Comunidade Pentecostal Cristo para as Nações
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Comunidade Pentecostal Cristo para as Nações
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
O CORREDOR DOS MILAGRES COM O TAPETE DE FOGO, IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA, CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO, CAMPANHA DE DOMINGO.
VOCÊ NÃO PODE PERDER A ABENÇOADA CAMPANHA
" O CORREDOR DOS MILAGRES COM O TAPETE DE FOGO" EM
ANDANDO COM JESUS .LC.24.13-35
COMEÇA NO DIA 03 DE MARÇO PREPARAÇÃO E TERMINA EM 28 DE ABRIL DE 2013
NA VARÕES DE GUERRA
CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO
SITUADA NA RUA JOÃO GOMES CARDOSO NR 83 BAIRRO ELDORADO CONTAGEM MG
CONTATOS.-(031)-3395.2392 / 8617.8267
PASTOR LOCAL CELSO SOARES NETO.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
PERÍODO INTERBLICO l-ll, IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA, CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO
PERÍODO INTERBLICO l-ll
Dedicatória:
A
todos aqueles que são “nascidos de novo” (João 3), para que possam estar firmes
na Palavra, conhecendo as profecias, crendo nelas, observando os sinais dos
tempos, para que não sejam “confundidos por Ele na Sua vinda” (1 Jo 2:28),
“Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam
mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas
boas obras que em vós observem” (1 Pe 2:12). Sabendo, principalmente, que: “...
ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará” (Hb 10:37).
Aos
ainda não salvos, com a esperança de que se arrependam e creiam, o quanto antes
(Lucas 12:20), no Senhor Jesus Cristo, ÚNICO caminho que leva ao Pai (João
14:6), sabendo que “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At
4:12).
E, principalmente:
“... ao Rei dos séculos, imortal,
invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém”.
(1Tm 1:17)
SOBRE O AUTOR
Pastor Celso Soares Neto, filho de Pedro
Maria Filho e Zilda Maria de Jesus, nascido em 15/01/1967, na cidade de Dores
do Indaiá/MG a Avenida da Saudade 181 (conhecida com Beco do Cemitério), onde vivi com meus pais e 14 (quatorze)
irmãos, todos filhos de um mesmo casamento. Criado com muito amor e disciplina,
também com grandes dificuldades financeiras.
Minha mãe padecia de diversas enfermidades,
sendo assim fui praticamente criado por minhas duas irmãs Márcia e Aparecida.
Vim para Belo Horizonte aos 17(dezessete)
anos para trabalhar no Banco Mercantil do Brasil, onde trabalhei por 11 (onze)
anos, fui criado nesta época por minha irmã Branca e seu esposo Amadeu no qual
foram meus segundo pais, de onde sai para casar em 1990.
Já casado passamos 06 (seis) anos sem Jesus
em nosso casamento, mas faço menção ao meu cunhado Gerson Lopes Cançado, (in memoriam)
esposo da minha irmã Maria José, que muito me falava sobre Jesus, dando-me um
Novo Testamento cumprindo assim em minha vida a palavra do Senhor que a semente
(palavra) lançada não voltará vazia, também a minha amada sogra Maria das
Mercês de Souza (in memoriam) que tanto orou por mim e minha esposa.
Casamo-nos na Igreja Batista do Barreiro,
casamento celebrado pelo Pastor Carlos (conhecido como Carlão).
No tempo determinado por Deus, aceitei
Jesus na Igreja Pentecostal Jesus é Amor, liderada pela Missionária Nilza,
minha mãe na fé. Fui muito auxiliado,
por minha cunhada Mercês Maria, que aliás tem me ajudado espiritualmente
até nos dias de hoje. Ao aceitar Jesus fui
chamado para fazer parte do quadro de ceifeiros de sua obra, onde fui
pastor por 04 (quatro) anos no Bairro Sol Nascente em Ibirité/MG.
Sendo direcionado pelo Senhor vim para
Igreja Pentecostal Varões de Guerra, Congregação João Gomes Cardoso, onde
permaneço até esta data, sendo pastor dirigente. Fui recebido pelo pastor
presidente Ralph A. Assé, que me confiou a liderança desta igreja.
PERÍODO INTERBÓBLICO l
I. Desenvolvimento Político
A
Expressão “400 anos de silêncio”, frequentemente empregada para escrever o
período entre os últimos eventos do A.T. e o começo dos acontecimentos do N.T.
não é correta nem apropriada. Embora nenhum profeta inspirado se tivesse
erguido em Israel durante aquele período, e o A.T. já estivesse completo aos
olhos dos judeus, certos acontecimentos ocorreram que deram ao judaísmo
posterior sua ideologia própria e, providencialmente, prepararam o caminho para
a vinda de Cristo e a proclamação do Seu evangelho.
Supremacia Persa
Por
cerca de um século depois da época de Neemias, o império Persa exerceu controle
sobre a Judéia. O período foi relativamente tranquilo, pois os persas permitiam
aos judeus o livre exercício de suas instituições religiosas. A Judéia era dirigida
pelo sumo sacerdotes, que prestavam contas ao governo persa, fato que, ao mesmo
tempo, permitiu aos judeus uma boa medida de autonomia e rebaixou o sacerdócio
a uma função política. Inveja, intriga e até mesmo assassinato tiveram seu
papel nas disputas pela honra de ocupar o sumo sacerdócio. Joanã, filho de
Joiada (Ne 12.22), é conhecido por ter assassinado o próprio irmão, Josué, no
recinto do templo.
A
Pérsia e o Egito envolveram-se em constantes conflitos durante este período, e
a Judéia, situada entre os dois impérios não podiam escapar ao envolvimento.
Durante o reino de Artaxerxes III muitos judeus engajaram-se numa rebelião
contra a Pérsia, e foram deportados para Babilônia e para as margens do mar
Cáspio.
Alexandre, o Grande.
Em
seguida à derrota dos exércitos persas na Ásia Menor (333 AC), Alexandre
marchou para a Síria e Palestina. Depois de ferrenha resistência, Tiro foi
conquistada e Alexandre deslocou-se pra o sul, em direção ao Egito. Diz à lenda
que quando Alexandre se aproximava de Jerusalém o sumo sacerdote Jadua foi ao
seu encontro e lhe mostrou as profecias de Daniel, segundo as quais o exército
grego seria vitorioso (Dn 8). Essa narrativa não é levada a sério pelos
historiadores, mas é fato que Alexandre tratou singularmente bem aos judeus.
Ele lhes permitiu observarem suas leis, isentou-os de impostos durante os anos
sabáticos e, quando construiu Alexandria no Egito (331 AC), estimulou os judeus
a se estabelecerem ali e deu-lhes privilégios comparáveis aos seus súditos
gregos.
A Judéia sob os Ptolomeus
Depois
da morte de Alexandre (323 AC), a Judéia, ficou sujeita, por algum tempo a Antígono,
um dos generais de Alexandre que controlava parte da Ásia Menor.
Subsequentemente, caiu sob o controle de outro general, Ptolomeu I (que havia
então dominado o Egito), cognominado Soter, o Libertador, o qual capturou
Jerusalém num dia de sábado em 320 AC Ptolomeu foi bondoso para com os judeus.
Muitos deles se radicaram em Alexandria, que continuou a ser um importante
centro da cultura e pensamento judaicos por vários séculos. No governo de
Ptolomeu II (Filadelfo) os judeus de Alexandria começaram a traduzir a sua Lei,
i.e., o Pentateuco, para o grego. Esta tradução seria posteriormente conhecida
como a Septuaginta, a partir da lenda de que seus setenta (mais exatamente 72 -
seis de cada tribo) tradutores foram sobrenaturalmente inspirados para produzir
uma tradução infalível. Nos subsequentes todo o Antigo Testamento foi incluído
na Septuaginta.
A Judéia sob os Selêucidas
Depois
de aproximadamente um século de vida dos judeus sob o domínio dos
Ptolomeus,
Antíoco III (o Grande) da Síria conquistou a Síria e a Palestina aos Ptomeus do
Egito (198 AC). Os governantes sírios eram chamados selêucidas porque seu
reino, construído sobre os escombros do império de Alexandre, fora fundado por
Seleuco I (Nicator).
Durante
os primeiros anos de domínio sírio, os selêucidas permitiram que o sumo sacerdote
continuasse a governar os judeus de acordo com suas leis. Todavia, surgiram conflitos
entre o partido helenista e os judeus ortodoxo. Antíoco IV (Epifânio) aliou-se ao
partido helenista e indicou para o sacerdócio um homem que mudara seu nome de Josué
para Jasom e que estimulava o culto a Hércules de Tiro. Jasom, todavia, foi substituído
depois de dois anos por um rebelde chamado Menaém (cujo nome grego era
Menelau). Quando partidários de Jasom entraram em luta com os de Menelau, Antíoco
marchou contra Jerusalém, saqueou o templo e matou muitos judeus (170 AC). As
liberdades civis e religiosas foram suspensas, os sacrifícios diários forma
proibidos e um altar a Júpiter foi erigido sobre o altar do holocausto. Cópias
das Escrituras foram queimadas e os judeus foram forçados a comer carne de
porco, o que era proibido pela Lei. Uma porca foi oferecida sobre ao altar do
holocausto para ofender ainda mais a consciência religiosa dos judeus.
Os Macabeus
Não
demorou muito para que os judeus oprimidos encontrassem um líder para sua causa.
Quando os emissários de Antíoco chegaram à vila de Modina, cerca de 24 quilômetros
a oeste de Jerusalém, esperavam que o velho sacerdote, Matatias, desse bom
exemplo perante o seu povo, oferecendo um sacrifício pagão. Ele, porém, além de
recusar-se a fazê-lo, matou um judeu apóstata junto ao altar e o oficial sírio
que presidia a cerimonia. Matatias fugiu para a região montanhosa da Judéia e,
com a ajuda de seus filhos, empreendeu uma luta de guerrilhas contra os sírios.
Embora o velho sacerdote não tenha vivido para ver seu povo liberto do jugo
sírio, deixou a seus filhos o término da tarefa. Judas, cognominado “o
Macabeu”, assumiu a liderança depois da morte do pai. Por volta de 164 AC Judas
havia reconquistado Jerusalém, purificado o templo e reinstituído os
sacrifícios diários. Pouco depois das vitórias de Judas, Antíoco morreu na
Pérsia. Entretanto, as lutas entre os Macabeus e os reis selêucidas continuaram
por quase vinte anos.
Aristóbulo
I foi o primeiro dos governantes Macabeus a assumir o título de “Rei dos Judeus”.
Depois de um breve reinado, foi substituído pelo tirânico Alexandre Janeu, que,
por sua vez, deixou o reino para sua mãe, Alexandra. O reinado de Alexandra foi
relativamente pacífico. Com a sua morte, um filho mais novo, Aristóbulo II,
desapossou seu irmão mais velho. A essa altura, Antípater, governador da
Iduméia, assumiu o partido de Hircano, e surgiu a ameaça de guerra civil. Consequentemente,
Roma entrou em cena e Pompeu marchou sobre a Judéia com as suas legiões,
buscando um acerto entre as partes e o melhor interesse de Roma. Aristóbulo II
tentou defender Jerusalém do ataque de Pompeu, mas os romanos tomaram a cidade
e penetraram até o Santo dos Santos. Pompeu, todavia, não tocou nos tesouros do
templo.
Roma
Marco
Antônio apoiou a causa de Hircano. Depois do assassinato de Júlio Cesar e da morte
de Antípater (pai de Herodes), que por vinte anos fora o verdadeiro governante
da Judéia, Antígono, o segundo filho de Aristóbulo, tentou apossar-se do trono.
Por algum tempo chegou a reina em Jerusalém, mas Herodes, filho de Antípater,
regressou de Roma e tornou-se rei dos judeus com apoio de Roma. Seu casamento
com Mariamne, neta de Hircano, ofereceu um elo com os governantes Macabeus.
Herodes
foi um dos mais cruéis governantes de todos os tempos. Assassinou o venerável
Hircano (31 AC) e mandou matar sua própria esposa Mariamne e seus dois filhos.
No seu leito de morte, ordenou a execução de Antípater, seu filho com outra esposa.
Nas Escrituras, Herodes é conhecido como o rei que ordenou a morte dos meninos
em Belém por temer o Rival que nascera para ser Rei dos Judeus.
II. Grupos Religiosos dos Judeus
Quando,
seguindo-se à conquista de Alexandre, o helenismo mudou a mentalidade do Oriente
Médio, alguns judeus se apegaram ainda mais tenazmente do que antes à fé de seus
pais, ao passo que outros se dispuseram a adaptar seu pensamento às novas ideias
que emanavam da Grécia. Por fim, o choque entre o helenismo e o judaísmo deu
origem a diversas seitas judaicas.
Os Fariseus
Os
fariseus eram os descendentes espirituais dos judeus piedosos que haviam lutado
contra os helenistas no tempo dos Macabeus. O nome fariseu, “separatista”, foi provavelmente
dado a eles por seus inimigos, para indicar que eram não conformistas. Pode,
todavia, ter sido usado com escárnio porque sua severidade os separava de seus compatriotas
judeus, tanto quanto de seus vizinhos pagãos. A lealdade à verdade às vezes
produz orgulho e ate mesmo hipocrisia, e foram essas perversões do antigo ideal
farisaico que Jesus denunciou. Paulo se considerava um membro deste grupo
ortodoxo do judaísmo de sua época. (Fp 3.5).
Saduceus
O
partido dos saduceus, provavelmente denominado assim por causa de Zadoque, o sumo
sacerdote escolhido por Salomão (1Rs 2.35), negava autoridade à tradição e olhava
com suspeita para qualquer revelação posterior à Lei de Moisés. Eles negavam a doutrina
da ressurreição, e não criam na existência de anjos ou espíritos (At 23.3). Eram,
em sua maioria, gente de posses e posição, e cooperavam de bom grado com os helenistas
da época. Ao tempo do N.T. controlavam o sacerdócio e o ritual do templo. A sinagoga,
por outro lado, era a cidadela dos fariseus.
Essênios
O
essenismo foi uma reação ascética ao externalismo dos fariseus e ao mundanismo
dos saduceus. Os essênios se retiravam da sociedade e viviam em ascetismo e
celibato. Davam atenção à leitura e estudo das Escrituras, à oração e às
lavagens cerimoniais. Suas posses eram comuns e eram conhecidos por sua
laboriosidade e piedade. Tanto a guerra quanto a escravidão era contrárias a
seus princípios. O mosteiro em Qumran, próximo às cavernas em que os Manuscrito
do Mar Morto foram encontrados, é considerado por muitos estudiosos como um
centro essênio de estudo no deserto da Judéia. Os rolos indicam que os membros
da comunidade haviam, abandonado as influências corruptas das cidades judaicas
para prepararem, no deserto, “o caminho do Senhor”. Tinham fé no Messias que
viria e consideravam-se o verdadeiro Israel para quem Ele viria.
Escribas
Os
escribas não eram, estritamente falando, uma seita, mas sim, membros de uma profissão.
Eram, em primeiro lugar, copista da Lei. Vieram a ser considerados autoridades
quanto às Escrituras, e por isso exerciam uma função de ensino. Sua linha de
pensamento era semelhante à dos fariseus, com os quais aparecem frequentemente associados
no N.T.
Herodianos
Os
herodianos criam que os melhores interesses do judaísmo estavam na cooperação com
os romanos. Seu nome foi tirado de Herodes, o Grande, que procurou romanizar a Palestina
em sua época. Os herodianos eram mais um partido político que uma seita religiosa.
A opressão política romana, simbolizada por Herodes, e as reações religiosas
expressas nas reações sectárias dentro do judaísmo pré-cristão forneceram o
referencial histórico no qual Jesus veio ao mundo. Frustrações e conflitos
prepararam Israel para o advento do Messias de Deus, que veio na “plenitude do
tempo” (Gl 4.4)
PERÍODO INTERBÍBLICO ll
INTRODUÇÃO
O escopo da disciplina Novo Testamento I abrangerá o estudo
panorâmico dos Evangelhos e do livro de Atos, com enfoque nos aspectos histórico,
literário e teológico. A contextualização histórica é de fundamental
importância no estudo das Sagradas Escrituras. Tal preocupação se apresenta com
frequência nas páginas bíblicas. Tomemos como exemplos os escritos proféticos,
onde se nota constantemente a citação dos nomes dos reis, o ano do seu reinado,
o local onde o profeta se encontrava e outros dados contextuais (Jr.1.1-3).
Tais informações situam a vida do profeta e sua mensagem em um cenário real e
historicamente conhecido. Da mesma forma, é mister que tenhamos o conhecimento
do contexto histórico que emoldura os fatos narrados nos Evangelhos e em Atos. A
localização histórica das origens cristãs evidencia seu caráter factual, o que
não é possível demonstrar em relação a diversas religiões, cujas raízes estão amparadas
em lendas, sonhos e visões.
