tormento eterno.
Lucas 16 mostra a irreversibilidade desse fato. O rico, que representa todos aqueles que vivem para si mesmos, numa total indiferença em relação a Deus e aos apelos do seu Reino, foi lançado no inferno. Mas Lázaro, representante de todos os que confiam em Deus e vivem para agradar-lhe, foi para o seio de Abraão. Assim, é mais do que evidente que haverá diferença de destinação entre os que servem a Deus e os que não servem. Vejamos isso mais de perto:
O estado final dos ímpios
Segundo Stanley Horton, o destino final dos ímpios é descrito na Bíblia como algo terrível e que vai além de toda imaginação. São as "trevas exteriores", onde haverá choro e ranger de dentes por causa da frustração e do remorso ocasionados pela ira de Deus (Mt 22.13; 25.30; Rm 2.8,9; Jd 13). É uma "fornalha de fogo" (Mt 13.42,50), onde o fogo pela sua natureza é inextinguível (Mc 9.43; Jd 7). Causa perda eterna, ou destruição perpétua (2 Ts 1.9), e a "fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre" (Ap 14.11).
De acordo com o relato bíblico, a situação dos ímpios é de separação total de Deus. A fé, a esperança e o amor, que sempre permanecem para nós (1 Co 13.13) faltarão naquele ambiente. O repouso do qual desfrutaremos nunca estará à disposição deles e nem a alegria e a paz que nosso Senhor concede àqueles que crêem. Será, também, um lugar de solidão, excluído da comunhão com Deus. E a amargura e o ranger dos dentes, bem como sua natureza caída e imutável, impedirão a comunhão uns com os outros. *****
O estado final dos justos
Há várias maneiras de notar a condição futura dos justos. A mais comum, obviamente, é "céu". As palavras para "céu", no hebraico e no grego (shãmayin e ouranos), são empregadas basicamente de três maneiras na Bíblia: a) para designar o universo inteiro (Gn 1.1), numa perspectiva cosmológica; b) como um sinônimo de Deus (Lc 15.18,21) e c) para designar a morada de Deus (Mt 6.9; Jo 14.1-6).
Segundo a Bíblia, o céu será caracterizado pela remoção de todos os males. Estando com as pessoas, Deus "limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras são passadas" (Ap 21.4). Não apenas as aflições, mas também a própria fonte do mal, aquele que nos tenta para o pecado, será condenado eterna-mente: "E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre" (Ap 20.10). A presença do Deus perfeitamente santo e do Cordeiro sem mácula significa que no céu não haverá pecado ou mal de espécie alguma. Sabemos relativamente pouco sobre as atividades dos remidos no céu, mas há uns poucos lampejos do que será a nossa existência futura. Uma qualidade de nossa vida no céu será o descanso. O descanso, tal como o termo é empregado em Hebreus, não é um mero cessar das atividades, mas a experiência de alcançar um alvo de importância crucial. Assim, há referências freqüentes à peregrinação pelo deserto na rota para o "descanso" da Terra Prometida (Hb 3.11,18). Um descanso semelhante aguarda os crentes (Hb 4.9-11). O céu, portanto, será o encerramento da peregrinação do cristão, o fim da luta contra a carne, o mundo e o diabo. Haverá trabalho a fazer, mas isso não implicará luta para superar forças contrárias. ******
Um reino de vida eterna
Não será um reino de imortalidade, porque imortais todos já somos agora. A vida eterna, conforme referida nas Escrituras, não é apenas a imortalidade. De quem estiver no inferno, dir-se-á que está na morte eterna. No entanto, essa morte eterna não é inexistência. Na Bíblia, morte não é sinônimo de inexistência. Estar morto é estar sem vida. Mas para entendermos isso é preciso que saibamos que, para Deus, vida não é sinônimo de existência e morte significa alienação da verdadeira vida que só se vive em Deus e como Deus.
A vida eterna é a existência em Deus e com Deus para sempre. A morte eterna é a existência fora de Deus e diferente de Deus para sempre. O inferno da alma será descobrir que a vida só é vida em Deus e com Deus e ter que assumir uma eterna existência exilada dessa condição desprezada na história.




                          BIBLIOGRAFIA

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