Iniciaremos nossa contextualização pelo chamado "Período
Interbíblico", a fim de traçarmos a ligação histórica entre o Velho e o
Novo Testamento. Tal exame também possibilitará melhor compreensão dos fatores
que construíram o cenário político, social e religioso encontrado por Cristo na
Palestina. Ao lermos o Novo Testamento, deparamos com muitos problemas cujos
motivos se encontram no período interbíblico.
O PERÍODO INTERBÍBLICO
Esse período teve a duração de aproximadamente 450 anos.
Normalmente se faz referência a esse tempo como uma época em que Deus esteve em
silêncio para com o seu povo. Nenhum profeta de Deus se manifestou ou, pelo
menos, nenhum deixou escrito que tenham sido considerados canônicos.
Vamos examinar a situação da Palestina durante esse período,
principalmente no que se refere aos impérios, governos, as relações de Israel
com os povos vizinhos e as implicações religiosas e sociais destes elementos.
O IMPÉRIO PERSA - FINAL DO V.T.
O Velho Testamento termina com as palavras de Malaquias, o qual
profetizou entre 450 e 425 a.C.. Nesse tempo, a Palestina estava sob o domínio
do Império Persa, o qual se estendeu até o ano 331 a.C.. Embora o rei Ciro
tenha autorizado os judeus a retornarem do exílio, o domínio Persa continuava
sobre eles. De volta à Palestina, o povo judeu passou a ter um governo local
exercido pelos sumo sacerdotes, embora não houvesse independência política.
Eram comuns as disputas pelo poder.
O IMPÉRIO GREGO - 335 a 323 a.C.
Paralelamente ao Império Persa, crescia o poder de um rei
macedônico, Felipe, o qual empreendeu diversas conquistas na Ásia menor e ilhas
do mar Egeu, anexando a Grécia ao seu domínio. Desejando expandir seu
território, entrou em confronto com a Pérsia, o que lhe custou a vida. Foi
sucedido por seu filho, Alexandre Magno, que também ficou conhecido como
Alexandre, o Grande, o qual havia estudado com Aristóteles. A mitologia grega,
com seus deuses e heróis parece ter inspirado o novo conquistador. Alexandre
tinha 20 anos quando começou a governar. Seu ímpeto imperialista lhe levou a
conquistar a Síria, a Palestina (332 a.C.) e o Egito. Notemos então que o
território israelense passou do domínio persa para o domínio grego.
No Egito, Alexandre
construiu uma cidade em sua própria homenagem, dando-lhe o nome de Alexandria,
a qual se encontrava em local estratégico para o comércio entre o Mediterrâneo,
a Índia e o extremo Oriente. Essa cidade se tornou também importante centro
cultural, substituindo assim as cidades gregas. Entre suas construções destacaram-se
o farol e a biblioteca.
Em 331, Alexandre se dedicou a libertar algumas cidades gregas do
domínio da Pérsia. Seu sucesso militar foi tão grande que se considerou capaz
de enfrentar a própria capital do império. E assim conquistou a Pérsia.
Contudo, nessa batalha, que ficou conhecida como Arbela ou Gaugamela, as tropas
gregas tiveram de enfrentar um exército de elefantes, os quais foram usados
pelo rei da Pérsia. Alexandre venceu o combate, mas os elefantes foram motivo
de grande desgaste para seus soldados. Alexandre se denominou então "Rei
da Ásia" e passou a exigir para si o culto dos seus subordinados, de
conformidade com as práticas babilônicas.
Em 327 a.C., em suas
batalhas de conquista rumo ao Oriente, Alexandre encontra outro exército de
elefantes, o que fez com que seus soldados se amotinassem, recusando-se a prosseguir.
Terminaram-se assim as conquistas de Alexandre Magno. Em 323 a.C., foi acometido
pela malária, a qual lhe encontrou com o organismo debilitado pela bebida .Não
resistiu à doença e morreu naquele mesmo ano. Não deixou filhos, embora sua esposa,
Roxane, estivesse grávida. Quanto aos judeus, Alexandre os tratou bem e teve muitos
deles em seu exército. Após a sua morte, o Império Grego foi divido entre os seus
generais, dentre os quais nos interessam Ptolomeu, a quem coube o governo do Egito,
e Seleuco, que passou a governar a Síria.
O GOVERNO DOS PTOLOMEUS
A Palestina ficou sob o domínio do Egito. Os descendentes de
Ptolomeu foram chamados Ptolomeus. Eis os nomes que se sucederam enquanto a
Palestina esteve sob o seu governo (323 a 204 a.C.):
Ptolomeu I (Sóter) - 323 a 285 a.C.
Ptolomeu II (Filadelfo) - 285 a 246 a.C. – Durante o seu governo
foi elaborada, em Alexandria, a Septuaginta, tradução do Antigo Testamento para
o grego. Filadelfo foi amável com os judeus.
Ptolomeu III (Evergetes) – 246 a 221 a.C.
Ptolomeu IV (Filópater) - 221 a 203 a.C. - Ao voltar de uma
batalha contra a Síria, Filópater visitou Jerusalém e tentou entrar no Santo
dos Santos. Contudo, foi acometido de um pavor repentino que o fez desistir do
seu propósito. Foi um grande perseguidor dos judeus.
Ptolomeu Epifânio – 203 a 181 a.C. – Tinha 5 anos de idade quando
seu pai, Filópater morreu. Aproveitando a situação, Antíoco - o Grande, rei da
Síria, toma o poder sobre a Palestina no ano 204.
O GOVERNO DOS SELÊUCIDAS
Os reis da Síria, descendentes do general Seleuco, foram chamados
Selêucidas. De 204 a 166 a.C., a Palestina esteve sob o domínio da Síria. Eis a
relação dos selêucidas do período:
Antíoco III - O Grande – 223 a 187 a.C.
Seleuco IV (Filópater) – 187 a 175 a.C.
Antíoco IV (Epifânio) - 175 a 163 a.C. - Em Israel, o governo
local era exercido por Onias, o sumo sacerdote. Contudo, Epifânio comercializou
o cargo sacerdotal, vendendo-o a Jasão por 360 talentos. Epifânio se esforçou
para impor a cultura e a religião grega em Israel, atraindo sobre si a
inimizade dos judeus. Tendo ido ao Egito, divulgou-se o boato da morte de
Epifânio, motivo pelo qual os judeus realizaram uma grande festa. Ao tomar
conhecimento do fato, o rei da Síria promoveu um grande massacre, matando 40
mil judeus.
Em 168 a.C., Antíoco Epifânio sacrifica uma porca sobre o altar em
Jerusalém e entra no Santo dos Santos. Ordena que o templo dos judeus seja
dedicado a Zeus, o principal deus da mitologia grega, ao mesmo tempo em que
proíbe os sacrifícios judaicos, os cultos, a circuncisão e a observância da lei
mosaica.
Segue-se então um período em que não houve sumo sacerdote em
atividade em Jerusalém (159 a 152 a.C.). Realiza-se então um processo de
helenização radical na Palestina.
Vendo todos os seus valores nacionais sendo destruídos e
profanados, os judeus reagiram contra Epifânio.
O GOVERNO DOS MACABEUS - 167 a 37 a.C.
Surge no cenário judaico uma importante família da tribo de Levi:
os Macabeus. Em 167, o macabeu Matatias se recusa a oferecer sacrifício a Zeus.
Outro homem se ofereceu para sacrificar, mas foi morto por Matatias, o qual organiza
um grupo de judeus para oferecer resistência contra os selêucidas. Tal
movimento ficou conhecido como a Revolta dos Macabeus. A Palestina continuou
sob o domínio da Síria. Contudo, a Judéia voltou a possuir um governo local,
exercido pelos Macabeus. Ainda não se tratava de independência, mas já havia
alguma autonomia. A seguir, apresentamos os nomes dos governantes macabeus e
alguns de seus atos em destaque.
Matatias (167-166 a.C.)
Judas (filho de Matatias) (166-160 a.C.) - Purifica o templo, conquista
liberdade religiosa, restabelece o culto.
Jônatas (filho de Matatias) (160-142 a.C.) – Reinicia a atividade
de sumo sacerdote.
Simão (filho de Matatias) (142-135 a.C.) - Reforça o exército e
consegue isenção de impostos. Nesse momento a Síria se encontrava fraca, e a
Judéia se torna independente. A independência durou entre 142 e 63 a.C.. Simão
foi sumo sacerdote e rei da Judéia. Pediu apoio de Roma contra a Síria.
João Hircano (filho de Simão) (135-104 a.C.) – Tinha tendência
imperialista. Conquistou a Iduméia e Samaria. Destruiu o templo samaritano e
sofreu oposição dos "hassidim", seita dos "santos".
Aristóbulo I – (104-103 a.C.) – prendeu a mãe e matou o irmão.
Alexandre Janeu (103-76 a.C.) - conquistou costas da Palestina – O
território de Israel chegou a ter extensão semelhante à que tinha nos dias do
rei Davi. Janeu sofreu a oposição dos fariseus.
Alexandra Salomé (esposa de Alexandre) (76-67 a.C.) – foi uma
governante pacífica.
Aristóbulo II - (67-63 a.C.) briga pelo poder com seu irmão,
Hircano II. Em 63 a.C., Aristóbulo provoca Roma. Pompeu invade Jerusalém,
deporta Aristóbulo e coloca Hircano II no poder.
Hircano II (63-40 a.C.)
Em Roma, o governo é exercido por Pompeu, Crasso e Júlio César,
formando o primeiro Triunvirato. Os três brigam entre si pelo poder. Júlio
César vence e torna-se Imperador Romano. Em seguida, nomeia Antípatro, idumeu,
como procurador sob as ordens de Hircano. Faselo e Herodes, filhos de
Antípatro, são nomeados governadores da Judéia e Galiléia. Um ano depois,
Antípatro morre envenenado. Passados 3 anos, o Imperador Júlio César morre
assassinado. Institui-se um novo triunvirato, formado por Otávio, sobrinho de César,
Marco Antônio e Lépido. Marco Antônio e Herodes eram amigos.
Herodes casa-se então com Mariana, neta de Hircano, vinculando-se
assim à família dos Macabeus.
Na tentativa de tomar o poder, Antígono, filho de Aristóbulo II,
corta as orelhas de Hircano II, impossibilitando-o de continuar a exercer o
sumo sacerdócio.
Antígono (40-37 a.C.) - Uma de suas ações foi perseguir Herodes, o
qual dirigiu-se a Roma, denunciou a desordem e foi nomeado rei da Judéia (37
d.C.). Antígono foi morto pelos romanos.
Termina assim, a saga dos Macabeus, cujo princípio foi brilhante
nas lutas contra a Síria. Entretanto, foram muitas as disputas pelo poder
dentro da própria família. Perderam então a grande oportunidade que os judeus
tiveram de se tornarem uma nação livre e forte. Acabaram caindo sob o jugo de
Roma.
O IMPÉRIO ROMANO
Sendo nomeado por Roma como rei da Judéia, Herodes passou a
governar um grande território. Contudo, sua insegurança e medo de perder o
poder o levaram a matar Aristóbulo, irmão de Mariana, por afogamento. Depois,
matou a própria esposa e estrangulou os filhos.
A violência de Herodes provocou a revolta dos judeus. Para
apaziguá-los, o rei iniciou uma série de obras públicas, entre as quais a
construção (reforma) do templo, que passou a ser conhecido como Templo de
Herodes.
O domínio direto do Império Romano sobre a Palestina iniciou-se no
ano 37 a.C., estendendo-se por todo o período do Novo Testamento.
Quadro histórico social do Novo Testamento
Política 37 a.C.
a 70 d.C.
Esquema parcial da hierarquia
no Império Romano
O esquema acima apresenta alguns elementos da hierarquia do Império.
Nosso objetivo é visualizar principalmente os modelos administrativos
estabelecidos sobre os povos conquistados.
No tempo do nascimento de Cristo, o Imperador era Augusto, o qual
instituiu o culto a si mesmo por parte dos seus súditos. Em algumas regiões
havia a figura do rei. Naquele mesmo período o rei da Palestina era
Herodes. Esta região teve sua divisão política alterada diversas
vezes, sendo até governada por mais de um rei em determinados momentos. Além do
rei, havia em algumas épocas e lugares a figura do procurador, ou governador.
Quando Jesus nasceu, o procurador se chamava Copônio. Na sequência aparecem os
publicanos, os quais não possuíam poder administrativo mas tinham a função de
coletar impostos. Eram necessariamente nativos da província. Seu conhecimento
da terra, do povo, dos costumes e da língua tornava-os mais eficientes na
coletoria do que poderia ter sido um cidadão romano que fosse enviado para esse
fim. Os publicanos eram considerados por seus compatriotas como traidores, já que
cobravam impostos dos seus irmãos para entregar ao dominador inimigo. A palavra
publicano se tornou sinônimo de pecador.
Sob esse domínio se encontrava a província. Assim era chamada
qualquer região conquistada pelos romanos fora da Itália. As províncias que se
encontravam dentro desse modelo eram administradas mais diretamente pelo
Imperador. Tratava-se de regiões ainda não pacificadas, recém conquistadas,
cuja população ainda não se acomodara sob o jugo de Roma. Nessas terras havia a
presença constante das tropas romanas, as quais se dividiam principalmente em
legiões (com 6000 homens), coortes (com 1000 homens) e centúrias (com 100
homens). Na província da Judéia havia uma instituição local chamada Sinédrio, o
qual era formado por 71 membros e presidido pelo sumo sacerdote. O Sinédrio era
o supremo tribunal local e tinha poderes para julgar questões civis e
religiosas, uma vez que as duas coisas eram tratadas pela mesma lei. Tais
autoridades tinham até mesmo a prerrogativa de aplicar a pena de morte contra
crimes cometidos na comunidade local. A polícia recebia ordens do Sinédrio.
Essa estrutura pode ser claramente observada nas páginas dos
evangelhos, principalmente nos relatos que tratam da prisão, julgamento e
crucificação de Cristo, o qual foi preso pela polícia do Sinédrio, e levado
diante desse tribunal local. Os integrantes do Sinédrio, embora tivessem poder
para matá-lo, parecem ter vacilado diante de tamanha
responsabilidade. Levaram-no diante do Procurador da Judéia, Pilatos, o qual o
encaminhou para a presença de Herodes, o rei da Galiléia. Ninguém queria
assumir a responsabilidade pela crucificação. Contudo, Cristo é devolvido a Pilatos,
que considerou o lavar da mãos como ato suficiente para isentá-lo da culpa de matar
o Filho de Deus. (Mt.26.44,57,59; 27.2; Lc.23.7) Vemos aí a hierarquia governamental
em evidência. O imperador também foi lembrado naquelas circunstâncias, mas
apenas para uma menção rápida em João 19.12 para pressionar o Procurador.
Havia ainda outro tipo de província. Eram aquelas conquistadas há
mais tempo e já pacificadas. Os habitantes desses lugares tinham cidadania
romana. Era o caso do apóstolo Paulo, que nasceu em Tarso, e tinha o direito de
ser considerado cidadão romano. Tal prerrogativa proporcionava diversos direitos,
principalmente tratamento respeitoso e especial nas questões jurídicas. Um
cidadão romano não podia, por exemplo, ser açoitado. Paulo foi submetido a
açoites, mas seus algozes ficaram atemorizados quando souberam que tinham
espancado um cidadão romano (Atos 16.37-38). Com base no mesmo direito, Paulo
apelou para César quando quis se defender das acusações que lhe eram feitas
(Atos 25.10-12).
CULTURA E INFRA-ESTRUTURA
Nos dias de Cristo, embora o império fosse romano, a cultura
predominante continuava sendo grega. O extinto império de Alexandre Magno
deixou um grande legado: o helenismo, que significa a influência cultural grega
entre os povos conquistados. Helenismo é derivado de Helas, outro nome da
Grécia. Helenização é o processo de propagação dessa cultura. Devido a essa
difusão, a língua grega se tornou de uso comum. Daí vem a expressão "grego
koiné" (= comum). As cidades gregas eram bem estruturadas. Contavam com
teatros, banhos públicos, ginásios, foros, amplas praças, hipódromos e academias.
Assim, por onde quer que o helenismo se expandisse iam surgindo cidades desse
tipo. Algumas cidades antigas se adaptavam e chegavam até a mudar de nome,
adotando nomes gregos.
É por causa desse contexto que o Novo Testamento foi escrito em
grego, com exceção do evangelho de Mateus.
Além dos elementos helênicos, o cenário contava com estradas
calçadas construídas pelos romanos. Elas facilitavam a circulação das milícias
entre as províncias e a capital. Por essas vias transitavam também mensageiros,
comerciantes e viajantes em geral. Outro destaque da engenharia romana eram os
aquedutos: canais para levar água das montanhas para as cidades.
ATIVIDADES ECONÔMICAS
Com toda a importância das cidades, as construções eram
constantes. Além das casas, estradas e aquedutos, as muralhas também faziam
parte dos projetos. Em Jerusalém havia uma grande obra em andamento nos dias de
Jesus: o templo de Herodes, cuja construção ocorreu do ano 20 a.C. até 64 d.C..
Outras atividades importantes eram: transporte, agricultura,
comércio, pesca, metalurgia, cerâmica, perfumaria, couro, tecidos e armas. Em
Israel, a pecuária, além de atividade econômica, possuía status religioso por
causa dos sacrifícios.
POPULAÇÃO E RELIGIÃO A DIÁSPORA
Nos dias do Novo Testamento, a população judaica encontrava-se
dispersa por vários lugares. Além da própria Palestina, havia inúmeros judeus
em Roma, Egito, Ásia Menor, etc. (Atos 2.9-11; Tiago 1.1; I Pedro 1.1). Tal
dispersão, que recebe o nome de Diáspora, tem razões diversas, começando pelos
exílios para a Assíria e Babilônia, e se completando por interesses comerciais
dos judeus, e até mesmo em função das dificuldades que se verificavam em sua
terra natal. Esse quadro se apresenta como cumprimento claro dos avisos divinos
acerca da dispersão que viria como consequência do pecado de Israel (Dt.28.64).
Assim, o judaísmo acabou se dividindo em função da distribuição geográfica.
Havia o judaísmo de Jerusalém, mais ligado à ortodoxia, e o judaísmo da
Diáspora, ou seja, praticado pelos judeus residentes fora da Palestina. Estes
últimos encontravam-se distantes de suas origens. Se até na Palestina, os
costumes gregos se impunham, muito mais isso ocorria na vida dos judeus em
outras regiões. Estavam profundamente helenizados, embora não tivessem abandonado
o judaísmo. Isto fez com que eles se preocupassem com o futuro de suas
tradições e sua religião. Tomaram então providências para que o judaísmo não
sucumbisse diante do helenismo. Uma delas foi a tradução do Velho Testamento do
hebraico para o grego, chamada Septuaginta. Já que este idioma estava se
tornando universal, havia o risco de que, no futuro, as escrituras não pudessem
mais ser lidas, devido à possível extinção do hebraico. Outras obras literárias
foram produzidas, incluindo narrativas históricas, propaganda e apologia judaica,
tudo escrito em grego e com influências gregas. Destacaram-se nessa época os escritores:
Fílon de Alexandria e Flávio Josefo. Tais escritos não foram aceitos pela comunidade
de Jerusalém. Até a tradução bíblica foi rejeitada, uma vez que, para eles, toda
escritura sagrada devia ser produzida necessariamente em hebraico. Essa obra no
idioma grego foi vista pelos ortodoxos como uma descaracterização do judaísmo.
Para muitos judeus conservadores, o judaísmo era propriedade
nacional e não devia ser propagado entre outros povos. Já os judeus da Diáspora
se dedicaram a conquistar gentios para a religião judaica. Tal fenômeno recebe
o nome de proselitismo. Os novos convertidos eram chamados prosélitos (Mateus
23.15 Atos 2.9-11; 6.5; 13.43). Essa prática difusora da religião também foi
adotada por judeus de Jerusalém, mas em escala bem menor.
Os judeus da diáspora cresciam em número e em poder econômico.
Isso se tornou incômodo para muitos cidadãos dos lugares onde residiam. A
guarda do sábado e a recusa em participar do culto ao Imperador tornaram-se
também elementos que atraíram a perseguição. Tendo, muitos deles, fugido da
opressão na Palestina, encontraram problemas semelhantes em outras terras.
AS SINAGOGAS, OS RABIS E OS ESCRITOS RELIGIOSOS.
O surgimento das sinagogas é normalmente atribuído ao período do
exílio babilônico, quando os judeus deixaram de ter um templo para adorar e
sacrificar. O fato indiscutível é que nos dias do Novo Testamento, tais locais
de oração, ensino e administração civil eram muito valorizados. Em qualquer
localidade onde houvesse 10 judeus, podia ser aberta uma sinagoga. Em cidades
grandes poderia haver várias, como era o caso de Jerusalém. A liderança da
sinagora era exercida pelo rabi (mestre), o qual era eleito pelos membros
daquela comunidade. Essa autonomia de eleição do rabi favoreceu o
surgimento de muitos mestres com ideias religiosas distintas.
Todos estudavam a lei e elaboravam seus ensinamentos com interpretações e
comentários acerca da Torá.
Assim surgiram as midrashs e as mishnas. Midrash era o comentário
da lei. A primeira surgiu no ano 4 a.C.. As mishnas eram os ensinamentos
rabínicos. A primeira surgiu em 5 a.C.. Tudo isso compunha a tradição, que
passou a ser mais utilizada do que a própria lei. A interpretação da lei era
tão desenvolvida que chegava ao extremo de contradizer o código original
(Mt.15.1-6). Assim, os escribas e fariseus, doutores da lei, ocupavam o lugar
de Moisés (Mt.23.2). Devido a essa posição dos rabis (mestres), Jesus orientou seus
discípulos a não utilizarem esse mesmo título (Mt.23.8).
JUDAÍSMO DIVIDIDO
Nos dias de Cristo, a religião judaica encontrava-se dividida em
seitas: fariseus, saduceus, essênios, e outras. Cada facção se considerava o remanescente
fiel a Deus e via os demais como relaxados. Entre os fatores que contribuíram
para essa divisão, podemos citar:
- Diáspora – A dispersão geográfica dificultou a manutenção de uma
religiosidade padronizada.
- Sinagogas – Significaram a descentralização da orientação
religiosa. Muitos rabis representaram muitas linhas de pensamento e prática
divergentes.
- Linhagem - As misturas étnicas ocorridas no norte de Israel
contribuíram para a discriminação religiosa contra os samaritanos.
- Interpretação – Diferentes interpretações da lei conduziam a
diferentes crenças.
- Tradição – Esta era o resultado de muitos elementos:
interpretação, comentário da lei, influências estrangeiras (gregas romanas e
babilônicas).
- Política – Alguns judeus apoiavam Herodes e os romanos. Outros
eram radicalmente contra tais dominadores.
- Helenismo – Os judeus se dividiam também quanto ao apoio ou
combate à cultura grega que se expandia em todo o mundo. Tais costumes eram
vistos como os que hoje chamamos de "mundanismo". Muitos judeus se
deixavam levar, admirados com o pensamento grego e o sucesso de sua cultura.
DINASTIA HERODIANA (parcial)
As setas indicam filiação. O posicionamento dos quadros inferiores
demonstra a sucessão no governo da Palestina.
Apresentamos apenas parcialmente a dinastia herodiana porque nos
limitamos aos nomes mais próximos aos fatos do Novo Testamento. Nosso maior
interesse é apresentar a sucessão política na Palestina, principalmente na
Judéia. Herodes Magno, também conhecido com Herodes, o Grande, governava a
Judéia quando Jesus nasceu. Herodes teve 10 mulheres e 15 filhos, ou mais.
Citamos 7 deles: Antípatro II, Aristóbulo I, Alexandre, Filipe I, Filipe II,
Arquelau e Antipas II. Herodes matou seus filhos Alexandre, Aristóbulo I e
Antípatro II. Deserdou Filipe I, que era casado com Herodias, a qual veio a
adulterar com Antipas II (Mc.6.17). Após a morte de Herodes Magno, seu reino
foi dividido entre três de seus filhos: Arquelau recebeu a Judéia, Samaria e
Iduméia. Antipas II passou a governar a Galiléia e a Peréia. Filipe II recebeu os
territórios do nordeste: Ituréia, Tracomites, Gaulanites, Auranites e Batanéia.
Arquelau foi deposto pelos Romanos no ano 6 d.C.. A Judéia passou
então a ser governada por procuradores romanos. Um desses procuradores foi
Pôncio Pilatos (de 26 a 36 d.C.). Antipas II governou a Galiléia durante todo o
ministério de Cristo. Foi ele quem mandou degolar João Batista. À sua presença
Jesus foi encaminhado por Pilatos, já que este era procurador sobre a Judéia e
foi-lhe dito que Cristo era galileu, sendo portanto da jurisdição de Antipas.
Agripa I, filho de Aristóbulo e, portanto, neto de Herodes Magno,
foi o sucessor de Filipe II. Aos poucos foi herdando também os territórios dos
outros tios. Recebeu de volta dos romanos a administração da Judéia e Samaria,
tornando-se então rei de quase toda a Palestina. Foi ele quem mandou matar o
apóstolo Tiago e morreu comido por vermes (At.12). Seu filho, Agripa II, foi
seu sucessor. Seu território foi então ampliado por determinação do Imperador
Cláudio e ainda mais por Nero. Foi perante Agripa II que Paulo se apresentou
(At.25.23). Com a destruição de Jerusalém no ano 70, Agripa II mudou-se para
Roma e lá esteve até o ano de sua morte (100 d.C.). Os membros da dinastia
herodiana são muitas vezes mencionados no Novo Testamento. Todos eles possuíam
o título de Herodes. Por esta razão, muitas vezes pode-se imaginar que as diversas
passagens se referem à mesma pessoa, o que não é verdade. Pela observação dos
quadros anteriores, pode-se identificar cada "Herodes" nas passagens
bíblicas em que são citados.
IMPERADORES ROMANOS NO PERÍODO DO NOVO TESTAMENTO
César Augusto Otaviano - ano 27 a.C. a 14 d.C. - Nascimento de
Jesus - Início do culto ao Imperador. (Lc.2.1)
Tibério Júlio César Augusto - 14 a 27 - Ministério e Morte de
Jesus. (Lc.3.1).
Gaio Júlio César Germânico Calígula - 37 a 41 - Quis sua estátua
no templo em Jerusalém. Morreu antes que sua ordem fosse cumprida.
Tibério Cláudio César Augusto Germânico - 41 a 54 - Expulsou os
judeus de Roma. (At.18.2).
Nero Cláudio César Augusto Germânico - 54 a 68 - Começa
perseguição de Roma contra os cristãos. Paulo e Pedro morrem (At. 25.10;
28.19).
Sérvio Galba César Augusto 68 - Cerco a Jerusalém.
Marcos Oto César Augusto - 69 – mantém o cerco a Jerusalém.
Aulus Vitélio Germânico Augusto - 69 - mantém o cerco a Jerusalém.
César Vespasiano Augusto - 69 a 79 – Tinha sido general de Nero.
Coloca seu filho Tito como general. No ano 70, determina a destruição de Jerusalém.
Tito César Vespasiano Augusto - 79-81.
César Domiciano Augusto Germânico - 81 a 96 - Exigia ser chamado
Senhor e Deus. Grande perseguição. O apóstolo João ainda vivia durante o
governo de Domiciano.
VI - BIBLIOGRAFIA
SÁNCHEZ, Tomás Parra, Os Tempos de Jesus - Ed. Paulinas.
GONZÁLEZ, Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo -
Volume 1 - Ed. Vida Nova.
TURNER, Donald D., Exposição de Os Atos dos Apóstolos - Imprensa
Batista Regular.
PACKER, J.I., TENNEY, Merril C., WHITE JR., William, O Mundo do
Novo
Testamento - Ed. Vida.
MORACHO, Félix, Como Ler os Evangelhos - Ed. Paulus.
PEARLMAN, Myer, Mateus - O Evangelho do Grande Rei - CPAD.
TURNER, Donald D., Introdução do Novo Testamento - Imprensa
Batista Regular.
THOMAS, W. H. Griffith, Como Estudar os Quatro Evangelhos - Casa
Editora
Presbiteriana.
SOUZA, Itamir Neves, Atos dos Apóstolos - Uma História Singular -
Ed. Descoberta.
CULLMANN, Oscar, A Formação do Novo Testamento - Ed. Sinodal.
GIBERT, Pierre, Como a Bíblia Foi Escrita - Ed. Paulinas.
ELWELL, Walter A. , Manual Bíblico do Estudante - CPAD.
HOUSE, H. Wayne, O Novo Testamento em Quadros - Ed. Vida
JOSEFO, Flávio, A História dos Judeus - CPAD
DOUGLAS, J.D., O Novo Dicionário da Bíblia – Ed. Vida Nova
Apostila do SEBEMGE – Pastor Delmo Gonçalves
Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de
Almeida - Versão
Contemporânea - Ed. Vida
Elaborado em março e abril do ano 2000
Em caso de utilização impressa do presente material, favor
mencionar o nome do autor:
Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.
MANUAL BÁSICO DAS DOUTRINAS DA VARÕES DE GUERRA,IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA, CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO, PASTOR CELSO SOARES NETO.
MANUAL BÁSICO
DAS DOUTRINAS DA
VARÕES DE GUERRA
Sumário
PALAVRA DO PASTOR...................................................................................................PAG-03
1. SOBRE DEUS................................................................................................................PAG-04
2. SOBRE A BÍBLIA..........................................................................................................PAG-08
3. SOBRE O NASCIMENTO DE JESUS..........................................................................PAG-11
4. SOBRE O PECADO......................................................................................................PAG-13
5. SOBRE A SALVAÇÃO.................................................................................................PAG-16
6. SOBRE O BATISMO EM ÁGUAS...............................................................................PAG-19
7. SOBRE O ESPÍRITO SANTO.......................................................................................PAG-21
8. SOBRE A SEGUNDA VINDA DE CRISTO.................................................................PAG-26
9. SOBRE O JUÍZO VINDORO........................................................................................PAG-28
10. SOBRE A VIDA ETERNA...........................................................................................PAG-30
11. BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................PAG-33
PALAVRA DO PASTOR
A grande maioria
dos cristãos está vivendo ao sabor de experiências místicas supersticiosas. Pior:
nem sequer procuram investigar se o que estão experimentando consubstancia a
verdade plena das Escrituras Sagradas. Destarte, tornam-se divulgadores de
opiniões que nem mesmo sabem se são verdadeiras ou falsas. Tudo isso está ocorrendo
— este é o meu entendimento — pelo fato de termos nos acostumado a escutar, a
gravar e a repetir sem ler ou comparar o conteúdo doutrinário de todas as informações
bíblicas que nos são passadas. Por essa e por outras razões muito mais fortes é
que precisamos tomar a iniciativa de reler, reinvestigar, reanalisar e
reinterpretar, ponto a ponto, todas as doutrinas bíblicas esposadas pelas Varões
de Guerra no Brasil, a fim de termos uma visão mais comprometida com a
coerência e com a autenticidade das Sagradas Escrituras.
Embora saiba, por observação, que ousadia, coragem, espírito
pioneiro, iniciativas novas e especialmente muita prudência são virtudes
especiais do evangélico tradicional das Varões de Guerras, tenho a absoluta
certeza de que necessitamos redescobrir a Palavra de Deus que, infelizmente,
vem sendo substituída em alguns de nossos púlpitos.
Acredito
piamente que o problema fundamental para a proliferação da subcultura
pentecostal, na forma de um astigmatismo teológico, está na falta de
prioridade. A Palavra de Deus está ficando em segundo plano em nossas reuniões.
Estranhamente,
alguns líderes evangélicos fecham-se numa alienação intolerável, quase
medieval. Fazem ouvidos moucos (Adj. e subst. m.: que não ouve, ouve pouco ou mal; surdo.), evitam
confrontos, preferem não saber, não ouvir, não ler e não aprender a fazer o que
é certo. Afora isso, existe ainda uma constelação enorme de evangélicos que
estão muito aquém dos limites permitidos em termos de conhecimento bíblico. Daí
crescerem, em algumas culturas evangélicas e num ritmo alucinante, tantos
absurdos, distorções e discrepâncias que comprometem comportamentos e deformam
padrões cristãos.
Tendo em vista
fortalecer as nossas posições doutrinárias, uma vez que estamos sendo ameaçados
pela presença de novos pensamentos, modismos e ideias comprovadamente
heréticas, desejamos neste manual analisar o nosso credo, objetivando munir o
nosso povo da verdade para poder enfrentar as heresias hodiernas.
Assentado isso,
termino aqui fazendo minhas as palavras do profeta Oséias:
O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento.
1
SOBRE DEUS
Cremos em um só Deus, que é Santo, Criador de todas as
coisas, soberano, eterno, subsistente em três, Pessoas: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29).
Em nenhuma parte
da Bíblia Sagrada os escritores bíblicos se empenham para provar a existência
de Deus. Eles partem do pressuposto básico de que Deus existe e ocupam-se em
descrever tão-somente as ações de Deus e o seu caráter (Gn 1.1; Hb 11.3).
Mas a Bíblia dá
testemunho de Deus em ação no mundo físico, na história e na vida particular
dos indivíduos. Esses testemunhos despertam, aperfeiçoam e fortalecem a fé na
Pessoa de Deus.
Embora a Bíblia
fale de homens que dizem em seus corações que "não há Deus", a
presença divina no mundo é fato real e insofismável.
Os ateus
praticantes que tentam banir a Deus de seus pensamentos fazem-no pelo fato de o
terem retirado primeiramente de suas vidas. Mas é de um escritor alemão a
desconcertante frase sobre o ateísmo: "Cada ateu abriga um crente no
coração". "
Existência de Deus
De acordo com
alguns biblistas, a existência de Deus é uma verdade primária e fundamental.
Uma verdade é primária ou fundamental quando se caracteriza pela
universalidade, necessidade e auto-evidência. Ou seja: uma verdade que é aceita
universalmente, que se impõe como necessária para que se possa explicar as
demais realidades e que se mostre por si mesma, sem depender de uma prova
preliminar, dada pelo homem, para ser aceita.
São concebidos
como verdades primárias o tempo, o espaço, o número, causa e efeito, idéia do
bem e do mal. As noções dessas verdades são intuitivas no homem e desenvolvem-se
pela experiência. Assim é também Deus para o ser humano: uma verdade
fundamental, primá¬ria, que é aceita e vivida na experiência da vida.
A idéia de que
Deus existe é universal. Em qualquer cultura, povo ou época encontra-se esta
crença. A existência de Deus é necessária para que o homem tenha resposta
adequada para as questões fundamentais levantadas pelo pensamento humano. Ela é
auto-evidente: mostra-se por si só [sic]. Independe de ser aprovada pelo homem
para que seja aceita por verdade. É como uma flor que, exalando seu perfume,
prova sua existência e presença aos circunstantes que têm a capacidade de
sentir o cheiro. *
*Severa,
Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: AD Santos, s.d.
O livro Teologia
sistemática: uma perspectiva pentecostal, de Stanley Horton, publicado pela
CPAD, tem uma visão bem contemporânea dos temas dogmáticos.
Acerca de Deus
disse Jó: "[...] faz grandes coisas que nós não compreendemos" (Jó
37.5,6, grifo nosso).
Não é porque não
compreendemos uma coisa que ela deixa de existir. Mesmo que Deus não seja
alcançado pela compreensão humana, Ele continua reinando soberano sobre tudo e
sobre todas as coisas: "Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e o
meu servo, a quem escolhi; para que o saibas, e me creiais, e entendais que eu
sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum
haverá" (Is 43.10).
A natureza de Deus
Deus é
apresentado na Bíblia como infinitamente perfeito (Dt 18.13; Mt 5.48). Logo, a
sua obra é perfeita (Dt 32.4), e também os seus caminhos (SI 18.30). Todas as
características de sua Pessoa e de sua natureza não são apenas expressões de
alguma atitude que demonstra ou possui, mas constituem a própria substância de
sua divindade.
Não se pode explicar
a natureza de Deus, mas somente crer nEle. Podemos basear a nossa doutrina
sobre Deus nas pressuposições já citadas e nas evidências demonstradas nas
Escrituras. Alguns textos bíblicos atribuem à pessoa de Deus qualidades que os
seres humanos não possuem, ao passo que outros textos o descrevem em termos de
atributos morais compartilhados pelos seres humanos, ainda que de forma
limitada. Por exemplo, Deus é santo por natureza, e o homem, por participação
(Rm 1.4; 2 Co 7.1; 1 Ts 3.13).
O Antigo
Testamento usa o termo "santo" em sentido absoluto apenas quando se
refere à majestade incriada e inteiramente inacessível de Deus, sendo que tudo
o mais, em comparação a Ele, é o absolutamente não-santo (Êx 15.11).
Em comparação a
Deus, ninguém e nada é santo ou puro, e homem nenhum pode se atrever a
chamar-se santo ao lado de Deus (Jó 4.17; 15.4; 25.4-6). Só Deus santifica, i.
é, só Ele faz o homem participar de sua santidade; é de Deus que vem a
santidade de Israel.
A esse princípio
segue imediatamente o seu aspecto ético, que é realçado, sobretudo pelo
contraste com a pecaminosidade do homem.
A natureza de
Deus é identificada com mais freqüência por aqueles atributos que não possuem
analogia com o ser humano. Deus existe por si mesmo, sem depender de outro ser.
Ele é a fonte originária da vida, tanto ao criá-la quanto ao sustentá-la. Deus
é espírito; Ele não está confinado à existência material e é imperceptível ao
olho físico. Sua natureza é imutável, já mais se altera. Posto que o próprio
Deus é o fundamento do tempo, Ele não pode ser limitado pelo tempo. Ele é
eterno, sem começo nem fim. Deus é totalmente consistente dentro de si mesmo. O
espaço não pode limitá-lo, pois Ele é onipresente. Deus também é onipotente,
pois é poderoso para fazer tudo que esteja de acordo com a sua natureza e
segundo os seus propósitos. Além disso, é onisciente; conhece efetivamente
todas as coisas — passadas, presentes e futuras. Em todos esses atributos o
cristão pode achar o consolo e a confirmação da fé, ao passo que o incrédulo é
advertido e motivado a crer.
De acordo com
Cari Braaten, Deus tanto é contínuo como tem um ser contínuo, tudo o mais é
temporário.
É preciso
ressaltar ainda que não existe contradição entre a natureza perfeita de Deus e
o seu poder ilimitado. Porque Deus jamais fará coisa alguma incompatível com a
sua perfeita santidade. Ele, que tudo pode (Jó 42.2), só faz o que lhe apraz
(SI 115.3). Porém, existem coisas que o Onipotente não pode fazer: Ele não pode
mentir (Nm 23.19; Tt 1.2; Hb 6.18), não pode negar-se a si mesmo (2 Tm 2,13) e
não pode fazer injustiça (Jó 8.3; 34.12). Ele é sempre santo em todas as suas
obras (SI 145.17). Deus também não faz acepção de pessoas (2 Cr 19.7; Rm 2.11).
Os atributos de Deus
Atributo é
aquilo que qualifica um ser. Ao conhecer os atributos de um objeto, buscamos a
essência de sua natureza. Quando conhecemos a Deus, descobrimos os seus
atributos e o reconhecemos como um ser infinito.
Encontramos nas
Escrituras os atributos de Deus. Elas declaram o que Ele é e o que Ele faz. É
verdade que, como criatura, desvendá-los ou relacioná-los no seu todo é tarefa
difícil, se não de todo impossível para nós.
O apóstolo,
escrevendo sobre a glória de Deus, declara: "Aquele que tem, ele só, a
imortalidade e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode
ver; ao qual seja honra e poder sempiterno" (1 Tm 6.16).
Encontramos nas
Escrituras os atributos absolutos de Deus: vida, personalidade, imutabilidade,
unidade, verdade, amor, santidade, bondade, misericórdia e justiça.
Os atributos
naturais de Deus são: onipresença, onisciência e onipotência.
Onipresença. Deus relaciona-se com tudo e todos ao
mesmo tempo. Está presente em toda a sua personalidade. Não há como fugir da
presença de Deus. "Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei
da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis
que tu ali estás também; se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades
do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá" (SI
139.7-10).
Onisciência. Deus é onisciente porque conhece todas
as coisas. Nada há que se esconda de sua onisciência. "E até mesmo os
cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (Mt 10.30). Na onisciência
de Deus, o futuro também está presente: "Lembrai-vos das coisas passadas
desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro
semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio e, desde a antiguida¬de,
as coisas que ainda não sucederam" (Is 46.9,10). A onisciência de Deus
garante-nos que todos os futuros julgamentos serão de acordo com a verdade.
Onipotência. O apóstolo João, na ilha de Patmos,
assim descreve parte de sua visão apocalíptica: "Depois destas coisas,
olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz, que como de
trombeta ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que
depois destas devem acontecer. E logo fui arrebatado em espírito, e eis que um
trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono" (Ap 4.1,2).
Quando Deus
apareceu a Abrão, em Gênesis 17.1, disse-lhe: "Eu sou o Deus Todo-poderoso
[...]". Entendemos que o mundo físico ou material e o mundo espiritual
dependem de seu poder e por ele são controlados. Ê do trono que emana toda
ordem para o mun¬do visível e para o invisível. Deus não está sujeito a nenhuma
força exterior ou contrária à sua vontade. É soberano em todo o Universo:
"Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são
para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os
desenrola como tenda para neles habitar" (Is 40.22; cf. vv. 12-15).
A Trindade
Ainda que não se
encontre nas Escrituras a palavra "Trindade", é bíblico, no entanto,
o fundamento dessa doutrina, presente nos ensinos proferidos por Jesus Cristo e
seus apóstolos.
Encontramos no
Antigo Testamento a doutrina da Trindade: a) na criação e formação do homem (Gn
1.1,26); b) na dispersão dos rebeldes de Babel (Gn 11.1-7); c) na chamada do
profeta Isaías (Is 6.3) e em tan¬tas outras passagens.
Mas é no Novo Testamento
que encontramos de forma mais explícita essa doutrina. No início do ministério
de Jesus, por ocasião do seu batismo em águas, o Espírito Santo desce sobre Ele
e o Pai lhe diz: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt
3.17). Observa-se nesse episódio a Trindade em cena, ratificando assim a sua
realidade no Novo Testamento. Vemos também, em João 14.16, que Jesus roga ao
Pai para que envie aos discípulos o Espírito Santo.
Findando o seu
ministério, Jesus ordena aos discípulos que preguem e ensinem o Evangelho a
todas as nações, "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo" (Mt 28.19). Essa é mais uma clara referência à Trindade.
Nos ensinos de
Paulo, há referências cabais sobre a Trindade. Aos irmãos da Igreja em Corinto
ele diz: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão
do Espírito Santo sejam com vós todos. Amém!" (2 Co 13.13).
Diante do
exposto, é impossível que se negue a doutrina da Trindade nas Escrituras, visto
que a encontramos não somente nos textos considerados por alguns como simples inferências,
mas também, e principalmente, nos textos que são referências reais, e não
somente verbais.
Concluindo,
Paulo cita, em Efésios 1.3, a obra da Trindade na salvação dos homens,
referindo-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo: "Bendito o Deus e Pai
de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos
espirituais nos lugares celestiais em Cristo".
2
SOBRE A BÍBLIA
Cremos na inspiração divina e plenária da Bíblia, bem
como na sua infalibilidade e Inerrância, como única regra infalível de fé
normativa para a vida e o caráter cristãos (2 Tm 3.14-17).
Desde os
primórdios da civilização o homem, para viver em grupo, necessitou de normas
que regulassem os seus direitos e deveres. Surge assim, após laboriosas
experiências, a Constituição, que, transgredida, priva o cidadão dos bens
maiores: a vida, a liberdade etc. Semelhantemente, no mundo espiritual, Deus
estabeleceu a Bíblia Sagrada como fonte de vida. A Palavra de Deus liberta da
escravidão do pecado os que vivem na mentira. Horace Greeley assim define a
importância da Bíblia: "É impossível escravizar mental ou socialmente um
povo que lê a Bíblia". Os princípios bíblicos são os fundamentos da liberdade
humana: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.32).
A Bíblia lida, crida e vivida liberta o homem da escravidão do pecado, pois
quem comete pecado é escravo do pecado. Necessitamos da Bíblia, pois é alimento
para a alma: "Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra
foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome me chamo, ó
Senhor, Deus dos Exércitos" (Jr 15.16).
A Escritura Sagrada
é a segurança para caminharmos no mundo de trevas: "Lâmpada para os meus
pés é a tua palavra e luz para o meu caminho" (SI 119.105). Muitos andam
em trevas por não conhecerem a luz gloriosa de Deus.
A Bíblia é a
maravilhosa biblioteca de Deus com seus sessenta e seis livros. É acima de tudo
a verdade para o fatigado peregrino; é hábil, eficaz e vigoroso cajado. Para os
sobrecarregados e oprimidos pelos fardos da vida, ela é suave descanso; para os
que foram feridos pelos delitos e pecados, é um bálsamo consolador. Aos aflitos
e desesperados, sussurra uma alegre mensagem de esperança. Para os desamparados
e arrastados pelas tormentas da vida, é uma âncora segura; para a solidão, é
uma mão repousante [sic] que acalma e tranqüiliza suas mentes. **
** Eleanor, L.
Doan.
A autenticidade da Bíblia
A autenticidade
da Bíblia baseia-se na sua infalibilidade e inerrância. Os atributos da
divindade são por ela revelados. Ela é autêntica em tudo, pelo fato de o
próprio Deus ser o seu Autor, e o Espírito Santo, o seu Inspirador. Nela são
autênticas e inerrantes as revelações e os fatos narrados.
Nestes últimos
dias, o racionalismo tem se oposto vorazmente contra a autenticidade, a
infalibilidade e a autoridade da Bíblia. Mas o ateísmo jamais poderá ofuscar a
autenticidade das Escrituras. O problema do ateu em não querer aceitar a Bíblia
como Palavra de Deus está na forma como ele se comporta ao ler as Escrituras,
pelo fato de não querer observar o que ela realmente está dizendo. Uma das
principais afirmações da autenticidade da Bíblia é sustentada por Jesus, quando
diz aos judeus que as Escrituras dão testemunho dEle (Jo 5.39). Ora, se Jesus
já existia antes da fundação do mundo e as Escrituras falam a respeito dEle,
isso de fato prova a autenticidade da Bíblia Sagrada.
Outra passagem
das Escrituras que revela a sua autenticidade é a menção de Jesus ao profeta
Jonas, cujo livro foi escrito aproximadamente 790 anos antes de Cristo. Nessa
passagem Jesus afirma que Jonas esteve no ventre do grande peixe por três dias
e três noites e que o profeta pregou aos ninivitas. Diante disso, chega a ser
grotesco tentar obscurecer ou mesmo contestar a inerrância das Escrituras,
visto que o próprio Jesus Cristo confirmou a sua veracidade: "Santifica-os
na verdade, a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17).
A inspiração da Bíblia
A alta crítica,
oriunda do liberalismo teológico que varreu a Europa nos séculos XIX e XX,
recrudesceu a batalha entre a fé e a ciência. Baruch Spinoza, um dos ícones do
modernismo histórico, foi o mais voraz crítico da inspiração bíblica, ao
asseverar que não foi Moisés o autor do Pentateuco. Por isso foi excomungado da
comunidade judaica, morrendo em total isolamento.
Daí para a
frente, as Escrituras tornaram-se o grande alvo dos ataques de filósofos e
teólogos liberais como Harnack, Bultimann, Renan, Schweitzer, Reimarus, Dibelius,
Bultman, Straus e tantos outros que tentaram ridicularizar a Bíblia como livro
inspirado por Deus.
Em face dos mais
densos ataques da Escola Alemã desferidos contra as Escrituras, o
fundamentalismo, movimento antiliberal do século XIX, saiu em defesa da
inspiração plenária das Escrituras.
Conquanto
devamos ter cuidado para não pensar a inspiração como psicografia — que, aliás,
é de origem maligna —, não podemos negar o fato inextirpável de que só o sopro
criativo e inteligente de Deus (graphê theopneustos, 2 Tm 3.16), pôde preservar
a estrutura, a lógica e a coerência que a Bíblia possui.
As Escrituras
tanto falam da inspiração do escritor quanto da inspiração do escrito: um é o
agente, o outro é o efeito. Por exemplo, o texto de 2 Timóteo 3.16 ("Toda
a Escritura é divinamente inspirada") faz referência ao escrito como
inspirado. Já 2 Pedro 1.21 ("Homens santos de Deus falaram inspirados pelo
Espírito Santo") fala do escritor.
A inspiração
plenária da Bíblia é fato incontestável porque assuntos vitais como expiação,
salvação, ressurreição, recompensa e castigo futuros requerem a direção de um
Espírito infalível a fim de se evitarem informações que levem ao erro.
Dentro do mesmo
assunto, destacam-se ainda duas posições que os modernistas não conseguem
negar, embora não concordem com elas: a) a inspiração plenária e verbal da
Bíblia e b) a inspiração e inerrância das Escrituras.
Inspiração
plenária e verbal. Inspiração plenária significa que toda a Bíblia é inspirada
em todas as suas partes. Cristo nunca faz distinção entre os livros da Bíblia
quanto à sua origem divina e autenticidade, mas aplica a expressão
"Palavra de Deus" a todo o cânon do Antigo Testamento. O mesmo
fizeram os apóstolos (2 Tm 3.16).
Inspiração
verbal significa que, na preparação das Santas Escrituras, a superintendência
do Espírito Santo se estende às próprias palavras empregadas. As Escrituras
constantemente afirmam que as suas palavras foram dadas ou dirigidas pelo
Espírito Santo (At 28.25; 1 Co 2.13; 2 Pe 1.21).
Inerrância da
Bíblia. Inerrância não significa que os escritores eram infalíveis, mas que
seus escritos foram preservados de erros. Inerrância significa que a verdade é
transmitida em palavras que, entendidas no sentido em que foram empregadas, não
expressava erro algum.
Verificação
O Antigo
Testamento declara-se escrito sob inspiração especial de Deus. A expressão
"Deus disse" — ou "disse Deus" —, como forte indicador da
chancela divina nos escritos sagrados, é usada mais de 2.600 vezes na Bíblia.
A Lei, os
Salmos, os Profetas, os Evangelhos, as Epístolas, o Apocalipse — enfim, todo o
Antigo Testamento e todo o Novo Testamento —, recebem de Deus um cuidado
especial na sua inspiração. O Novo Testamento cita as leis antigas e faz menção
delas com harmonia. Por isso há uma diferença insondável entre a Bíblia e
qualquer outro livro. Essa diferença deve-se à origem, à forma e à organização
da Bíblia.
Contendo 66
livros escritos por uns quarenta autores, num período de mais ou menos 1.600
anos, abrangendo uma variedade de tópicos, a Bíblia demonstra uma unidade de
tema e propósito que só se explica como tendo ela uma mente diretriz.
Quantos livros
suportam sucessivas leituras? Quantos conseguem ser lidos todos os dias da
vida? A Bíblia pode ser lida não só muitas vezes, mas todos os dias e em todas
as horas da vida. A Bíblia tem o seu lugar reservado em todas as bibliotecas do
mundo, em cada casa e no coração do homem. Ela pode ser lida centenas de vezes,
sem que se possam sondar as suas profundezas e sem que se perca o interesse
pela sua leitura.
A Bíblia está
traduzida em milhares de idiomas e dialetos e é lida em todos os países do
mundo. O tempo não a afeta. É um dos livros mais antigos do mundo e ao mesmo
tempo o mais moderno.
As defesas
intelectuais da Bíblia têm o seu lugar, mas, afinal de contas, o melhor
argumento é o prático. A Bíblia tem produzido resultados práticos indiscutíveis:
tem influenciado civilizações, transformado vidas e trazido luz, inspiração e
conforto a milhões de pessoas. E, nesse e em muitos outros sentidos, a sua obra
ainda continua.
3
SOBRE O NASCIMENTO DE JESUS
Cremos, como dizem as Escrituras, na concepção virginal
de Jesus, como obra exclusiva do Espírito Santo (Is 7.14; At 1.9; Rm 8.34).
Em nosso credo,
confessamos que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo. Desde o iluminismo
essa doutrina tornou-se uma das mais disputadas. Na teologia contemporânea,
Emil Brunner nega a concepção virginal de Cristo em seu livro The Mediator. Ele
o chama de "curiosidade biológica" e vê uma possível conexão com o
docetismo porque essa doutrina fazia com que o Espírito Santo usurpasse a função
do pai humano. Como poderia Jesus ser como nós em todos os sentidos se
realmente não tinha um pai humano? Karl Barth, teólogo contemporâneo de linha
ortodoxa, rejeita os argumentos de Brunner, chamando-os de "um mau
negócio". Wolfhart Pannenberg toma o partido de Brunner, perguntando se os
argumentos de Barth a favor da concepção virginal não o colocam "na trilha
da mariolatria romana". Para Pannenberg, "a história da concepção
virginal traz todas as marcas de uma lenda". Ele conclui: "A teologia
não pode manter a idéia da concepção virginal de Jesus como fato miraculoso a
ser postulado na origem de sua vida terrena".
De acordo com a
teologia modernista, a verdade da concepção pelo Espírito Santo consiste em que
Deus foi o autor da salvação realizada através de Cristo desde o início, e não
apenas em sua ressurreição, nem na cruz, nem no batismo. Ou seja, desde o
momento de sua concepção por Maria. Segundo a linha teológica liberal, a
história da concepção virginal de Jesus é vista como um símbolo.
Como fica
evidente, o interesse primário da teologia liberal é demolir e esvaziar o
sobrenatural da concepção de Jesus. A concepção virginal é por eles chamada de
"uma extravagante intervenção no curso da natureza".
Nascimento sobrenatural
Quando o Manifesto do Círculo de Viena (1929),
com sua ideologia puramente científica, começou a defender o conteúdo e o
método das ciências da natureza como única ferramenta capaz de subministrar uma
cosmovisão rigorosa, exata e científica, asseverando que não há mistérios, e
sim problemas que podem ser claramente formulados, investigados e resolvidos,
acabou por subtrair o sobrenatural, estreitando totalmente o espaço para a fé e
para a teologia.
Mas a redução do
conhecimento ao campo experimental, que, por sua vez, se baseia no
imediatamente dado, elimina da fé a verdadeira natureza do conhece-mento.
Contra isso manifestou-se L. Wittgenstein, no seu Tratado lógico de filosofia:
"O que se pode em geral dizer, pode-se dizer claramente; e sobre aquilo de
que não se pode falar, deve-se calar".
É absolutamente
impossível falar da concepção virginal de Jesus com a exclusão do sobrenatural.
Até porque a Bíblia é um livro que acentua o tempo todo as intervenções sobrenaturais
de Deus na história humana. Visto pelo âmbito do sobrenatural, a concepção
virginal de Jesus é um dos maiores milagres efetuados por Deus no Novo
Testamento.
Lucas, por
exemplo, fala do nascimento de João Batista como resultante do sobrenatural e
desemboca a sua narrativa no nascimento inusitado de Jesus Cristo: "E,
respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude
do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há
de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lc 1.35).
A concepção
virginal de Jesus, como ação sobrenatural pujante, avilta os círculos da
ciência, mexe com os brios dos ateus, desafia a teologia liberal e confunde os
agnósticos. Conquanto a Bíblia não se preocupe em descer a detalhes racionais
formais, não se exclui de contar o nascimento de Jesus como fato decorrente da
intervenção sobrenatural e direta de Deus. De fato, o milagre da concepção
virginal de Jesus quebra todas as leis científicas, como também transcende as
ciências sociais e humanas, pelo fato de mostrar-se como algo absolutamente
inexplicável.
Embora nos
últimos dois séculos os teólogos liberais e filósofos modernistas tenham
desenvolvido um preconceito contra o sobrenatural, a concepção virginal de
Jesus é fato indiscutível no Novo Testamento.
Paulo declara
que Jesus é "nascido de mulher" (Gl 4.4). E continua: "[...]
grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne [...]"
(1 Tm 3.16, grifo nosso). Diz ainda: "[...] sendo em forma de Deus [...]
tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp 2.6,7).
Desse modo, Paulo ensina a encarnação. As expressões "nascido de
mulher" e "gran¬de é o mistério da piedade", por absoluta
unanimidade dos biblistas, referem-se à concepção virginal de Jesus.
Prova da concepção virginal
A prova
escriturística da concepção virginal de Jesus pode ser vista em alguns dos
fatos narrados pelos evangelistas Mateus e Lucas. O primeiro mostra os escrúpulos
de José, sua perplexidade e temores, bem como os seus planos de fuga diante da
revelação intrigante do anjo. O segundo, Lucas, apresenta o comportamento de
Maria, sua fala, suas perguntas, bem como a perplexidade em face da paradoxal
revelação.
Do exposto,
concluímos que ambos os evangelistas:
a) concordam que
a concepção de Jesus foi milagrosa;
b) declaram
também que foi predita pelos anjos e c) mostram que nesse nascimento
cumpriram-se as profecias: "Portanto, o mesmo Senhor vos dará um sinal:
eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome
Emanuel" (Is 7.14).
O dogma da Virgem Maria
O dogma católico
da Virgem Maria declara que Maria, mesmo após o nascimento de Jesus, permaneceu
virgem. É de Atanásioo distorcido dogma de Maria "Mãe de Deus".
Todavia, a Bíblia rebate essa idéia estapafúrdia com uma passagem clássica do
Novo Testamento, que mostra claramente que Maria teve filhos e filhas:
Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama
sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre
nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio, pois, tudo isso? (Mt 13.55,56).
4
SOBRE O PECADO
Cremos que o pecado degenerou o homem e, como consequência,
destituiu-o da glória de Deus e que somente o arrependimento e a fé na obra
expiatória e redentora de Jesus Cristo o podem restaurar a Deus (Rm 3.23; At
3.19).
Não há
necessidade de se discutir a realidade do pecado. A história e o próprio
conhecimento ín¬timo do homem oferecem abundantes testemunho do fato. Muitas
teorias, porém, apareceram para negar, desculpar ou diminuir a natureza do
pecado. As Escrituras, porém, asseveram: "Enganoso é o coração, mais do
que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17.9); "Não
há quem faça o bem, não há sequer um" (SI 14.3); "Todos nós andamos
desgarrados como ovelhas" (Is 53.6); "Pois já dantes demonstramos
que, tanto judeus como gregos [gentios], todos estão debaixo do pecado"
(Rm 3.9); "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e
não há verdade em nós" (1 Jo 1.8).
A pura verdade é
que o pecado é uma realidade incontestável, pois está presente tanto na
história como na consciência de cada ser humano. Os que tentam relativizar a
existência do pecado, exorcizá-la, bani-la, ou até mesmo negá-la, devem atentar
para a declaração do velho teólogo Berkroft: "O pecado é uma coisa que
existe na realidade, seja latente nos vulcões adormecidos da natureza humana,
seja patente na devastadora paixão ardente do homem".
Obviamente, não
é preciso dizer que este mundo não é perfeito e nem as coisas são como deveriam
ser. As injustiças sociais, as economias iníquas e desequilibradas, as
dominações imperialistas, que matam e destroem para impor o seu poder, estão aí
para provar a degeneração do ser humano. Além disso, temos a imoralidade, os
enganos, o orgulho desmedido, os furtos, a violência rural e urbana, os
assassinatos, o abuso de menores, os estupros, as mentiras torpes e
premeditadas, as ações maquiavélicas da mais profunda crueldade, levadas a
efeito todos os dias na morte dos meninos de rua, nas guerras (derramamento inútil
de sangue) com fins políticos e econômicos. Se isso ainda não for suficiente
para provar a realidade do pecado aos que o negam, temos ainda o testemunho
incontestável das religiões falsas e pagãs que, com seus sacrifícios cruentos,
evidenciam o sentimento de culpa pelo pecado que impulsiona os homens a
oferecer holocaustos.
E o que dizer da
literatura mundial, repleta de ponderações ou citações que exprimem a realidade
fatídica do pecado, como um fato triste e reconhecido em toda parte?
Sou uma criatura caída [...] uma base iníqua existia
em minha vontade antes de determinado ato (Coleridge).
Todos temos pecado, uns mais, outros menos (Lúcio
Aneu Séneca ).
Não vejo em outros qualquer falta que eu mesmo não
possa ter cometido (Goethe).
Não penses que tens feito qualquer progresso em direção
à perfeição até que sintas que és o menor de todos os seres humanos (Thomas à
Kempis).
Cada pessoa tem de condenar-se a si mesma, com
jus¬tiça, por ser o maior pecador que conhece (Law).
Depois de todas
essas provas exaustivas da pecaminosa condição de todo o gênero humano, não há
o que desmentir ou negar: o pecado é uma realidade presente no mundo que
"jaz no maligno".
A origem do pecado
Uma vez que é
difícil para a mente humana compreender o problema da origem do pecado, podemos
dizer que, biblicamente, a primeira demonstração de pecado ocorreu quando
Satanás, por causa da soberba, foi expulso da presença de Deus. "E tu
dizias no teu coração; Eu subirei ao céu, e, acima das estrelas de Deus,
exaltarei o meu trono, e, no monte da congregação, me assentarei, da banda dos
lados do Norte" (Is 14.13). Essa passagem não se refere apenas ao rei de
Tiro, mas também, no seu sensus plenior, a Satanás (Lc 10.18).
A soberba e a
prepotência foram os elementos que provocaram o primeiro pecado. A essência do
pecado é, portanto, arrogância, desejo de ser igual a Deus, a asserção da
independência humana contra Deus, a constituição da razão, moralidade e cultura
autônomas. "Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do
campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus
disse: Não comereis de toda árvore do jardim?" (Gn 3.1).
O pecado,
portanto, originou-se da livre escolha do homem em querer tornar-se como
divindade. Pois, disse a serpente à mulher, "sereis como Deus, sabendo o
bem e o mal. E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e
agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu
fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela" (Gn
3.5,6).
A conseqüência do pecado
Quando Adão,
deixando de obedecer a Deus, caiu em transgressão, ele não só prejudicou a si
mesmo como também a toda a raça humana, a quem ele representava (Rm 5.12). O
primeiro efeito da desobediência de Adão foi à morte, na expressão redundante
do hebraico: "morrendo morrerás" (Gn 2.17). Não se tratava tão-somente
da morte física, porém, porque fisicamente Adão continuou vivendo, mas da morte
espiritual, a separação de Deus (Ef 2.1-5). Por isso quando se dá ã conversão
do pecador a Deus, ele (o pecador) recebe vida espiritual, que antes não
existia nele em conseqüência da transgressão de Adão (Rm 5.12-14). Á pior conseqüência
do pecado é a morte, tanto a espiritual e física quanto a eterna (Gn 3.19; Ap
20.14; 21.8). A morte, na linguagem bíblica, será o último inimigo a ser
vencido (1 Co 15.26).
O pecado, portanto,
trouxe várias e terríveis conseqüências aos homens, entre as quais a morte
eterna, que significa uma existência de sofrimento resultante da separação
eterna de Deus numa existência má e degradante.
A natureza do pecado
O caráter santo
de Deus é norma absoluta, única e final para o julgamento dos valores morais.
Não há, portanto, norma moral à parte de Deus. Logo, pode-se declarar, sem medo
de estar errando, que o pecado é mau porque é diferente de Deus.
O pecado, visto
por essa ótica, é descrito como transgressão de qualquer das leis de Deus, as
quais foram dadas como norma para a criatura racional. O pecado c um ato e um
estado da vontade pessoal contra Deus e sua vontade. Origina-se da totalidade
da pessoa arraigada e relacionada com aquilo que transcende a mesma pessoa,
expressa-se na complexidade da força e da fraqueza da pessoa e resulta na
distorção de todas as relações pessoais.
Conforme o
ensino das Escrituras Sagradas, todo homem está afastado de Deus pela corrupção
do pecado. Essa natureza consiste na perda da justiça original que o homem tinha
antes de pecar. Por conseguinte, todo homem está corrompido, e essa corrupção
manifesta-se em uma aversão a todo o espiritual, uma inimizade com Deus e uma
inclinação positiva para o mal. Portanto, o pecado, em sua natureza, envolve
tanto a culpabilidade quanto a corrupção. O estado de pecado em que o homem
caiu consiste no crime do primeiro pecado de Adão, na falta de retidão
original, na corrupção de toda sua natureza, o que ordinariamente é chamado de
pecado original.
Agora, para
sustentarmos a doutrina bíblica do pecado original, temos que estabelecer três
pontos, a saber:
1. Todos os
homens, descendentes de Adão por geração ordinária, estão destituídos da
justiça original e sujeitos à corrupção da natureza.
2. A corrupção
original afeta todos os homens, não somente no corpo, mas também as faculdades
da alma.
3. Sua natureza
é tal que antes da regeneração os homens estão completamente indispostos e
espiritualmente incapazes e contrários a tudo que é bom (Ef 2.1).
Encerramos
citando Karl Barth, teólogo contemporâneo, que define o pecado como uma
oposição ao modus vivendi cristocêntrico:
Pecado é tudo
aquilo que, visto em Cristo, se caracteriza essencialmente como oposto de sua
conduta.
5
SOBRE A SALVAÇÃO
Cremos na salvação presente, imediata, completa e
perfeita e na justificação do homem recebidas gratuitamente de Deus pela fé no
sacrifício efetuado por Jesus Cristo (At 10.43; Rm 3.24-26; 10.13; Hb 5.9;
7.25).
A doutrina da
salvação é uma das mais ricas em toda a Bíblia Sagrada. Ela é o grande dom de
Deus aos homens: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso
não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se
glorie" (Ef 2.8,9). A salvação não é uma conquista humana, e sim um dom de
Deus. Nenhum ser humano deve imaginar que os seus méritos possam conquistar a
salvação. Primeiramente, porque "todos pecaram"; segundo, porque só
através de Jesus Cristo o homem pode ser salvo. É a salvação, como manifestação
concreta da graça de Deus, que nos traz a regeneração, a justificação, a santificação,
a libertação, a cura e tantas outras bênçãos. Na Epístola aos Romanos,
encontramos a grandiosa catedral teológica levantada à salvação. Ali o Espírito
Santo, o grande escultor divino, inspira o apóstolo
Paulo a esculpir
uma das suas obras-primas acerca do plano presciente de Deus para salvar o
homem de seus pecados.
Etimologicamente,
a palavra salvação significa "ser tirado de um perigo",
"livrar", "curar", "dar escape". A Bíblia fala da
salvação como a libertação do tremendo perigo de uma vida sem Deus.
A salvação tem
sua origem em Deus, que estabeleceu o seu plano antes da fundação do mundo (Ef
1.4). Quando o homem (Adão), no jardim do Éden, desobedeceu a Deus, o seu pecado
trouxe graves conseqüências aos seus descendentes (Rm 5.12,17-19). Porém Deus
não foi apanhado de surpresa. Ele já tinha, no princípio, estabelecido o meio
eficaz para salvar o homem. No livro de Gênesis, aparece a promessa de um
Redentor: a "semente da mulher" (Gn 3.15; comp. com Gl 4.4 e Is
7.14). Na "plenitude dos tempos", cumprindo-se o que fora prometido,
nasce o Salvador em Belém de Judá, e, conforme orientação recebida do anjo
Gabriel, enviado da parte de Deus, deram-lhe o nome de Jesus, cuja missão se
acha destacada no significado do seu nome (Mt 1.21; Lc 2.11).
Nos dias de seu
ministério, quando procurado por Nicodemos (Jo 3.1,2, 16), Jesus revela a razão
de sua vinda ao mundo, dentro do que já havia sido estabelecido (Ef 1.4; Ap
13.8). Pela resposta de Jesus a Nicodemos — "Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê [...]
tenha a vida eterna" —, entendemos que só Ele, Jesus Cristo, pode salvar
(At 4.12). No plano de Deus para salvar o homem, estava incluída a morte de
Cristo na cruz (Is 53.4-6; Jo 10.17,18; Hb 10.7-14). Paulo acentua a morte de
Cristo, destacando que é o único meio pelo qual o homem pode ser resgatado da
maldição da Lei (Gl 3.13,14).
Os três aspectos da salvação
1 Justificação. Um dos assuntos mais gloriosos
da Bíblia é a justificação. Trata-se de um termo forense e significa
"declarar alguém justo", no sentido de absolvição. A justificação
descreve a nova condição do homem pecador diante de Deus. O homem, antes
culpado e condenado à morte eterna, recebe o perdão dos pecados e
simultaneamente é declarado justo por Deus (Rm 8.33). Aos olhos de Deus, o
nosso pecado não existe mais (SI 103.12; Mq 7.18,19; Rm 3.23-26). Na justificação,
recebemos algo que ultrapassa o perdão, por¬que com o perdão recebemos a
quitação dos nossos pecados; com a justificação, porém, Deus nos torna san¬tos,
como se nunca houvéssemos pecado (Rm 5.1).
2. Regeneração. A salvação não advém de uma soma
de ritos a serem praticados. Ela ocorre instantaneamente na vida de quem
sinceramente crê no Senhor Jesus Cristo, e o recebe como Salvador e Senhor.
Entretanto, há uma seqüência lógica a ser observada. Jesus disse: "Ninguém
pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no
último dia" (Jo 6.44). Ele também declarou: "Quando ele [o Espírito
Santo] vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo: do pecado,
porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis
mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado" (Jo
16.8-11). O instrumento usado pelo Espírito Santo para realizar essa obra é a
Palavra de Deus: "De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra
de Deus" (Rm 10.17). Vemos, portanto, que na salvação dos pecados há
participação efetiva do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Todavia não está
restringida a liberdade de escolha do homem: "Vinde a mim, todos os que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Esse é o
convite feito por Jesus. Cabem ao pecador duas opções: aceitar ou rejeitar (Jo
12.47,48).
As Escrituras
falam de muitos apelos feitos ao homem para que ele retorne a Deus (Pv 1.23; Mt
18.3; Jo 7.37). A conversão é a resposta do pecador convicto à chamada de Deus
feita pelo Espírito Santo. Há, no arrependimento dos pecados, dois pontos a
serem considerados: o lado negativo, que é o sentimento de culpa pela
transgressão das leis de Deus e que leva o homem ao arrependimento, e o
positivo, a fé.
O arrependimento (methanóia, no grego), que significa
"dar meia-volta", "mudança de mente", trata-se de uma
mudança de atitude em relação ao pecado, que é abandonado e recusado. O pecador
arrependido reconhece a sua culpa diante de Deus, a qual é acompanhada de um
sentimento de tristeza pelo pecado cometido (SI 51.1-3,12; 2 Co 7.10).
O lado positivo
do arrependimento está no fato de o pecador não somente virar as costas para
algo, mas também voltar-se para Deus. É uma atitude de fé, que permite ao ser
humano arrependido entrar numa relação positiva com Deus. Isso enfatiza a
importância da fé, que é fundamental no relacionamento com Cristo (Hb 11.6).
Concluímos que a
regeneração é descrita como o abandono das coisas opostas à vontade de Deus e a
entrega total em obediência a Ele. Assim sendo, é um fato que se dá simultâneo
à salvação.
3. Santificação. Uma coisa é tornar-se cristão.
Outra é viver a vida cristã. Tudo que recebemos na salvação, na justificação e
na regeneração se manifesta na santificação. Isso significa vida cristã na
prática (1 Ts 4.3; 2 Co 7.1; Hb 12.14). A santificação apresenta três aspectos:
a) Santificação posicional — Nesse
sentido, ela é imediata. "Na qual vontade [Deus] que temos sido santificados
pela oblação do corpo de Jesus Cristo feita uma vez" (Hb 10.10). Esse fato
se dá na conversão do pecador: É imediato, total, e coloca o homem na posição
de filho de Deus (1 Pe 1.3,4), ou seja, posicionalmente santo (Rm 1.7; Hb 3.1).
b) Santificação progressiva — "Quem é
santo seja santificado ainda" (Ap 22.11). Essa santificação acontece no
decorrer da vida cristã. Enquanto a santificação posicional é imediata, a
progressiva é dinâmica e paulatina. Quanto mais o crente se consagra para Deus,
mais santificado se torna (1 Co 7.1). A santificação progressiva aperfeiçoa-se
no temor de Deus. Ela é aperfeiçoada com oração, estudo da Palavra de Deus,
jejum, e através de uma vida dedicada à obra de Deus (Rm 6.12,13, 22).
c) Santificação completa (absoluta) — Acontecerá
por ocasião da redenção do corpo, na ressurreição (Rm 8.22,23) ou no
arrebatamento, quando formos transformados.
O novo nascimento
Quando Nicodemos,
cujo nome significa "conquistador do povo", foi ter com Jesus à
noite, deixou transparecer no seu argumento o próprio significado do seu nome.
Ele tentou impressionar Jesus às custas de elogio: "Rabi, bem sabemos que
és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes,
se Deus não for com ele" (Jo 3.2). Toda essa menção elogiosa não
impressionou Jesus, que em contrapartida lhe respondeu sobre a necessidade do
"novo nascimento", o que nada tinha a ver com os elogios de
Nicodemos.
Nicodemos deixa
transparecer em suas palavras que não entendia nada a respeito do novo
nascimento, apesar de ser ele mestre em Israel. Foi então que Jesus passou a
ensiná-lo sobre o significado e como acontece o novo nascimento: "Aquele
que não nascer da água e do Espírito..." (Jo 3.5).
Há quem confunda
novo nascimento com batismo em água. Só que esse argumento não tem consistência
por falta de embasamento bíblico. Ninguém é batizado em água para nascer de novo,
porque só se batiza quem já é nascido de novo.
A palavra
"água", citada no texto, refere-se à Palavra de Deus, como o
confirmam as próprias Escrituras. Paulo, em Efésios 5.26, apresenta a Palavra
como água que santifica a Igreja ("[...] para a santificar pela lavagem da
água, pela palavra de Deus"). Jesus também declara, em João 15.3:
"Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado". Vemos então
que a Palavra de Deus é um dos elementos fundamentais para que se possa nascer
de novo.
Jesus acrescenta
ainda à água a expressão "Espírito". Isso quer dizer que o novo
nascimento não resulta apenas da ação da Palavra, mas também da do Espírito
Santo, concordando com o que está escrito em João 16.8: "Quando ele [o
Espírito Santo] vier, convencerá o mundo do pecado [...]". Assim,
entendemos que, aplicando o Espírito Santo a Palavra de Deus à consciência e ao
coração do pecador e recebendo este com sinceridade a verdade de Deus, acontece
de imediato e de forma sobrenatural o que chamamos de novo nascimento: "Ele
nos gerou de novo pela palavra da verdade [...] em vós enxertada, a qual pode
salvar a vossa alma" (Tg 1.18,21).
É do homem também
uma parcela de responsabilidade no novo nascimento. Quando Tiago escreve que devemos
receber "com mansidão a palavra em vós enxertada" e o escritor aos hebreus
que "a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava
misturada com a fé naqueles que a ouviram", concluímos que o homem tem a
responsabilidade de aceitar a Palavra.
Com a operação
da água — a Palavra de Deus — e do Espírito Santo, qualquer criatura humana
pode nascer de novo. Aliás, isso continua acontecendo, quan¬do os mensageiros
de Cristo anunciam o Evangelho, levando a Palavra, sob a unção do Espírito
Santo, aos que ainda não foram alcançados para a salvação.
O novo nascimento
contrasta com o nascimento natural. Jesus foi enfático ao responder a Nicodemos
(Jo 3.6) que o novo nascimento nada tem a ver com a dou¬trina da reencarnação.
Isso também está claro em João 1.13, que nos mostra a grande diferença entre
nascer da vontade da carne, da vontade do varão, e nascer da vontade de Deus.
Por ser o novo nascimento uma obra exclusiva do Espírito Santo e do poder da
Palavra de Deus, não basta nascer num lar evangélico para alcançá-lo, porque
"filho de crente não é crente".
Deus tem uma
família na terra (Ef 2.20; 3.14,15) composta por aqueles que nasceram de novo
conforme a recomendação de Jesus a Nicodemos: "Necessário vos é nascer de
novo..."
6
SOBRE O BATISMO EM ÁGUAS
Cremos no batismo bíblico efetuado por imersão do Corpo
inteiro uma só vez em águas, em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou
o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12).
O batismo em
águas (do grego baptzõ, "mergulhar", "submergir") é uma das
duas ordenanças que Cristo deixou à Igreja (Mt 28.19). Através do batismo, o
novo convertido, que já faz parte do Corpo de Cristo pelo novo nascimento, dá o
seu testemunho público do que lhe aconteceu. Trata-se, portanto, de uma
confissão pública de fé em Cristo, por intermédio de atos e palavras, onde o
batizando mostra ter aceitado plenamente as verdades da Bíblia Sagrada.
No ato do
batismo em águas, o convertido mostra ter morrido para o mundo e renascido para
Cristo, para viver agora em "novidade de vida" (Rm 6.4).
As águas do
batismo não visam limpar os nossos pecados. O Novo Testamento mostra claramente
ser o sangue de Jesus, e não as águas do batismo, o que nos purifica e perdoa.
Mediante o sangue de Jesus somos justificados, nossa consciência é purificada e
somos redimidos (Rm 5.9; Hb 9.14; 1 Pe 1.18,19).
Embora a igreja
católica e algumas denominações evangélicas pratiquem o batismo por aspersão ou
efusão, a história e a etimologia do verbo grego baptzõ mostram ser a imersão a
forma bíblica.
Pedro, ao falar
sobre o batismo para "perdão dos pecados" (At 2.38), usou a mesma
expressão grega utilizada por João Batista, quando este afirmou: "E eu, em
verdade, vos batizo com água, para o arrependimento" (Mt 3.11). O batismo
de João Batista não produzia o arrependimento, mas apontava para ele. Assim
também a expressão petrina. "Para perdão dos pecados" significa
"por causa do perdão dos pecados" ou "como testemunho de que os
vossos pecados foram perdoados". Nesse caso, o batismo tornou-se não somente
um testemunho, mas um compromisso de viver uma nova vida no poder do Cristo
ressuscitado.
O batismo em águas é só para os convertidos
De acordo com a
Bíblia o batismo em águas é somente para os que já se converteram a Cristo.
Jesus ordenou a seus discípulos: "Portanto, ide, ensinai [fazei discípulos
em] todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo".
Observe que a
ordem do texto é fazer primeiro discípulos e depois batizar. Em Marcos 16.16, o
crer vem antes do batismo. Quando Filipe pregava e em nome de Deus realizava
milagres, as pessoas criam e então eram batizadas (At 8.12). Essas pessoas
foram batizadas sempre depois de terem crido. Em alguns casos, pessoas receberam
o batismo com Espírito Santo antes de serem batizadas em águas, mas está bem
claro que o batismo em águas é somente para aqueles que confessam Cristo como
Salvador.
Considerando
todos esses exemplos, chegamos a conclusão de que não devemos, em hipótese
alguma, batizar crianças, pois elas, não tendo ainda chegado à idade da razão,
não têm nenhuma capacidade de confessar a Cristo como Salvador.
A Bíblia é contra o rebatismo
O batismo em
águas deve ser ministrado uma só vez. É nesse sentido que Paulo escreve aos
Efésios: "[...] uma só fé; um só batismo" (Ef 4.5).
O batismo
O modo. A palavra "batizar", usada na
fórmula de Mateus 28.19,20, significa literalmente, como já foi explicado,
"mergulhar" ou "imergir, submergir". Alguns, mesmo
pertencendo a igrejas que batizam por aspersão, admitem que a imersão é o modo
primitivo de batizar.
A fórmula. "[...] batizando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Há quem confunda a
declaração de Pedro em Atos 2.38 com a fórmula citada em Mateus 28.19. As
palavras proferidas por Pedro não representam uma fórmula batismal, e sim uma
declaração de que as pessoas que reconheci¬am Jesus como Senhor e Cristo
recebiam batismo.
A Didaquê, um documento escrito aproximadamente no
ano 100 d.C, fala do batismo cristão celebrado em nome do Senhor Jesus Cristo.
Mas o mesmo documento, ao descrever o rito detalhadamente, usa a fórmula
trinitária. Por ser essa a determinação de Jesus, os que nele crêem e o recebem
como Senhor jamais deveriam mudar a fórmula por Ele estabelecida.
Quem deve se
batizado. Todos os que sinceramente se arrependem de seus pecados e recebem a
Cristo como Salvador e Senhor são elegíveis para o batismo (At 2.4). O batismo
em águas é uma confissão pública de fé em Cristo, por intermédio de atos e
palavras, na qual o batizando mostra ter aceitado plenamente as verdades
concernentes à encarnação, à morte e à ressurreição de Cristo.
No ato do
batismo, o convertido mostra ter morrido para o mundo e renascido para Cristo,
vivendo agora em novidade de vida. Concluindo, o batismo em águas, em si, não
tem nenhum poder de salvar uma pessoa. Mesmo porque não se batiza alguém para
ele ser salvo, e sim porque já é salvo.
7
SOBRE O ESPÍRITO SANTO
Cremos no Espírito Santo como a terceira Pessoa da
Trindade, genuíno Deus, eterno, onipotente, onipresente e onisciente (Jo 16.13,14).
Sobre a doutrina
acerca do Espírito Santo, urge prevenirmos os mal-entendidos. Isso porque o
tipo de relacionamento que a maioria dos cristãos vem tendo com o Espírito
Santo, a terceira Pessoa da Trindade, é absolutamente estranho e ao mesmo tempo
paradoxal, quando analisado à luz da nossa declaração de fé, que diz: "Cremos
[...] em um só Deus eternamente subsistente em três Pessoas: O Pai, o Filho e o
Espírito Santo".
Esse
relacionamento resulta, ao que tudo indica, da má compreensão das metáforas que
a Bíblia usa para caracterizar algumas das manifestações do Espírito Santo,
aliada ao uso exaustivo, sistemático, repetitivo e exagerado de simbologia em
algumas culturas pentecostais. Isso fica provado quando ouvimos e analisamos as
orações feitas ao Espírito Santo, quando lhe atribuímos apenas poder
energético. Já parou para observar como nós oramos: "Ó Deus, manda a força
do Espírito, o poder do Espírito, a unção do Espírito e nos enche de sua
virtude..."?
De fato o
Espírito Santo é força, poder, mas é sobre tudo a terceira Pessoa da Trindade,
a) Ele pode entristecesse (Ef 4.30); b) Ele é capaz de sentir ciúmes (Tg 4.5);
c) Ele é capaz de sentir conosco as agonias da nossa existência (Rm 8.26,27);
d) Ele é capaz de ensinar (1 Co 2.11,13); e) Ele tem vontade (1 Co 12.11); f)
Ele ama (Rm 15.30).
A razão
principal de muitos cristãos não viverem em íntimo e profundo relacionamento
com o Espírito Santo como Pessoa e como Deus está no hábito mental adquirido de
imaginá-lo sempre como algo, e não como Alguém. Toda essa dificuldade que a
maioria tem de se relacionar com o Espírito Santo, de vê-lo como uma Pessoa que
fala, sente, ouve, ama, é em razão do uso exagerado da simbologia a Ele
referente.
Quem está
acostumado a só ouvir que o Espírito Santo é como fogo, vento, chuva, orvalho,
pomba etc., jamais conseguirá enxergá-lo como uma Pessoa, imaginá-lo-á sempre de
forma impessoal. Por essa percepção distorcida em relação a terceira Pessoa da
Trindade, um escritor norte-americano denominou o Espírito Santo de "fulano",
no seu livro Pai, Filho e Fulano. Até hoje o Espírito Santo é tratado de forma
impessoal, sem que lhe demos a honra, o louvor e a adoração devidos. Não
podemos esquecer que o Espírito Santo é o Deus presente entre nós.
A teologia de
Jesus acerca do Espírito Santo é bastante clara no Evangelho de João (cf. Jo
16.13,14). A palavra de ordem nesse evangelho é que o Espírito Santo seria
enviado em lugar de Jesus para ajudar os homens em todas as suas carências (Jo
14—16). O termo grego aqui traduzido por "outro" é ãllõn, e não hëteron,
significando que o Espírito Santo é outro ajudador, separado e distinto de
Cristo, embora da mesma "espécie", e não uma forma distinta ou separada
de ajudador. Ele é a continuação do Senhor Jesus entre nós, embora sob uma manifestação
ou presença de categoria diferente. Jesus procurou consolar os seus discípulos
mostrando-lhes que, embora fosse ocorrer em breve alguma modalidade de
separação entre Ele e os seus seguidores, em outro sentido bem real Ele haveria
de permanecer com eles para todo o sempre, porque o Espírito Santo haveria de
descer para estar no meio deles e com eles.
João 16.13,14,
deixa claro que o relacionamento do Espírito Santo com Jesus seria na mesma
base do relacionamento que este mantinha com o Pai. Jesus dizia que nada do que
falava era de si mesmo, mas do Pai. Da mesma forma o versículo acima declara
que o Espírito Santo tem o mesmo tipo de comportamento para com Jesus. Isso
quer dizer que a única maneira de se conhecer o Filho de Deus é por meio da
comunhão com o Espírito Santo.
Observe que é
exatamente isso o que Jesus revela nas suas clássicas palavras registradas em
João 14.7,10: "Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu
Pai; e já desde agora o conheceis e o tendes visto. [...] As palavras que eu
vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as
obras".
Comparando esses
versículos com os versículos 13 e 14 do capítulo 16 do mesmo evangelho,
chegamos às seguintes conclusões:
a) Assim como
Jesus veio ao mundo para glorificar o Pai, o Espírito Santo está entre os
homens para glorificar Jesus com as suas obras.
b) Assim como
Jesus é o Mediador entre Deus e os homens, o Espírito Santo é o Mediador entre
Jesus e a sua Igreja.
c) Assim como
Jesus não falava de si mesmo, mas do Pai, o Espírito Santo também não fala de
si mesmo, mas nos revela tudo o que tem ouvido de Jesus.
d) Assim como
Jesus veio ao mundo para revelar o Pai, o Espírito Santo está no mundo para
revelar Jesus aos homens.
e) Assim como
Jesus nos revela as profundezas de Deus, só o Espírito Santo pode revelar-nos
profundamente a Pessoa de Jesus.
f) Assim como
Jesus glorificou o Pai em toda a expressão de sua vida e não deixou de ser
adorado, louvado, exaltado, o Espírito Santo glorifica a Jesus em todas as suas
manifestações, mas isso não impede que Ele receba as nossas orações, adorações,
louvores, exaltações, pois Ele é Deus.
g) Assim como
Jesus é o único caminho para Deus, o Espírito Santo cumpre o papel de convencer
o pecador de que Jesus é o único caminho para Deus.
O batismo com o Espírito Santo
O batismo com o Espírito
Santo é uma bênção distinta da salvação. Conquanto a terceira Pessoa da Trindade
tenha papel relevante na conversão e passe, desde então, a habitar no novo
crente, o Novo Testamento deixa claro que há um momento específico da vida
cristã em que o salvo recebe esse batismo, também chamado de revestimento. Essa
experiência, toda vez que é mencionada no livro de Atos dos Apóstolos, aparece
como algo distinto do novo nascimento (At 2.38; At 11.12-17).
Com o surgimento
do neopetencostalismo, vieram também à tona várias teorias diferentes sobre a
evidência inicial do batismo no Espírito Santo. Há quem afirme ser essa
evidência uma explosão de alegria, outros inserem no ato de ungir com óleo a garantia
do batismo e alguns preferem deixar a questão em aberto, sem determinar uma
fórmula específica.
Mas a Bíblia
continua sendo o nosso padrão nessa área, identificando o falar em línguas como
a evidência inicial do batismo no Espírito. Foi assim no dia de Pentescoste (At
2.1-31). A experiência repetiu-se por ocasião da conversão de Cornélio e de sua
família (At 10.45,46), bem como com a chegada do apóstolo Paulo em Éfeso, em
sua primeira viagem missionária (At 19.1-6). Nesses casos, o fenômeno que indicava
o batismo era o falar em línguas. Mesmo no episódio da evangelização de
Samaria, quando os apóstolos impuseram as mãos para que os crentes recebessem o
Espírito Santo, fica implícita a idéia de um fenômeno físico, visível, que
levou o mágico Simão a ambicionar a possibilidade de exercer o mesmo milagre
(At 8.14-24). Pelo contexto de Atos, o que poderia ser senão o falar em
línguas? Assim as línguas identificam o crente quando este é batizado no
Espírito Santo.
O batismo no
Espírito Santo tem como finalidade capacitar o crente para a vida cristã
vitoriosa e, sobre tudo, para testemunhar com ousadia sobre a sua fé em Cristo,
mesmo nas circunstâncias adversas, em que as convicções espirituais podem até
ser provadas pelo martírio. Nessas horas, é o poder advindo do batismo no
Espírito Santo que dará força ao crente para suportar a dura prova da
perseguição (At 13.44-52).
Por isso, vale a
pena estimular os crentes buscar o batismo no Espírito Santo.
Os dons espirituais
O Brasil e o
mundo têm vivenciado, nos últimos setenta anos, uma efervescência de dons
espirituais, em razão da redescoberta do poder do Espírito Santo.
Evidentemente, muitas coisas nos meios pentecostais e neopentecostais são expressões
de excessos e de imaturidade, todavia, conquanto precisem de alguns ajustes
bíblicos, os movimentos pentecostal e neopentecostal refletem uma ação efetiva,
nova e revolucionária do Espírito Santo na vida da igreja atual.
Assuntos tais
como milagres, línguas estranhas, profecias, considerados anacrônicos,
obsoletos ou verdadeiros apêndices por algumas denominações tradicionais foram
redescobertos e liberados das algemas dos dogmas e das sistemáticas
denominacionais. O Espírito Santo deixou de ser teoria para ser Alguém real —
Deus presente e adorado pela igreja, causando extre¬mo impacto aos
denominacionalistas históricos.
Faz-se
necessário dizer que esses movimentos divinos vêm sempre como contraponto a uma
situação de morbidez, frieza e indiferença na área da devoção, da missão e dos
objetivos, razão por que a proposta essencial dos grandes avivamentos da
história foi consertar erros de percurso tomados pela Igreja. Assim foi entre o
catolicismo e o protestantismo; depois, entre o protestantismo e movimento
evangélico; depois, entre o movimento evangélico e o pentecostal. Todas essas
mudanças fazem parte do mover de Deus na história, mudando o status quo da
Igreja, principalmente quando este já não atende aos apelos do Reino de Deus.
Acerca dos dons
espirituais temos cinco considerações a fazer:
1. Não
se pode restringir nem absolutizar o número de dons. O Novo Testamento não
traz uma lista exaustiva e específica de dons, isso porque cada lista
acrescenta algo à outra. Enquanto Romanos 12.6-8, por exemplo, apresenta uma
lista característica de dons, 1Coríntios 7.7 exibe outra; já os capítulos 12 e
14 de 1
Coríntios
apresentam outros dons, que não encontramos nas duas primeiras listas. Efésios
4.11-13 apresenta uma quarta lista, e, finalmente, 1 Pedro 4.10,11 compõe uma
quinta. Ou seja, as listas são diversas — umas com mais, outras com menos dons;
umas nas quais faltam dons, outras em que eles são acrescentados. Logo, não
devemos dogmatizar a respeito do assunto, afirmando que os dons existentes são
aqueles acerca dos quais o Novo Testamento fala. Primeiro, porque o Novo
Testamento não nos oferece uma lista exaustiva de dons. Segundo, porque cada
escritor deixou de citar uma série, que outros mencionam o que significa que na
mente deles não havia a sistematização que encontramos em alguns livros atuais.
2. Os dons são mais numerosos do que aqueles que
o Novo Testamento apresenta. A indicar pelo estudo do Novo Testamento,
concluímos que os dons podem ser mais numerosos do que aqueles que comumente
aceitamos. De qualquer maneira, porém, todos os dons têm que, fundamentalmente,
fazer sentido com o espírito geral das Escrituras. Ou seja, Deus é soberano
para prover novas formas de manifestar a sua graça através da vida humana.
3. Dons
espirituais são diferentes de talentos naturais e de habilidades adquiridas.
Talentos e habilidades podem ser também usados na obra de Deus. No entanto quem
os usa apenas de forma natural ficará muito aquém das suas reais possibilidades
como homem ou mulher de Deus. Estará também desprezando algo que, afinal de
contas, foi providenciado por Deus "a cada um para o que for útil” (1 Co
12.7). E não devemos nos contentar com menos do que aquilo que Deus tem para
nós.
4. Dons
espirituais não são para transformar pessoas em seres superespirituais
nem para tomar alguém melhor ou superior a outros crentes. O batismo no Corpo
de Cristo, que é diferente do batismo com o Espírito, coloca-nos em situação de
igualdade com os demais membros do Corpo, criando entre nós uma união
essencial.
5. Todos
os dons são importantes, até os menos aclamados pela teologia sistemática.
Temos um problema sério aqui, porque muitos pentecostais tendem a classificar
alguns dons como mais importantes que outros. Mas a verdade é que todos
obedecem a uma ordem de utilidade comunitária. Apresentamos, a seguir, alguns
desses dons não tão proclamados nos meios pentecostais.
a) O dom de serviço (no grego,
diakonia, Rm 12.6-8) — Desse vocábulo deriva a palavra "diácono". Geralmente
o termo significa o cuidado das necessidades físicas (At 6.1,2). A pessoa que
serve a outrem guiada pelo dom do Espírito faz, por vezes, o mesmo que outros
fariam simplesmente por motivos humanitários. Mas há, sem dúvida, duas diferenças
notáveis: o dom espiritual resulta numa maior efetividade, graças ao poder
sobrenatural, e o motivo será certamente o que Pedro indicou: "[...] para
que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo [...]".
b) O dom do ensino (no grego, didakson, Rm 12.6) —
Esse dom tem por finalidade instruir e consolidar os outros na verdade do
Evangelho. Os dons descritos na lista da Primeira Carta aos Coríntios como
"palavra da sabedoria" e a "palavra da ciência [ou do
conhecimento]" estão estreitamente relacionados com o dom de ensinar. O
ensino não se limita às palavras, é também produzido através do exemplo e da
influência sutil do caráter daquele que ministra o ensino.
c) O dom de exortar (Rm 12.6-8) — O
termo grego para "exortar" éparakleto, que significa
"ajudador" — literalmente, "ir em socorro de alguém" em qualquer
necessidade. É uma espécie de "estimulador da fé". Encorajamento ou
conforto é a aplicação desse dom, "pondo um coração novo" naqueles
que tenham sofrido derrotas ou perdas ou que estejam sob provações.
d) O dom de contribuir — Significa
mais do que dar no sentido filantrópico. Significa dar com o coração cheio do
amor de Deus. Isso significa que esse dom vai além da mordomia cristã.
e) O dom de presidir (ou governo, Rm
12.8). Literalmente, significa "tomar o comando ou diretivas de qualquer
grupo". Duas palavras são utilizadas no Novo Testamento com respeito a
esse dom: proístemi (Rm 12.8) e kybérnesis (1 Co 12.28). A primeira significa
"estar à frente, comandar", e a segunda, "administrar",
conceitos que se entrelaçam. A palavra adjetivamente relacionada ao dom de
presidir é "diligentemente", isto é, com sinceridade, zelo, e de
forma metódica. O governo exige visão, paciência, consistência quanto a
objetivos e força de von¬tade para continuar quando outros desistem. Quem
governa deve governar em cima de cada situação, ser interessado, não afrouxar
nos padrões de controle, estar sempre à frente, tocando as coisas com garra. É
também quem planeja e induz os outros a se empenharem na realização dos planos.
É uma espécie de organizador de programas.
f) O dom da compaixão (Rm 12.8) — O
portador desse dom sente alegria, tem empatia, se compadece da dor do próximo,
é misericordioso para com os irmãos, ajuda quem não tem condições de ajudar-se
a si mesmo. O dom da compaixão move as ações sociais mais sublimes.
g) O dom do socorro (1 Co 12.28) —
Os que possuem tal dom geralmente investem a sua vida na perspectiva de serviço
aos cristãos em dificuldades. São aquelas pessoas que receberam do Espírito
Santo a sensibilidade para detectar problemas sérios, pressentir onde estão os
verdadeiros carentes, experimentando prazer em permanecer junto deles.
A segunda lista
paulina de dons espirituais encontra-se em 1 Coríntios 12.7-11. Algumas
diferenças apreciáveis são evidentes quando a comparamos com a lista da Carta
aos Romanos. O único dom comum às duas listas é o da profecia, o qual Paulo
considera, em 1 Coríntios 14, superior aos demais. Sugeriu-se que os dons
mencionados na Carta aos Romanos são parte da vida cotidiana da comunidade
cristã, sendo que a esse grupo de dons pertenceriam os mais extraordinários, os
mais transitórios e os menos universais. O fato de as listas serem tão
diferentes mostra-nos que os dons espirituais abarcam um número de capacidades
para muito além do que aquilo que geralmente pensamos. É possível que a
diferença existente entre as duas listas sugira a situação de cada uma das
igrejas a que Paulo escreveu. A igreja em Roma parece ter sido uma comunidade
bem mais estável e espiritual. Não estava envolvida em lutas internas nem sob o
ataque de doutrinas heréticas. A igreja em Corinto, ao contrário, era a que
dava mais problemas na época. Estava dividida em facções (1 Co 1.10—3.23),
revoltada contra a autoridade de Paulo (4.1-21), maculada pela imoralidade
(5.1-13) e por litígios (6.1-8). As suas ceias haviam-se convertido em
glutonarias e bebedices (11.8-34). Doutrinas heréticas eram toleradas até o
ponto de uma negação geral da ressurreição (15.1-8). Nota-se uma melhoria no
intervalo entre a primeira e a segunda epístola, mas ainda estava muito longe
de ser uma igreja estável (2 Co 13.1-10).
8
SOBRE A SEGUNDA VINDA DE CRISTO
Cremos na segunda vinda premilenial de Cristo, em
duas fases distintas. A primeira, invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja
da terra, antes da grande tribulação; a segunda, visível e corporal, com sua
Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (Zc 14.5; 1 Ts
4.16, 17; 1 Co 15.51-54; Jd 14; Ap 20.4).
Há alguns
aspectos a destacar sobre a vinda de Jesus Cristo que formam o alicerce da
doutrina escatológica exarada nas Escrituras Sagradas, das quais não podemos
nos afastar, pelo fato de serem o cerne da doutrina sobre as últimas coisas. Se
não, vejamos:
O fato de sua vinda
O fato da vinda
de Jesus é mencionado mais de trezentas vezes no Novo Testamento. O apóstolo
Paulo refere-se ao evento umas cinqüenta vezes. A vinda de Jesus é uma das mais
importantes doutrinas do Novo Testamento. Assim disse o apóstolo dos gentios:
"Se esperarmos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos
os homens" (1 Co 15.19).
Á maneira de sua vinda
Será de maneira
pessoal (Jo 14.3; At 1.10,11; 1 Ts 4.16; Hb 9.28; Ap 22.7). Há quem discorde da
opinião de que a vinda de Jesus seja literal e pessoal. Outros há que ensinam
que a morte é a segunda vinda de Jesus. A Bíblia mostra, porém, que a segunda
vinda de Jesus não tem nada a ver com a morte, pois os mortos em Cristo
ressuscitarão nessa ocasião. Quando o crente parte para a eternidade, ele vai
para a presença de Deus, mas na vinda de Jesus é Ele que vem para nos buscar
(Fp 3.20,21). Alguns sustentam que a vinda de Jesus foi a descida do Espírito
Santo no dia de Pentecoste. Outros, no entanto, ensinam que Cristo veio no
tempo da destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C.
Nenhuma dessas
afirmações tem base bíblica. Na vinda de Jesus, haverá duas coisas
importantíssimas: a ressurreição dentre os mortos e a transformação dos crentes
que estiverem vivos. Esses dois fatos não ocorreram ainda, mas acontecerão no
dia da vinda de Jesus. (1 Ts 4.16-18).
A vinda de
Jesus, ainda que oculta aos olhos do mundo será literal e pessoal. Isso é possível
porque, após a sua ressurreição, Jesus foi visto diversas vezes pelos
discípulos. Porém, o mundo não o viu sequer uma vez. Enquanto a vinda de Jesus
será motivo de glória para aqueles que o esperam, será de sofrimento e agonia
para os ímpios.
O tempo de sua vinda
Muitos já
tentaram determinar a data da vinda de Jesus, mas em nenhuma delas "o
Senhor veio na hora marcada" pelos homens. Antes, os que tentaram estabelecer
datas ficaram envergonhados pelo fato de Jesus não ter vindo segundo suas
previsões. "Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu
pelo seu próprio poder" (At 1.7).
O dia da vinda
de Jesus não foi revelado a ninguém. É um mistério oculto em Deus que será
revelado somente quando Jesus vier. Nós sabemos como será, mas não sabemos
quando será (Mt 24.36). Segundo o que diz a Escritura, o arrebatamento da
Igreja terá lugar no céu e nas nuvens (1 Co 15.51,52; 1 Ts 4.16). A palavra de
Deus revela-nos que será de forma repentina.
Os destaques da vinda de Jesus
Há uma diferença
entre o arrebatamento e a vinda de Jesus em glória. Primeiro Ele vem para os
seus (Jo 14.3). Depois, Ele vem com os seus (Mt 24.30; Ap 1.7).
O Tribunal de Cristo
Após o encontro
da Igreja com o Senhor Jesus nos ares, por ocasião do arrebatamento (1 Ts
4.17), o povo de Deus que foi arrebatado, já com o corpo glorificado,
comparecerá perante o Tribunal de Cristo (2 Co 5.10), para que as suas obras
realizadas na terra, atra¬vés do corpo, em prol da causa do Evangelho, sejam
aprovadas (1 Co 3.12-15), a fim de que recebam (ou não) galardão.
Em Apocalipse
22.12 está escrito: "E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo
para dar a cada um segundo a sua obra". Paulo faz referência a isso em 2
Timóteo 4.8, quando diz que a "coroa da justiça" lhe será entregue.
Pedro diz que "quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível
coroa de glória" (1 Pe 5.4).
No Tribunal de
Cristo todos os que foram arrebatados — ressuscitados e transformados —, irão
receber galardão "segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou
mal" (2 Co 5.10).
O que será julgado
Não se trata de
julgamento dos pecados, pelo fato de terem sido eles julgados em Cristo por
ocasião de sua morte (1 Jo 1.7; 1 Pe 2.24), pois Jesus não recorda jamais
aquilo que perdoou (Hb 8.12). No Tribunal de Cristo, o julgamento não será de
condenação (Rm 8.1; Jo 5.24), mas da qualidade do trabalho prestado na obra de
Deus (1 Co 3.12,13). Por outro lado, se o ser-viço prestado foi tão-somente
para a glória pessoal, haverá detrimento (1 Co 3.13-15), mas não estará em jogo
a salvação, somente o prejuízo de não se receber galardão (Mt 6.2,5,16).
9
SOBRE O JUÍZO VINDOURO
Cremos no juízo vindouro que recompensarei os fiéis
e condenará os infiéis (Ap 20.11-15).
A segunda vinda
de Jesus, na sua segunda fase, também resultará no grande julgamento final.
Para muitos, essa é uma das perspectivas mais assustadoras com respeito ao
futuro. Mas, enquanto os ímpios entram em perplexidade por causa da esmagadora
realidade do Juízo Final, os cristãos fiéis, ao contrário, aguardam o fato com
alegria e efusivo júbilo.
Os objetivos do Juízo Final
Ao estudarmos
sobre o Juízo Final na Bíblia Sagrada, devemos ter em mente que seu objetivo
não é verificar nossa condição ou estado espiritual, pois Deus já o conhece.
Antes, seu objetivo é manifestar publicamente a nossa condição.
Interpretações
Alguns
interpretam o Juízo Final de forma cíclica, como se os eventos que ocorrem
dentro da história fossem, na realidade, um julgamento sobre o mundo. É de
Friedrich Schelling a idéia de que a história do mundo é o julgamento do mundo.
Contra essa
opinião, a Bíblia tem a dizer o seguinte:
O Juízo Final é um evento definido que ocorrerá no
futuro. Jesus aludiu a ele em Mateus 11.24: "Porém eu vos digo que haverá
menos rigor para os de Sodoma, no Dia do Juízo, do que para ti".
As Escrituras especificam que o julgamento ocorrerá
após a segunda vinda de Cristo. Jesus disse: "Porque o Filho do homem virá
na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas
obras" (Mt 16.27). Essa idéia também é encontrada em Mateus 13.37-43,
24.29-35, 25.31-46 e 1 Coríntios 4.5.
Quando ocorrerá o Juízo Final
De acordo com a
Palavra de Deus, o juízo do trono branco (Ap 20.11,12) acontecerá no
"fim" (1 Co 15.24), após o Milênio, quando a última revolta de
Satanás tiver sido esmagada (Ap 20.10,11).
Deus é juiz (Rm
2.16), mas deu ao Filho o direito de julgar (Jo 5.22,27; At 10.42). Jesus, que
esteve na terra, enviado por Deus como Salvador e com autoridade para perdoar
pecados, agora aparece no Apocalip¬se como Juiz para julgar (1 Pe 4.5). No
julgamento final, a Igreja glorificada terá a sua participação (1 Co 6.2,3).
Haverá
ressurreição dos mortos (Jo 5.28,29). Essa ressurreição é distinta daquela que
se dará no dia do arrebatamento (1 Ts 4.16), pois se trata da ressurreição de
todos os mortos, desde Adão.
Quem comparecerá diante do trono branco
Todos os que morreram
do princípio da criação até o fim do Milênio, ressuscitarão naquele dia e comparecerão
diante do trono branco (Ap 20.11,15) para serem julgados.
O Juiz do trono branco
Embora se fale
em Deus como o Juiz (Hb 12.23), fica evidente, por algumas referências, que Ele
delegará essa autoridade ao Filho. Jesus mesmo disse: "O Pai a ninguém
julga, mas deu ao Filho todo o juízo. E deu-lhe o poder de exercer juízo,
porque é o Filho do Homem" (Jo 5.22,27; cf. At 10.42). Paulo afirma que
Cristo julgará os vivos e os mortos: "Conjuro-te, pois, diante de Deus e
do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e
no seu Reino" (2 Tm 4.1).
Conquanto não
saibamos os detalhes, há referênci¬as claras na Bíblia de que a Igreja tomará
parte do julgamento final. Em Mateus 19.28 e Lucas 22.28-30, Jesus dá a
entender que os discípulos julgarão as 12 tribos de Israel. Também lemos que os
crentes se assentarão em tronos e julgarão o mundo (1 Co 6.2,3; Ap 3.21; 20.4).
Todos os anjos malignos serão julgados
Assim como todos
os ímpios serão julgados (Mt 25.32; 2 Co 5.10; Hb 9.27), todos os anjos
malignos serão julgados nessa ocasião. Pedro escreve que "Porque, se Deus
não perdoou aos anjos que pecaram, mas,havendo-os lançado no inferno, os
entregou às cadei¬as da escuridão, ficando reservados para o Juízo" (2 Pe
2.4). Judas 6 traz uma declaração quase idêntica. Os anjos bons, por outro
lado, participarão do julga-mento, tendo a responsabilidade de reunir todos os
que serão julgados (Mt 13.41; 24.31).
O julgamento do trono branco é irreversível
Uma vez
concluído, o julgamento será permanente e irrevogável. Os justos e os ímpios
serão enviados para as suas respectivas habitações, que serão definitivas. Não
há indício de que o veredicto possa ser mudado. Ao concluir seu ensino sobre o
julgamento final, Jesus disse que os que estiverem à sua esquerda irão
"para o tormento [castigo] eterno", mas os justos ingressarão na
"vida eterna" (Mt 25.46).
10
SOBRE A VIDA ETERNA
Cremos na vida eterna de gozo, de justiça e
felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento para os infiéis (Ap
20.11-15).
Novo Testamento
acentua mais a ressurreição do corpo do que aquilo que acontece imediatamente
depois da morte. A morte continua sendo uma inimiga cruel, mas já não é para
ser temida (1 Co 15.55-57; Hb 2.15). Para o crente, o viver é Cristo e o morrer
é lucro. Isso significa que morrer é receber mais de Cristo (Fp 1.21). Logo,
morrer e estar com Cristo é muito melhor que permanecer no corpo presente,
embora devamos ficar aqui enquanto Deus considera que isso seja necessário (Fp
1.23,24). Depois disso, a morte nos trará o repouso ou cessação das nossas labutas
e sofrimentos terrestres e a entrada na glória (2 Co 4.17; cf. 2 Pe 1.10,11; Ap
14.13). ***
A descrição que
Jesus faz em Lucas 16 sobre o pós-morte é reveladora e de extremo impacto. Em
primeiro lugar, mostra que os destinos tanto dos ímpios quanto dos justos não
poderão ser mudados depois da morte. E, em segundo lugar, que depois da morte
se segue o juízo (Hb 9.27).
O inferno como lugar de tormento eterno
Embora o homem
moderno tenha dificuldades para entender a doutrina bíblica sobre o inferno, as
Escrituras afirmam-lhe uma existência real. Não se trata apenas de um estado
subjetivo da pessoa sem Cristo no além, e sim de um lugar. Muitas passagens
bíblicas dão conta de sua existência como um lugar para onde os ímpios irão (Mt
25.41,46; Mc 9.45,46; Lc 16.19-31; 2 Ts 1.7-9; Ap 20.10; 21.8).
Conforme
Zacarias de Aguiar, o termo mais usado para designar o destino final dos ímpios
sugere uma localidade. A idéia de punição eterna é derivada da palavra hebraica
ge hinnon ("vale de Hinom") e do seu correspondente grego gehenna,
termo que é tra¬duzido por "inferno" e que originalmente indicava um
vale próximo de Jerusalém, o vale de Hinom, onde os pagãos sacrificavam os seus
filhos ao ídolo Moloque. Depois passou a ser um vale onde as impurezas da
cidade eram queimadas diuturnamente, com fogo que nunca se apagava. Assim,
gehenna ("inferno") passou a ser um lugar de imundícies e de
destruição, transformando-se num símbolo do juízo divino. ****
No Novo
Testamento, gehenna é visto como uma "fornalha de fogo" onde
"haverá pranto e ranger de dentes" (Mt 13.42,50), lugar "onde o
seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga" (Mc 9.48). O inferno é lugar
de castigo escatológico de eterna duração (Mt 25.46). É o lugar de castigo para
os ímpios bem como para satanás e os demônios (Mt 25.41), a besta e o falso
profeta (Ap 19.20; 20.10) e também a morte (Ap 20.14). Outras expressões
equivalentes são "fogo eterno", "lago de fogo", "lago
ardente de fogo e enxofre". Inferno, portanto, é um lugar real.
Destinações diferentes
Em Daniel 12.2
lemos: "E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a
vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno" (grifo nosso).
Esse versículo,
como tantos outros pronunciados por Jesus Cristo, no Novo Testamento, revela
que após o julgamento final o destino dos justos será um, e o dos ímpios,
outro. Os justos irão para o descanso eterno, e os injustos, para o tormento
eterno.
Lucas 16 mostra
a irreversibilidade desse fato. O rico, que representa todos aqueles que vivem
para si mesmos, numa total indiferença em relação a Deus e aos apelos do seu
Reino, foi lançado no inferno. Mas Lázaro, representante de todos os que
confiam em Deus e vivem para agradar-lhe, foi para o seio de Abraão. Assim, é
mais do que evidente que haverá diferença de destinação entre os que servem a
Deus e os que não servem. Vejamos isso mais de perto:
O estado final dos ímpios
Segundo Stanley
Horton, o destino final dos ímpios é descrito na Bíblia como algo terrível e
que vai além de toda imaginação. São as "trevas exteriores", onde
haverá choro e ranger de dentes por causa da frustração e do remorso
ocasionados pela ira de Deus (Mt 22.13; 25.30; Rm 2.8,9; Jd 13). É uma
"fornalha de fogo" (Mt 13.42,50), onde o fogo pela sua natureza é
inextinguível (Mc 9.43; Jd 7). Causa perda eterna, ou destruição perpétua (2 Ts
1.9), e a "fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre" (Ap
14.11).
De acordo com o
relato bíblico, a situação dos ímpios é de separação total de Deus. A fé, a
esperança e o amor, que sempre permanecem para nós (1 Co 13.13) faltarão
naquele ambiente. O repouso do qual desfrutaremos nunca estará à disposição
deles e nem a alegria e a paz que nosso Senhor concede àqueles que crêem. Será,
também, um lugar de solidão, excluído da comunhão com Deus. E a amargura e o
ranger dos dentes, bem como sua natureza caída e imutável, impedirão a comunhão
uns com os outros. *****
O estado final dos justos
Há várias
maneiras de notar a condição futura dos justos. A mais comum, obviamente, é
"céu". As palavras para "céu", no hebraico e no grego
(shãmayin e ouranos), são empregadas basicamente de três maneiras na Bíblia: a)
para designar o universo inteiro (Gn 1.1), numa perspectiva cosmológica; b)
como um sinônimo de Deus (Lc 15.18,21) e c) para designar a morada de Deus (Mt
6.9; Jo 14.1-6).
Segundo a
Bíblia, o céu será caracterizado pela remoção de todos os males. Estando com as
pessoas, Deus "limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais
morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras são
passadas" (Ap 21.4). Não apenas as aflições, mas também a própria fonte do
mal, aquele que nos tenta para o pecado, será condenado eterna-mente: "E o
diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a
besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o
sempre" (Ap 20.10). A presença do Deus perfeitamente santo e do Cordeiro
sem mácula significa que no céu não haverá pecado ou mal de espécie alguma.
Sabemos relativamente pouco sobre as atividades dos remidos no céu, mas há uns
poucos lampejos do que será a nossa existência futura. Uma qualidade de nossa
vida no céu será o descanso. O descanso, tal como o termo é empregado em
Hebreus, não é um mero cessar das atividades, mas a experiência de alcançar um
alvo de importância crucial. Assim, há referências freqüentes à peregrinação
pelo deserto na rota para o "descanso" da Terra Prometida (Hb
3.11,18). Um descanso semelhante aguarda os crentes (Hb 4.9-11). O céu, portanto,
será o encerramento da peregrinação do cristão, o fim da luta contra a carne, o
mundo e o diabo. Haverá trabalho a fazer, mas isso não implicará luta para
superar forças contrárias. ******
Um reino de vida eterna
Não será um reino
de imortalidade, porque imortais todos já somos agora. A vida eterna, conforme
referida nas Escrituras, não é apenas a imortalidade. De quem estiver no inferno,
dir-se-á que está na morte eterna. No entanto, essa morte eterna não é
inexistência. Na Bíblia, morte não é sinônimo de inexistência. Estar morto é
estar sem vida. Mas para entendermos isso é preciso que saibamos que, para
Deus, vida não é sinônimo de existência e morte significa alienação da
verdadeira vida que só se vive em Deus e como Deus.
A vida eterna é
a existência em Deus e com Deus para sempre. A morte eterna é a existência fora
de Deus e diferente de Deus para sempre. O inferno da alma será descobrir que a
vida só é vida em Deus e com Deus e ter que assumir uma eterna existência exilada
dessa condição desprezada na história.
BIBLIOGRAFIA
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religião de Jesus. 7. ed. São Paulo: Imago, s.d.
WEGNER, Uwe.
Exegese do Novo Testamento. Sinodal.
*** Horton,
Stanley M. Teologia. Sistemática: uma perspectiva pentecostal
**** Severa,
Zacarias de Aguiar. Manual de teologia sistemática. Ed AD Santos
***** Horton,
Stanley M. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal
****** Erickson,
Millard J. Introdução à teologia sistemática.
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